Mulheres atingidas de 21 estados iniciam processo de formação em parceria com o Ministério das Mulheres

Parceria que se estende a todas as regiões do país ampliará processo de formação para defesa de direitos das mulheres atingidas

Mulheres atingidas de 21 estados do país estiveram reunidas entre os dias 09 e 12 de agosto, na primeira formação nacional do projeto “Formação para igualdade de decisão e poder para as mulheres atingidas por barragens e desastres climáticos”, organizado pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), em conjunto com a Associação Nacional dos Atingidos por Barragens (ANAB), e apoio do Ministério das Mulheres, que contou com a participação de mulheres atingidas por barragens e desastres climáticos.

O primeiro encontro da formação nacional conta com três eixos de formação: a violação dos direitos políticos e sociais das mulheres atingidas, transição energética e a crise climática na perspectiva das mulheres e a construção de arpilleras como metodologia de educação popular.

A parceria inédita com o Ministério das Mulheres é uma conquista, fruto da luta das mulheres atingidas, e contará ainda com 16 encontros estaduais ao longo de um ano, e encerramento com um encontro nacional em 2025, para construção da pauta nacional das mulheres atingidas e fortalecimento de lideranças femininas nos territórios, tendo em vista a intensificação dos eventos climáticos extremos, como as enchentes no Rio Grande do Sul e a seca na bacia Amazônica.

Edneide Arruda, da Secretaria Nacional de Articulação Institucional, Ações Temáticas e Participação Política (SENATP) do Ministério das Mulheres, que acompanhou a formação, destacou que “a parceria estabelecida entre o MAB e o Ministério fortalece uma luta que é histórica e que visa reduzir as desigualdades sociais, mas principalmente eliminar a violência que afeta esse movimento social, e também pensar politica públicas que conceda direitos as mulheres que dele participam”.

Mulheres atingidas em luta pela vida

Atualmente, existem no Brasil mais de 26 mil barragens em todo o território. De acordo com o relatório da Comissão Especial “Atingidos por Barragens”, do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), se constatou que “as mulheres são atingidas de forma particularmente grave e encontram maiores obstáculos para a recomposição de seus meios e modos de vida; […] elas não têm, via de regra, sido consideradas em suas especificidades e dificuldades particulares”, e por isso “têm sido as principais vitimas dos processos de empobrecimento e marginalização decorrentes do planejamento, implementação e operação de barragens”.

“A gente entende que só quando vamos para a luta, a gente consegue garantir minimamente os nossos direitos, e essas mulheres precisam estar organizadas, precisam levantar suas pautas, suas demandas e isso nos ajuda no combate da violência”, explica Missay Nobre, do Coletivo de Mulheres do MAB e coordenação do Movimento em Rondônia. Nos últimos anos, com a construção das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, o estado liderou índices de abuso e violência sexual contra crianças, adolescentes e mulheres, e ainda é um dos que lidera o índice de mulheres vitimas de violência no país.

Para a dirigente, a Amazônia vive um contexto ainda mais complexo, pois “na Amazônia não é qualquer politica que vai nos atender, a gente vive em um contexto de violência extrema, ela não para e vai se renovando, cada vez mais. E as mulheres estão na linha de frente no enfrentamento de quem nos viola: as barragens, do machismo, do patriarcado, dessas estruturas” conclui.

Uma outra situação cada vez mais recorrente em todo o Brasil são os eventos climáticos extremos, intensificados com o agravamento da crise climática, como as enchentes no Rio Grande do Sul, em setembro de 2023 e maio de 2024. De acordo com o relatório Justiça Climática Feminista: um Quadro para Ação (2023) da ONU Mulheres, caso o cenário de aumento de 3°C na temperatura do planeta se concretize, mais de 158 milhões de mulheres e meninas serão levadas à pobreza até 2050.

Maria Aparecida, atingida pela barragem da Lomba do Sabão, localizada no bairro Lomba do Pinheiro em Porto Alegre (RS), tem atuado nas ações de solidariedade e organização das famílias atingidas pelas enchentes na região metropolitana de Porto Alegre, e conta que “foi uma situação nova e muito impactante para as famílias, que não estavam acostumadas a ter situações de perder tudo dentro de casa e sair só com a roupa do corpo, e não serem acolhidas devidamente nos abrigos e pelo poder publico”. Aparecida explica que as mulheres estão entre os mais atingidos “nessa situação tem muitas mulheres, que são chefes de família, então é bem mais difícil para as mulheres, e também com relação aos auxílios que os homens são priorizados” afirma.

Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro

| Publicado 03/03/2023 por Coletivo de Comunicação MAB RS

MAB promove exposição “Arpilleras, bordando a resistência” em Porto Alegre (RS)

Através da arte têxtil, as mulheres do Movimento propõem reflexões sobre violações de direitos humanos relacionadas ao modelo energético brasileiro

| Publicado 22/03/2021 por Movimento dos Atingidos por Barragens - MAB

Dois anos sem Dilma Ferreira; conheça a trajetória de luta da defensora do território amazônico

Conheça um pouco da história da militante do MAB brutalmente assassinada em 22 de março de 2019

| Publicado 05/08/2024 por Amélia Gomes / MAB

II Encontro de Mulheres Atingidas pelo crime da Vale em Brumadinho (MG) acontece em setembro em BH

Atividade contará com a presença de 150 atingidas para debater políticas públicas e reparação integral