Mulheres atingidas de 21 estados iniciam processo de formação em parceria com o Ministério das Mulheres

Parceria que se estende a todas as regiões do país ampliará processo de formação para defesa de direitos das mulheres atingidas

Mulheres atingidas de 21 estados do país estiveram reunidas entre os dias 10, 11 e 12 de agosto, na primeira formação nacional do projeto “Formação para igualdade de decisão e poder para as mulheres atingidas por barragens e desastres climáticos”, organizado pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), em conjunto com a Associação Nacional dos Atingidos por Barragens (ANAB), e apoio do Ministério das Mulheres, que contou com a participação de mulheres atingidas por barragens e desastres climáticos.

O primeiro encontro da formação nacional conta com três eixos de formação: a violação dos direitos políticos e sociais das mulheres atingidas, transição energética e a crise climática na perspectiva das mulheres e a construção de arpilleras como metodologia de educação popular.

A parceria inédita com o Ministério das Mulheres é uma conquista, fruto da luta das mulheres atingidas, e contará ainda com 16 encontros estaduais ao longo de um ano, e encerramento com um encontro nacional em 2025, para construção da pauta nacional das mulheres atingidas e fortalecimento de lideranças femininas nos territórios, tendo em vista a intensificação dos eventos climáticos extremos, como as enchentes no Rio Grande do Sul e a seca na bacia Amazônica.

Edneide Arruda, da Secretaria Nacional de Articulação Institucional, Ações Temáticas e Participação Política (SENATP) do Ministério das Mulheres, que acompanhou a formação, destacou que “a parceria estabelecida entre o MAB e o Ministério fortalece uma luta que é histórica e que visa reduzir as desigualdades sociais, mas principalmente eliminar a violência que afeta esse movimento social, e também pensar politica públicas que conceda direitos as mulheres que dele participam”.

Mulheres atingidas em luta pela vida

Atualmente, existem no Brasil mais de 26 mil barragens em todo o território. De acordo com o relatório da Comissão Especial “Atingidos por Barragens”, do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), se constatou que “as mulheres são atingidas de forma particularmente grave e encontram maiores obstáculos para a recomposição de seus meios e modos de vida; […] elas não têm, via de regra, sido consideradas em suas especificidades e dificuldades particulares”, e por isso “têm sido as principais vitimas dos processos de empobrecimento e marginalização decorrentes do planejamento, implementação e operação de barragens”.

“A gente entende que só quando vamos para a luta, a gente consegue garantir minimamente os nossos direitos, e essas mulheres precisam estar organizadas, precisam levantar suas pautas, suas demandas e isso nos ajuda no combate da violência”, explica Missay Nobre, do Coletivo de Mulheres do MAB e coordenação do Movimento em Rondônia. Nos últimos anos, com a construção das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, o estado liderou índices de abuso e violência sexual contra crianças, adolescentes e mulheres, e ainda é um dos que lidera o índice de mulheres vitimas de violência no país.

Para a dirigente, a Amazônia vive um contexto ainda mais complexo, pois “na Amazônia não é qualquer politica que vai nos atender, a gente vive em um contexto de violência extrema, ela não para e vai se renovando, cada vez mais. E as mulheres estão na linha de frente no enfrentamento de quem nos viola: as barragens, do machismo, do patriarcado, dessas estruturas” conclui.

Uma outra situação cada vez mais recorrente em todo o Brasil são os eventos climáticos extremos, intensificados com o agravamento da crise climática, como as enchentes no Rio Grande do Sul, em setembro de 2023 e maio de 2024. De acordo com o relatório Justiça Climática Feminista: um Quadro para Ação (2023) da ONU Mulheres, caso o cenário de aumento de 3°C na temperatura do planeta se concretize, mais de 158 milhões de mulheres e meninas serão levadas à pobreza até 2050.

Maria Aparecida, atingida pela barragem da Lomba do Sabão, localizada no bairro Lomba do Pinheiro em Porto Alegre (RS), tem atuado nas ações de solidariedade e organização das famílias atingidas pelas enchentes na região metropolitana de Porto Alegre, e conta que “foi uma situação nova e muito impactante para as famílias, que não estavam acostumadas a ter situações de perder tudo dentro de casa e sair só com a roupa do corpo, e não serem acolhidas devidamente nos abrigos e pelo poder publico”. Aparecida explica que as mulheres estão entre os mais atingidos “nessa situação tem muitas mulheres, que são chefes de família, então é bem mais difícil para as mulheres, e também com relação aos auxílios que os homens são priorizados” afirma.

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