No Rio Madeira comunidades cobram atenção diante da seca extrema na Amazônia

Diversas comunidades ribeirinhas por toda Amazônia sofrem impactos da seca. No rio Madeira ribeirinhos passam até 5 dias sem água potável

Estiagem mudou o rio Madeira, de acordo com o Censipam a expectativa é que a seca se prolongue em outubro. Foto: Leandro Morais

O rio Madeira enfrenta a pior estiagem já registrada, o nível das águas chegou a 1,43 metros em Porto Velho (RO), o menor número que se tem registro. Nessa região, conhecida como Baixo Madeira vivem cerca de 5.000 mil pessoas, comunidades ribeirinhas que sofrem os efeitos da seca prolongada. O abastecimento de água em uma parte da capital já está comprometido. Na segunda-feira (02), a hidrelétrica de Santo Antônio, anunciou a paralisação momentânea das atividades devido a seca histórica. Diante deste panorama, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) se reuniu com diferentes ministérios, como o da Integração e Desenvolvimento Regional e Saude, na última quarta-feira (04), em Brasília, para cobrar atendimento das populações atingidas.

Entre as solicitações do Movimento está a distribuição de água mineral as comunidades, distribuição de cestas básicas em caráter emergencial e um auxilio emergencial em virtude das percas das famílias ribeirinhas, agricultores e extrativistas, muitas sem condições atualmente de transportar a produção como o peixe e a farinha.

Márcio Santana, morador de São Carlos enviou um vídeo onde exibe o cenário de deserto que se transformou em cima de onde passa o rio Madeira. “O que hoje me deixa chocado é que em 2008, 2010 já se apresentavam estudos contra essa hidrelétrica [Santo Antônio], por que se imaginava que teriam consequência negativas. E hoje taí hoje essas grandes praias que surgem quando a usina paraliza”, explica no vídeo, Márcio. Não há previsão de quando as operações serão retomadas. 

Praias que se formaram ao longo de todo rio Madeira dificultam a navegação e prejudicam as famílias. Video: Marcio Santana

A nota publicada pela empresa Santo Antônio não condiz com as imagens divulgadas por Márcio. Em um comunicado a empresa afirma que o rio Madeira permanece seguindo seu curso natural, com passagem da vazão concentrada no vertedouro principal da usina, sem qualquer impacto em seu fluxo natural.

A coordenadora do MAB, Débora Nunes, moradora da zona rural a 45 km de Porto Velho, no Baixo Madeira disse que já existem comunidades há 5 dias sem água.

“Aqui onde moramos muitas pessoas utilizam da água do rio Madeira, porém tem lugares que está uma praia e sem nada de água, em alguns lugares tem poço que tá sem água também. Com esses impactos automaticamente fica escasso os peixes e as plantações estão morrendo devido a seca”, denuncia. 

Amazonas

No Amazonas 15 municipios decretaram situação de emergência devido à seca. O rio Amazonas está 7,35 metros abaixo do normal. Os dados fazem parte do informativo da Defesa Civil amazonense e mostram também que os municípios mais afetados estão localizados na Calha do Alto Solimões. Na última quarta-feira (4), a Prefeitura de Manaus (AM) antecipou o ano letivo na rede municipal de ensino de comunidades ribeirinhas, localizadas no Rio Negro.

No final do mês de setembro,  na noite de um sábado (30), aconteceu um desabamento na comunidade do Arumã, no município de Beruri, que fica a 173 quilômetros de Manaus, em estado de alerta neste final de semana. Ao todo, cerca de 200 pessoas foram atingidas pela tragédia. Mais de 40 casas foram atingidas, uma criança morreu, 10 pessoas ficaram feridas e quatro desaparecidas na região

Vista da Vila de Arumã, em Beruri, no Amazonas, após a erosão, fenômeno das “terras caídas” pode ser agravado pela seca prolongada dos rios. Foto: Divulgação/Prefeitura de Beruri

De acordo com os técnicos da Defesa Civil do estado, o deslizamento de barranco é causado pelo fenômeno de “terras caídas”, que acontece principalmente no período de seca dos rios, quando a água atua sobre as margens, causando erosão e abrindo extensas “cavernas subterrâneas”, até que uma ruptura provoque a queda do terreno.

Com a tragédia, a vila, que abrigava mais de quarenta casas, um pequeno porto e uma orla cercada com construções coloridas, desapareceu e deu lugar a um grande buraco de lama.

Belém sob as queimadas

Fumaça de queimadas tem encoberto a região metropolitana de Belém. Foto: Reprodução/Twitter

Próximo a realização de uma das maiores festas religiosas do país e a mais potente no setor turístico para o estado do Pará, o Círio de Nazaré, a região metropolitana da capital que recebe a celebração está quase há uma semana acordando sob uma forte fumaça espessa resultados das queimadas do Lixão do Aurá. De acordo com a população que vive no entorno, as chamas surgiram no último sábado (30), e desde então têm causado problemas devido à densa fumaça resultante da queimada.

As atividades na escola municipal localizada em Santana do Aurá, onde estudam 160 alunos, de 5 a 12 anos, precisaram ser canceladas ontem. Como os focos de incêndio ainda não foram debelados, alguns moradores optaram por sair de suas residências e buscar abrigo com parentes. No entanto, muitos não tiveram a mesma sorte e precisam lidar com os transtornos no local.

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