Espaço Ciranda do MAB promove atividades lúdicas com crianças da Bacia do Paraopeba sobre a saúde em territórios atingidos por barragens
Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social de Minas Gerais (AEDAS) coordenaram espaço infantil durante Conferência sobre Saúde
Publicado 05/04/2023 - Atualizado 05/04/2023
No último sábado, 01, durante a Segunda Conferência Livre de Saúde dos Atingidos e Atingidas, que foi organizada pelo MAB, em Betim (MG), um espaço dedicado às crianças contou com discussões e programação infantil inspirada na temática do evento ” A saúde da pessoa atingida: viver em ambiente contaminado”.
O evento aconteceu no bairro Citrolândia, que fica às margens do Rio Paraopeba. Em paralelo à programação oficial do encontro, o espaço da Ciranda Infantil reuniu 17 crianças atingidas com idades entre 3 e 12 anos.
A programação incluiu rodas de conversa a respeito dos efeitos do rompimento da barragem do Córrego do Feijão (que aconteceu em Brumadinho, em 2019) para a saúde das pessoas, dos animais e para o meio ambiente em todo o território da Bacia do Paraopeba até os dias de hoje.
Leia também
Nesse contexto, os educadores e assessores técnicas da AEDAS promoveram, junto às crianças, reflexões sobre os danos sentidos por elas na época do rompimento, bem como os efeitos das chuvas e enchentes ocorridas durante os meses de janeiro dos anos de 2021 e 2022, que ocasionaram novas perdas e riscos para os moradores da região. As crianças utilizaram o momento para relatar os medos e anseios sentidos durante esses eventos. Também falaram sobre as consequências que permanecem ao longo do tempo, como a contaminação das árvores frutíferas de seus quintais, que não dão mais frutos desde o momento que entraram em contato com a água do rio contaminada por minério. Além disso, elas contaram sobre a perda de animais de criação e do próprio quintal como um espaço natural de lazer.
Depois desse momento inicial, elas foram convidadas a registrar seus relatos pintando e desenhando como percebem suas vidas e de suas comunidades antes e depois do rompimento da barragem e/ou das enchentes. A atividade se baseou no trabalho realizado pelo MAB com as mulheres atingidas utilizando a técnica da Arpillera, técnica de bordado utilizada pelas mulheres do MAB para denunciar situações de violações de direitos humanos. No caso das crianças, foram utilizados materiais como giz pastel e tecido de algodão cru para trazer à tona detalhes únicos dos danos apontados por cada uma delas.
A Ciranda teve também espaços lúdicos voltados para a interatividade e lazer das crianças. Outra atividade do dia foi a contação de história que envolvia uma trama sobre a contaminação da água e das pessoas do Quilombo Liberdade e da participação ativas das crianças Gil, Dara e Luiz na busca por respostas sobre o que estava causando tais danos. Por meio de diálogos instigado pelos facilitadores, as crianças refletiram sobre os riscos da contaminação para a saúde e o meio ambiente, aprenderam algumas maneiras de como realizar uma pesquisa com dados confiáveis para compreender o que tinha acontecido na comunidade quilombola e, por fim, entenderam quais as etapas necessárias para reivindicar os direitos que lhes foram retirados por causa da contaminação.
No final, as crianças fizeram a ligação da história contada com o fato vivenciado por elas, expressando suas impressões sobre essa conexão com uma série de registros como cartazes, zines e desenhos. Além disso, produziram a “Carta unificada das crianças atingidas” com as medidas e demandas elencadas por elas. Entre as demandas elencadas foram mencionadas a necessidade de se construir mais hospitais, se disponibilizar mais vacinas, paralisar a atividade da mineração para que não se contamine mais as pessoas, não poluir os rios etc. As crianças também descreveram nesse documento as suas pautas e ações necessárias para uma reparação justa e que as inclua e as enxergue enquanto sujeitos de direito e como sujeitos que participam ativamente de todo esse processo de luta. A carta foi entregue pelas crianças ao final da plenária da Conferência dos adultos às delegadas eleitas no evento para levar a pauta geral a 17ª Conferência Estadual de Saúde.