MAB Participa da 94ª Procissão Marítima de São Pedro em Vitória (ES)

No último domingo, 03, a comunidade de pescadores da Praia do Suá realizou a 94ª Procissão Marítima em homenagem à São Pedro, o padroeiro dos pescadores, em meio à protestos contra a Vale e a Fundação Renova

Foto: Karini Bergi

Cerca de 200 barcos desfilaram pelo canal de Vitória na edição 2022 da Procissão Marítima de São Pedro. Durante o evento tradicional que acontece em homenagem ao padroeiro dos pescadores, a comunidade da Praia do Suá aproveitou o momento de fé para protestar. Durante a bênção dos anzóis os pescadores lembraram do crime ambiental da Samarco/Vale/BHP Billiton ocorrido em 2015, que provocou o despejo de rejeitos da mineração no Rio Doce e matou 19 pessoas.

Para denunciar o descaso das mineradoras com os atingidos que seguem sem reparação, os barcos levaram faixas e cartazes apontando os prejuízos socioeconômicos para o setor, além da transformação drástica no modo de vida da comunidade.

A pesca é uma das atividades mais tradicionais do estado e do Brasil e está ligada à cultura e ao desenvolvimento do Espírito Santo, embora seja uma atividade marginalizada. “Apesar da importância cultural e gastronômica de pratos como a moqueca e o camarão, pouco se discute ou se sabe sobre a situação de trabalho no setor da pesca. Al´ém disso, enquanto os empregos gerados pelos grandes empreendimentos são supervalorizados, desconsidera-se a quantidade de riqueza e postos de trabalho que o setor da pesca gera no Estado. Por isso, a ela é sempre desfavorecida diante de qualquer outro setor produtivo como o industrial, o petrolífero ou o portuário”, afirma Heider José Boza, integrante da coordenação do MAB.

Embora boa parte dos pescadores tenha recebido uma indenização das empresas criminosas, os trabalhadores da cadeia de apoio à pesca (mecânicos, eletricistas, peixarias e beneficiadores) não foram considerados no programa de reparação. “Hoje, eles amargam o prejuízo acumulado de seis anos e sem previsão de melhora já que o ambiente segue contaminado e a pesca proibida na maior parte dos territórios tradicionais”, acrescenta Heider.

O proprietário e mestre de embarcação Joleto Francisco Valgas explica que mesmo quem já foi contemplado com a indenização está na luta pelos trabalhadores que seguem sem serem reconhecidos como atingidos. “Com o apoio do MAB e do SINDIPESMES e da população de Vitória, estamos aqui para lutar pelos direitos das pessoas que foram atingidos pelo crime do Rio Doce. Nós, pescadores, fomos reconhecidos mas estamos aqui lutando pelo reconhecimento da cadeia produtiva da pesca, que a Renova prometeu que resolveria após os pescadores.”

Os pescadores relatam que a luta pela reparação integral deste que é o maior crime ambiental da história do país é longa e cansativa. “Ter que enfrentar a Vale – que comete seus desmandos através da sua testa de ferro Fundação Renova e com a anuência de setores do Judiciário – também é uma tarefa inglória, afinal de contas, trata-se de uma das maiores empresas de mineração do mundo”, complementa Heider.

O coordenador explica, porém, que algumas pautas do Movimento têm avançado após anos de luta dos atingidos. Um exemplo é a saída do Juiz Mario de Paula do caso e o fim da quitação geral em alguns territórios, com o novel sendo aceito como piso mínimo e o retorno do auxílio financeiro emergencial para algumas categorias.

“Do Rio ao Mar, não vão nos calar!”

#SomosTodosAtingidos #ValeAssassina

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