Movimentos sociais, sindicatos e frentes populares realizaram ato de protesto contra a venda da maior empresa de energia do país em frente à Bolsa de Valores, em São Paulo
Publicado 14/06/2022 - Atualizado 14/06/2022
Nesta terça-feira, 14, o governo Bolsonaro celebrou o “Toque de Campainha”, que oficializou a venda das ações da Eletrobras na Bolsa de Valores (B3) em São Paulo – SP. Durante o evento, movimentos sociais realizavam ato de protesto em frente à Bolsa, denunciando os efeitos nefastos da privatização para o povo: tarifaço de 20% na conta de luz residencial e perda da soberania brasileira sobre o setor, além do aumento do risco de apagões e crimes ambientais.
“Quem privatizou a Eletrobras é o Governo Bolsonaro. Quem será privilegiado é o capital internacional, especialmente os bancos e fundos especulativos que assumiram o controle da empresa. Quem será atingido violentamente é o povo brasileiro por meio da conta de luz”, afirma Gilberto Cervinski, coordenador do Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB.
Segundo o dirigente, o governo está realizando uma manobra para aplicar o aumento da tarifa após o mês de outubro. “Desde o começo do processo, temos denunciado as principais consequências da privatização. Hoje, a Eletrobras vende sua energia a 70 reais por 1.000 kWh, que passarão a custar 300 reais, quando começarem a ser praticados os valores mercado. Esse tarifaço será repassado ao consumidor após as eleições presidenciais”, explica Gilberto.
As organizações sociais também alertam que a privatização irá causar demissões em massa por conta do extraordinário aumento na conta de energia, que já é uma das mais caras do mundo. Isso deve agravar a crise econômica atual e gerar a falência de pequenas e médias empresas, reduzindo significativamente os postos de trabalho no país.
De acordo com a coordenação do MAB, soma-se à questão econômica o aumento de violações de direitos humanos e crimes socioambientais que são praticados no país por empresas privatizadas, como é o caso dos rompimentos de barragem da Vale em Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais.
A mobilização de hoje foi organizada pelo MAB, pelo Coletivo dos Eletricitários e pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo. Também foram realizados atos contra a operação em outras capitais do país.
Entrega do patrimônio público ao capital internacional
A privatização da estatal teve início ontem, 13, com a venda das primeiras ações numa operação de capitalização coordenada por grupos internacionais como o Bank of America, Goldman Sachs, Citi, Credit Suisse, J.P. Morgan, Morgan Stanley e Safra, além de grupos nacionais, tais como a BTG Pactual, Itaú BBA, XP Investimentos, Bradesco BBI e Caixa Econômica Federal.
“Ao longo dos últimos 60 anos, os brasileiros pagaram todo mês uma parcela da Eletrobras através de tarifas da conta de energia. Por isso, a privatização é um ataque à soberania nacional e ao povo e provocará desindustrialização e desemprego no país”, afirma Fernando Fernandes, integrante da coordenação do MAB.
Ao todo, a Eletrobras controla hoje 125 usinas com capacidade de 50 mil megawatts, 71 mil quilômetros de linhas de transmissão e 335 subestações de eletricidade, operadas por 12.500 trabalhadores altamente qualificados. De acordo com o Dieese, a empresa alcançou investimentos em torno de R$ 200 bi entre 2000 e 2021.
“Ter empresas públicas no setor energético contribui para a geração de empregos, para a prática de tarifas mais baixas e para a execução de programas sociais que levam luz e dignidade para todos”, defende Leonardo Maggi, que também é coordenador do MAB.
As lideranças dos movimentos sociais envolvidos no ato de hoje afirmaram que seguem na luta pela reversão do processo de privatização. “A luta agora é pra frente pra reverter e reaver todo o sistema Eletrobras, tornando a empresa 100% pública. Só assim vamos conseguir interromper esse processo de ´“re-colonização do país”, finaliza Cervinski.