Chuvas e deslizamentos em Ouro Preto aumentam o medo de rompimento de barragem da Vale

Justiça decidiu pela remoção imediata de cinco famílias do entorno da Barragem Doutor

Vista aérea da Barragem Doutor, de propriedade da Vale, que tem nível de risco 1 e fica no distrito de Antônio Pereira, em Ouro Preto (MG)

A juíza da Comarca de Ouro Preto, Ana Paula Pereira, determinou, no último dia 10, a retirada imediata de cinco famílias que moram na Zona de Autossalvamento (ZAS) da barragem Doutor, em Ouro Preto. A estrutura de propriedade da mineradora Vale fica no distrito de Antônio Pereira e tem nível de risco 1.

A população do distrito está em estado de alerta por conta do medo do  rompimento barragem, que foi construída através do método de alteamento a montante. Essa é a mesma técnica utilizada na barragem da Mina Córrego do Feijão (de propriedade Vale), que se rompeu em 2019, em Brumadinho (MG), e da barragem do Fundão (de propriedade da Samarco / Vale / BHP Billiton), que se rompeu em 2015, em Mariana (MG).

O texto da decisão judicial sobre a retirada da população diz que “o período chuvoso inaugurou o ano provocando interdições parciais e totais em várias rodovias mineiras, com enchentes que provocaram inundações em diversos municípios, havendo alto risco de deslizamentos e inundações em várias regiões do Estado de Minas Gerais, bem como iminente agravamento de risco da situação das barragens”. Na decisão também há um informe da defesa civil alertando sobre o momento de risco de rompimento.

As obras de descomissionamento da barragem Doutor, que fica na mina de Timbopeba, tiveram início em fevereiro de 2020, mas o vertedouro construído com a função de descarregar a água e garantir a segurança da estrutura desmoronou no último mês de outubro, após um período de chuvas. Depois do incidente, os atingidos se sentem inseguros com relação às obras construídas pela empresa (Vale).

No início deste ano, as fortes chuvas que atingiram a região provocaram vários deslizamentos, inundações e interdição de estradas e uma morte por soterramento no município, que está em situação de emergência. No mesmo dia em que um deslizamento de grande proporção destruiu um casarão histórico na cidade, a barragem Área IX, da Mina da Fábrica, de propriedade da Vale, também nos limites do município, subiu de nível 1 para o nível 2 de emergência.

Por isso, os atingidos de Ouro Preto cobram por medidas urgentes que garantam a segurança das barragens localizadas no município, especialmente da Barragem Doutor. De acordo com a coordenadora do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Lina Anchieta, é urgente a realização  de uma vistoria na Barragem de Doutor para dar maior tranquilidade para a comunidade a partir da divulgação de informações mais claras e independentes sobre a estrutura. “É necessária a imediata implementação da Assessoria Técnica Independente dos atingidos, além da retirada de mais famílias que se sentem inseguras morando próximas à estrutura”, afirma Lina.

O MAB afirma ainda que os rompimentos são previsíveis considerando-se o modelo de mineração vigente. “Acabamos de assistir ao transbordamento da barragem da mina Pau Branco de propriedade da mineradora Vallourec. Não queremos que outro crime aconteça. Por isso, os atingidos seguem denunciando a situação e reivindicando o direito à segurança e à dignidade em seus territórios”, defende Lina.

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