Mais de quarenta atingidas estiveram em encontro online debatendo a luta e a mística das mulheres na organização popular
Publicado 02/08/2021 - Atualizado 02/08/2021
“Tá caindo fulô, ê, ta caindo fulô
Tá caindo fulô, ê, ta caindo fulô
Lá do céu cá na terra, ê ta caindo fulô”
Foi com o canto energizante de uma mulher inspiradora, Eva do Arerê, que se iniciou o Encontro Regional das Mulheres Atingidas no último sábado (31). Mais de quarenta atingidas da região metropolitana de Belo Horizonte se reuniram com o objetivo de reforçar a importância das mulheres na luta, com organização e união. Estavam presentes mulheres atingidas das cidades de Brumadinho, Betim, São Joaquim de Bicas, Juatuba, Belo Horizonte e Congonhas, além de parceiras de luta representando organizações, movimentos sociais, sindicatos e partidos políticos.
Durante um debate, elas relataram as dificuldades do cotidiano, nas regiões atingidas pelo rompimento das barragens do complexo Mina Córrego do Feijão, na Bacia do Rio Paraopeba, e nas cidades com risco de rompimento de barragens da região. “Ser atingida por barragem é ter a sua vida invadida pelos que detém o poder econômico”, afirmou Lilian Paraguai, atingida de Brumadinho.
Durante o encontro, foi reafirmado a importância das mulheres no processo organizativo da luta popular. De acordo com as presentes, as mulheres são as mais atingidas pelo modelo econômico exploratório vigente e as que mais se mobilizam pela garantia dos direitos dos atingidos e atingidas nos processos políticos de reparação.
“Ser uma mulher atingida exige coragem e resistência! É ter fé implacável, apesar dos inúmeros desafios. É principalmente pensar e agir sempre pela constituição de um modelo econômico mais justo. É saber que os sofrimentos são nossos pilares para sermos mais fortes, para permanecemos unidas e mais organizadas na luta”, disse Laíssa Flor, da coordenação regional do MAB.
O encontro também lembrou a história da origem das “arpilleras”, técnica de bordado usada pelas mulheres chilenas como forma de denúncia às violações sofridas na ditadura. As obras ganharam o mundo expondo as violações e a metodologia se tornou uma importante ferramenta na luta em vários países da América Latina. Mulheres atingidas organizadas no MAB tem utilizado a metodologia para contar suas histórias de vida e de luta e fortalecer a organização popular. Durante os encontros para produção das “arpilleras” as mulheres atingidas se reconhecem como protagonistas das lutas, bordam suas histórias e costuram laços de amizade e de mobilização do povo.
“Hoje, enquanto mulher atingida por barragem, aprendi muito com o MAB, pois passei a observar como nós mulheres somos excluídas em alguns lugares. Hoje, quando me sinto excluída eu dou o grito: estou aqui, sou mulher, sou ser humano”, ressaltou Dinalva Leal, atingida de São Joaquim de Bicas.
É neste esforço de celebrar a vida e a luta em tempos difíceis que as mulheres se encontram, mesmo por meios virtuais. Na despedida, os sorrisos refletem a esperança renovada e a alegria de construírem juntas suas histórias.