Encontro promove troca de experiências entre mulheres atingidas por barragens da região metropolitana de Belo Horizonte (MG)

Mais de quarenta atingidas estiveram em encontro online debatendo a luta e a mística das mulheres na organização popular

“Tá caindo fulô, ê, ta caindo fulô

Tá caindo fulô, ê, ta caindo fulô

Lá do céu cá na terra, ê ta caindo fulô”

Foi com o canto energizante de uma mulher inspiradora, Eva do Arerê, que se iniciou o Encontro Regional das Mulheres Atingidas no último sábado (31). Mais de quarenta atingidas da região metropolitana de Belo Horizonte se reuniram com o objetivo de reforçar a importância das mulheres na luta, com organização e união. Estavam presentes mulheres atingidas das cidades de Brumadinho, Betim, São Joaquim de Bicas, Juatuba, Belo Horizonte e Congonhas, além de parceiras de luta representando organizações, movimentos sociais, sindicatos e partidos políticos.

Durante um debate, elas relataram as dificuldades do cotidiano, nas regiões atingidas pelo rompimento das barragens do complexo Mina Córrego do Feijão, na Bacia do Rio Paraopeba, e nas cidades com risco de rompimento de barragens da região. “Ser atingida por barragem é ter a sua vida invadida pelos que detém o poder econômico”, afirmou  Lilian Paraguai, atingida de Brumadinho.

Durante o encontro, foi reafirmado a importância das mulheres no processo organizativo da luta popular. De acordo com as presentes, as mulheres são as mais atingidas pelo modelo econômico exploratório vigente e as que mais se mobilizam pela garantia dos direitos dos atingidos e atingidas nos processos políticos de reparação.

“Ser uma mulher atingida exige coragem e resistência! É ter fé implacável, apesar dos inúmeros desafios. É principalmente pensar e agir sempre pela constituição de um modelo econômico mais justo. É saber que os sofrimentos são nossos pilares para sermos mais fortes, para permanecemos unidas e mais organizadas na luta”, disse Laíssa Flor, da coordenação regional do MAB.

O encontro também lembrou a história da origem das “arpilleras”, técnica de bordado usada pelas mulheres chilenas como forma de denúncia às violações sofridas na ditadura. As obras ganharam o mundo expondo as violações e a metodologia se tornou uma importante ferramenta na luta em vários países da América Latina. Mulheres atingidas organizadas no MAB tem utilizado a metodologia para contar suas histórias de vida e de luta e fortalecer a organização popular. Durante os encontros para produção das “arpilleras” as mulheres atingidas se reconhecem como protagonistas das lutas, bordam suas histórias e costuram laços de amizade e de mobilização do povo.

“Hoje, enquanto mulher atingida por barragem, aprendi muito com o MAB, pois passei a observar como nós mulheres somos excluídas em alguns lugares. Hoje, quando me sinto excluída eu dou o grito: estou aqui, sou mulher, sou ser humano”, ressaltou Dinalva Leal, atingida de São Joaquim de Bicas.

É neste esforço de celebrar a vida e a luta em tempos difíceis que as mulheres se encontram, mesmo por meios virtuais. Na despedida, os sorrisos refletem a esperança renovada e a alegria de construírem juntas suas histórias.

Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro

| Publicado 24/04/2021 por Movimento dos Atingidos por Barragens - MAB

Uma “primavera feminista” no outono: saiba como foi o 2º Encontro Nacional de Mulheres do MAB

Evento reuniu cerca de 400 atingidas de diferentes regiões do país em debate sobre os desafios e as conquistas das lutas das mulheres do movimento

| Publicado 23/01/2021 por Coletivo de Comunicação MAB MG

Mulheres atingidas estão na linha de frente na denúncia dos crimes da Vale; leia depoimentos

Depoimentos de mulheres atingidas mostram consequências do crime da Vale em Brumadinho, dois anos após rompimento da barragem

| Publicado 07/12/2022

Quase quatro anos após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, mulheres da Bacia do Paraopeba realizam encontro em Betim (MG)

Mulheres relatam que são atingidas de forma desproporcional pelos efeitos de um dos maiores crimes ambientais da história do Brasil