Câmara dos Deputados aprova MP da privatização da Eletrobras que vai aumentar a tarifa de energia para os brasileiros

Texto da Medida Provisória segue para o Senado. Se for aprovado, o governo perde o controle sobre o setor energético brasileiro e a população deve arcar com o custo maior da conta de luz e possíveis apagões

Na noite da última quarta, 19, o Plenário da Câmara dos Deputados aprovou a Medida Provisória (MP) 1.031, que permite a privatização da Eletrobras, principal empresa de energia do País, através da venda de ações do governo na Bolsa de Valores. A venda da estatal deve resultar em contas de luz até 20% mais caras para a população, além da possibilidade de novos apagões como os que aconteceram recentemente depois da privatização da Companhia de Eletricidade do Amapá.

Privatização do setor elétrico pode resultar em precarização da produção e distribuição de energia no país. Foto: Alexandre Marchetti /ItaipuBinacional

Foram 313 votos favoráveis, 166 contrários e cinco abstenções.  O texto segue agora para o Senado.  Na prática, se aprovada, a medida vai permitir que o Governo entregue o controle da estatal para o setor privado, perdendo-se a soberania energética do Brasil. Com isso, a companhia passa a ter fins lucrativos, praticando tarifas mais caras para a população.

De acordo com Dalila Calisto, da Coordenação Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens, a aprovação da MP é um golpe contra a classe trabalhadora brasileira. “Veja que a maior empresa de energia do país e de toda a América Latina, que representa um grande patrimônio público do povo brasileiro construído há quase seis décadas, está sendo posta à venda pelo governo federal, em plena pandemia, sem que a população brasileira compreenda do que se trata essa MP. Isso acontece sem a garantia de qualquer consulta e participação do povo”, argumenta a coordenadora.

“Estamos falando de umas das empresas públicas mais importantes do país e da América Latina, que tem uma importância central quando pensamos em qualquer política de desenvolvimento industrial e social para o Brasil no futuro.

Além de tudo isso, nós já sabemos concretamente no que resultará essa privatização: novos apagões, racionamentos, “tarifaços” na conta de luz e mais crimes socioambientais, rompimentos de barragens e contaminação dos rios. É um cenário de probabilidade de mais tragédias no Brasil, onde o direito à energia elétrica e à água potável dos trabalhadores fica sob ameaça”, complementa Dalila.

Entenda como irá funcionar a privatização da Eletrobras e suas consequências

Se aprovada, a Medida Provisória da Eletrobras deve significar um aumento de tarifa de cerca de 20% nas contas de luz das residências. A estimativa é feita pela Plataforma Operária e Camponesa para Água e Energia e pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) com base em dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).

Atualmente, a Eletrobras é vinculada ao Ministério de Minas e Energia, sendo que 62% das ações da companhia pertencem ao governo.  A proposta enviada ao Congresso Nacional prevê a venda de parte destas ações na Bolsa de Valores, de modo a diluir a participação da União no capital social da estatal.

Segundo Fabíola Latino Antezana, diretora Coletivo Nacional dos Eletricitários(CNE), “vender a Eletrobras significará a privatização de 125 usinas de geração (51.125 MW), sendo 80% de base hidráulica, 71.000 quilômetros de linhas de transmissão e 366 subestações de energia elétrica”. 

A privatização da estatal será acompanhada da assinatura de novos contratos de concessão para as usinas hidrelétricas por 30 anos. Esses novos contratos permitirão que que a companhia comercialize a energia produzida a preços de mercado, e não mais por uma tarifa regulada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), como acontece hoje. Atualmente, a maior parte destas usinas da Eletrobras vendem sua energia a um custo menor que as empresas privadas. Os dados da ANEEL revelam que o preço atual de venda da energia produzida por suas hidrelétricas é de R$ 65,30/1.000 kWh, enquanto as usinas privadas cobram o valor de mercado, que é em média R$ 250,00/1.000 kWh.

Fernando Fernandes da coordenação nacional do MAB ressalta que, ao se privatizar a Eletrobras, esta será autorizada a repassar essa diferença de R$ 185,00/1.000 kWh para os consumidores nas contas de luz em aumentos futuros. “Além de limitar o acesso da parte da população mais vulnerável do país a esse serviço essencial, esse aumento na tarifa de energia pode prejudicar a recuperação de pequenas e médias empresas no período da pós pandemia. Na verdade, neste momento, o governo precisaria apoiar a retomada econômica, especialmente de pequenos negócios e não criar novos entraves”, declara Fernando.

Além deste aumento de tarifa, o país também corre o risco de ter a qualidade da distribuição da energia prejudicada e viver apagões energéticos. Fernando cita como exemplo o apagão no Amapá, que deixou a população do estado sem luz por 22 dias. “Em menos de 10 anos de controle privado a Subestação de Macapá explodiu, incendiou e colapsou. O fato é que o apagão revelou um problema estrutural do modelo energético brasileiro.

Os serviços privatizados reduzem investimentos, cobram caro pela energia, não entregam a qualidade do serviço prometido e com o tempo, o sistema entra em colapso”.

Ao final do episódio, o conserto teve que ser realizado por empresas públicas que também custearam R$ 360 milhões em contratação de 150 MW médios de energia térmica por até 180 dias.

Esta é a segunda vez que o governo tenta privatizar a Eletrobras. A primeira ocorreu em 2018, na gestão Michel Temer, que enviou à Câmara dos Deputados o PL 9463/18 que acabou não sendo votado. Foi nesta época que a Aneel divulgou a estimativa de aumento tarifário em

Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro

| Publicado 15/06/2021

Quatro mentiras sobre a privatização da Eletrobras

Ao contrário do que diz o governo, a tarifa vai subir e apagões serão cada vez mais prováveis se a Eletrobras for privatizada, avaliam especialistas

| Publicado 21/06/2021 por Fabíola Latino Antezana / CNE, Gilberto Cervinski - Coordenação Nacional do MAB

Privatização da Eletrobras causará 25% de aumento na energia

Além do tarifaço, privatização vai causar queda na qualidade da energia e possíveis apagões

| Publicado 21/06/2021 por Coletivo Nacional de Comunicação do MAB

Câmara dos Deputados aprova a entrega Eletrobras para a iniciativa privada

Com a aprovação da Medida Provisória 1031/21, governo Bolsonaro irá se desfazer de uma das maiores empresas de energia elétrica do mundo, com aval do Congresso Nacional. A previsão é de aumento de cerca de 20% na tarifa de energia