“Serão eleições competitivas”, afirma o professor Igor Fuser sobre pleito da Assembleia Nacional na Venezuela
Para o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC Igor Fuser, a nova composição da Assembleia Nacional na Venezuela deixa para trás o passado confuso protagonizado pelo opositor Guaidó e abre possibilidade de novas negociações para abrandamento do bloqueio internacional
Publicado 06/12/2020 - Atualizado 06/12/2020
Neste domingo (6), a Venezuela irá realizar eleição para nova composição da Assembleia Nacional, que é uma casa com funcionamento semelhante ao Congresso Nacional brasileiro.
Serão eleitos 277 deputados, dos mais de 14 mil candidatos inscritos, sendo 52% escolhidos por esquema de listas enviadas pelos partidos, e 48% por voto nominal.
As eleições no país vizinho não são obrigatórias. Com a pandemia do coronavírus, é possível que parte da população venezuelana faça a opção de ficar em casa e se abster da votação para evitar exposição ao risco de contágio. Mesmo assim, a expectativa é de que o número de eleitores ultrapasse os cinco milhões, segundo informações das agências internacionais de notícias.
A última legislatura da Assembleia Nacional foi de maioria opositora, de direita. Representantes dos quatro maiores partidos de oposição presidiram o parlamento e utilizaram o espaço, em alinhamento com os Estados Unidos, para promover ainda mais sanções econômicas contra o país, com o objetivo de tentar desestabilizar o governo de Nicolás Maduro.
Em entrevista ao Movimento dos Atingidos por Barragens, o professor de Relações Internacionais na Universidade Federal do ABC (UFABC) Igor Fuser ponderou os elementos que compõe hoje o cenário político venezuelano como o bloqueio enconômico
Para Fuser, esta eleição é segura e não há sombras de possibilidade de que ocorra algum tipo de fraude, já que o sistema eleitoral venezuelano é bastante seguro (com dupla votação em urna eletrônica e cédula de papel) , e o próprio governo de Nicolás Maduro convocou diversas organizações internacionais, inclusive oposicionistas, para fiscalizarem o processo eleitoral, como é o caso da OEA (Organização dos Estados Americanos) que não reconhece a democracia do país.
A renovação da Assembleia Nacional venezuelana pode ser uma nova possibilidade de diálogo com setores internacionais que romperam relações com o país e promovem o bloqueio econômico que deixa a população desabastecida de vários tipos de insumos, como no caso mais grave, a falta de remédios, na opinião do professor.
Além disso, a eleição do democrata Joe Biden terá um peso importante para iniciar a alteração deste quadro, já que Biden sinalizou que, apesar de não legitimar o governo de Maduro, é contrário a métodos violentos de sanções contra o país. “Temos uma pequena luz ao final do túnel”, diz o Fuser.
Atualmente, a Assembleia Nacional possui 167 deputados; o governo venezuelano aumentou o número de cadeiras para este pleito para 277, o que é denunciado como fraude pela oposição, alegando que o país está em crise e que a medida é uma espécie de manobra para ampliar o chavismo na casa. O governo, por meio do CNE (Conselho Nacional Eleitoral), rebate as críticas ponderando a necessidade da mudança.
Em agosto, um conjunto de partidos da oposição havia ameaçado um forte boicote às eleições, porém, quem, de fato, permaneceu apostando contra, e ficará de fora do jogo neste domingo (6) será a extrema direita que convocou a população a participar de um plebiscito para o reconhecimento da eleição.
“A partir deste domingo, com a eleição, não haverá mais pretexto para o bloqueio, e essa figura do Guaidó vai ficar sem base nenhuma de sustentação porque nem mesmo o título de delegado mais ele terá, já que preferiu nem se candidatar”, prevê Igor Fuser.