Sem tempo a perder, Atingidos por Barragens se organizam nos territórios em uma grande rede de solidariedade

Leonardo Fernandes/MAB

Desde o começo do isolamento social por conta da pandemia do COVID-19, o Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB – tem atuado em duas frentes principais: a formulação propostas de medidas emergenciais que atendam às necessidades de sua base social, que também representa a maioria da população trabalhadora; e a ativação de redes de solidariedade em diversos estados do país, para acompanhar e dar soluções imediatas aos problemas das comunidades mais pobres.

No Espírito Santo, a campanha “Solidariedade constrói direitos e salva vidas” reúne diversos movimentos sociais com o objetivo de arrecadar fundos para a aquisição e distribuição de cestas básicas. Os alimentos serão destinados aos atingidos e atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (2015).

Heider Boza, da coordenação do MAB no estado, explica que um levantamento preliminar deu conta de cerca de 300 famílias que teriam perdido suas atividades produtivas, como a pesca, o turismo, o artesanato, a agricultura, e que ainda não tiveram algum tipo de reparação financeira por parte da Fundação Renova. As primeiras doações já aconteceram no último sábado, em Vitória. 

“Essa campanha é importante porque reúne os aliados políticos todos nessa tarefa de prestar solidariedade a essas pessoas e também coloca para a sociedade a situação dos atingidos, de vulnerabilidade anterior à pandemia, por consequência do crime, e agora com essa nova situação que se apresenta”, afirma.

Outra tarefa que tem sido desenvolvida pelos capixabas é a orientação e acompanhamento da população que tem dificuldades para acessar aos benefícios dos governos estaduais, federal e prefeituras.

“A gente tem se dedicado a divulgar as informações sobre o auxílio emergencial entre esses atingidos e construindo outras formas de intervenção, como a proposição de projetos de lei ao legislativo estadual para garantir a isenção de tarifas de serviços básicos a essa população”, conta Boza.

No Rio Grande do Sul, uma frente ampla com 29 entidades tem se encarregado de tarefas primordiais em meio à pandemia do COVID-19. Grasiele Berticelli conta que, em parceria com instituições públicas de ensino da região do Alto Uruguai, foi ativada uma produção de álcool etílico glicerinado 70%, batas hospitalares descartáveis, protetores faciais, que estão sendo destinados aos hospitais de Erechim, às secretarias de saúde e às Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da região.

O chamado “Movimento em defesa da democracia, da educação pública e de direitos sociais” também articula a produção de sabão caseiro, que vão incluídos em cestas básicas que estão sendo adquiridas de cooperativas da agricultura familiar. As primeiras cestas já foram entregues para moradores mais carentes do município de Erechim.

“As ações direcionadas ao setor de saúde, como a doação de itens para os hospitais, são de extrema importância, pois nós sabemos que a saúde pública vem sofrendo um sucateamento há anos, principalmente depois da aprovação da Emenda Constitucional 95, que congelou os investimentos públicos nessa área. E a doação de cestas básicas com produtos de qualidade também são fundamentais para auxiliar as famílias mais pobres, que já se encontravam em uma situação de vulnerabilidade antes da pandemia, e agora precisam mais do que nunca dessas ações de solidariedade”, afirma Berticelli.

“Teve uma senhora, a dona Eva, que disse assim pra nós: ainda bem que existem ações como essas, pessoas que se importam com o povo, porque senão, não é o Coronavírus que vai matar, é a fome que vai matar muita gente”, relata.

No estado do Pará, as ações estão espalhadas por quatro grandes regiões onde o MAB tem atuação. Do Xingu, Jackson Dias conta que foi feita a entrega de sacas de carvão a 150 famílias carentes da região. Além disso, o MAB está participando de duas campanhas de arrecadação financeira para aquisição de cestas básicas. Uma, em parceria com as organizações que compõem a Amazônia Centro do Mundo, e outra com os aliados da Frente Brasil Popular. 

“Essas famílias vivem essa realidade, entre ter que se isolar para não correr o risco de pegar o vírus, mas ao mesmo tempo não ter o que comer, não ter como pagar as contas. Então nesse momento, além de fazer a luta política, nesse período é nossa tarefa criar essas redes de solidariedade, como a que criamos aqui no Pará e em diversos outros estados”, afirma Dias.

Já na próxima semana, cerca de 300 famílias da região metropolitana de Belém receberão as cestas de alimentos. Na capital, as ações são articuladas pela Rede Amazônica de Solidariedade e Resistência, que reúne, além do MAB, outras 23 organizações do campo popular. 

São Paulo, o epicentro da COVID-19 no Brasil

Com a maior população do país e declarada o epicentro da COVID-19 no Brasil, São Paulo é o maior desafio. Para isso, o MAB deu início a um mapeamento das famílias mais necessitadas, entre aquelas 500 que foram atingidas pelas enchentes na Baixada Santista e zonas leste e sul da capital paulista.

Segundo a militante do MAB paulista, Liciane Andrioli, o movimento prevê distribuir mais de 2 mil cestas básicas com alimentos e artigos de higiene e limpeza, e estará concentrado no bairro Pilões, em Cubatão, e na Vila Seabra e União de Vila Nova, Grajaú, Pedreira, Cidade Dutra e São Luiz, todas na capital. A ação está sendo desenvolvida em parceria com a Koinonia, com apoio da Act Alliance.

“Neste momento com as políticas neoliberais do governo Bolsonaro, milhares de pessoas vêm perdendo seus diretos, muitas estão em situação de desemprego ou vivendo na informalidade. E com a pandemia do COVID-19, as condições de vida desse povo ficam ainda mais precárias. Diante desta situação, a ação de solidariedade desenvolvida pelo MAB, em parceria com a Koinonia e com o apoio da Act Alliance é de suma importância para amenizar um pouco esta situação. A solidariedade e a organização popular se tornam uma das principais armas contra a pandemia”, afirma Andrioli.