Atingidos por barragens do Amapá realizam formação e se preparam para o Encontro da Amazônia
Atingidos por barragens de quatro municípios do estado do Amapá realizaram um encontro para formação e preparação ao Encontro dos Atingidos e Atingidas da Amazônia, que acontecerá nos dias 29 […]
Publicado 21/10/2019
Atingidos por barragens de quatro municípios do estado do Amapá realizaram um encontro para formação e preparação ao Encontro dos Atingidos e Atingidas da Amazônia, que acontecerá nos dias 29 e 30 de outubro em Belém-PA.
Entre os dias 17 a 20 outubro, reunidos no município de Ferreira Gomes (AM), lideranças atigidas pelas barragens de Cacheira Caldeirão, Coaracy Nunes e Ferreira Gomes participaram do curso Realidade Brasileira e os Desafios da Atualidade: o pensamento de Florestan Fernandes. O objeto foi discutir a realidade brasileira e a realidade do estado do Amapá.
Foto: Oto Ramos/Mídia Ninja
Para Raimunda Marta, que mora em uma comunidade entre as barragens de Coaracy Nunes e Cachoeira Caldeirão, o curso foi importante para compreender o verdadeiro interesse dos grandes empresários do setor elétrico: aqui no estado já tem quatro hidrelétricas, mesmo assim pagamos uma das tarifas mais cara de energia elétrica nesse país.
Para Moroni Guimarães, membro da coordenação do MAB, o município de Ferreira Gomes é o mais atingido pelas hidrelétricas, pois foram construídas três barragens em seu território. Centenas de atingidos não receberam até hoje nenhuma compensação pela última grande enchente que aconteceu no município e que deixou a metade da cidade debaixo dagua, fazendo com que dezenas de ribeirinhos perdessem o seu equipamento de pesca e que muitas famílias da cidade tivessem suas casas danificadas.
No Amapá, além das quatro hidrelétricas operando ainda há o projeto de mais três barragens na bacia do rio Araguari (Bambu 1, Porto da Serra 1 e Água Branca) e três barragens na bacia do rio Jari (Açaipé B, Caripuru e Urucupatá). Caso sejam construídas, essas barragens irão atingir terras indígenas, unidades de conservação, assentamentos rurais e quilombos além de contaminarem os rios. Com isso, dos 16 municípios do estado, o numero de municípios atingidos ampliará para 11, sedo eles: Porto Grande, Ferreira Gomes, Cutias do Araguari, Tartarugalzinho, Amapá, Macapá, Pedra Branca, Serra do Navio, Laranjal do Jari e Vitória do Jari.
Das seis hidrelétricas inventariadas, quatro delas estão localizadas na Reserva Nacional de Cobre e Associados (RENCA). Apesar do nome, trata-se de uma grande reserva de ouro, já com 200 requerimentos de pesquisa para este metal.
No domingo, o curso contou com uma roda de conversa e estiveram presentes representantes do MAB, Levante Popular da Juventude, Comissão Pastoral da Terra, Mídia Ninja e associações comunitárias. Na ocasião o avanço da soja foi denunciado como agravante aos conflitos agrários que já existiam em decorrência da construção das hidrelétricas, mas também como causador de mais conflitos por terra e água no Amapá.
Para Carine Costa, estudante de ciências ambientais e militante do Levante Popular da Juventude, a formação foi muito importante para os participantes tomarem consciência dos reais interesses do estado e das implicações que envolvem a chegada de uma hidrelétrica na região, os impactos sociais, ambientais e econômicos que esses empreendimentos resultam e identificar quem é quem que paga essa conta. É a classe trabalhadora que paga tudo isso, tanto do estado do Amapá como o do Brasil também.
Ao final do Curso foi criada uma coordenação estadual do MAB que será responsável pela continuidade do curso nos municípios atingidos e pela construção do primeiro encontro estadual do MAB no Amapá.
A formação também serviu para que os atingidos pudessem colocar as demandas e qualificar o debate para o Encontro dos Atingidos da Amazônia, onde os atingidos por barragens dos nove estados da Amazônia poderão compartilhar suas experiências de resistência e luta bem como sinalizar que os atingidos por barragens continuarão defendendo a Amazônia.