Em Juara (MT), atingidos por Castanheira debatem danos do projeto
Resolução do governo Bolsonaro coloca a obra da hidrelétrica de Castanheira como prioridade na agenda; comunidades do município de Juara são contrárias à construção Foto: Coletivo de Comunicação MAB Camponeses, […]
Publicado 30/09/2019
Resolução do governo Bolsonaro coloca a obra da hidrelétrica de Castanheira como prioridade na agenda; comunidades do município de Juara são contrárias à construção
Foto: Coletivo de Comunicação MAB
Camponeses, povos indígenas e estudantes participaram do Encontro dos Atingidos para debater o setor elétrico e os impactos da hidrelétrica de Castanheira. As atividades ocorreram na comunidade Pedreira Palmital e na Aldeia Tatuí, ambas no município de Juara, em Mato Grosso, nos dias 18 e 19 de setembro. Cerca de 200 pessoas participaram dos debates organizados pelas comunidades junto com o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
Não é apenas a hidrelétrica de Castanheira. O que está em jogo aqui é a destruição dos rios da região do Tapajós. A advertência é do professor Dorival Gonçalves da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que facilitou os debates durante o encontro. Especialista sobre o setor elétrico, Dorival trouxe elementos técnicos e políticos para as discussões, que surgiram como demanda das comunidades atingidas pelo projeto da usina de Castanheira.
Uma resolução da Presidência da República, publicada em 6 de setembro coloca como prioridade na agenda do Governo Federal a construção da hidrelétrica de Castanheira. Está prevista para a Bacia do Juruena a construção de 138 hidrelétricas, entre usinas de grande, médio e pequeno porte. Castanheira pode ser a porta de entrada desses empreendimentos na região, caso venha a ser implementada. Até o momento existem 32 usinas de pequeno e médio porte em operação e outras 10 em construção. Nenhum estudo do Governo Federal prevê os impactos de todas as hidrelétricas operando na mesma região simultaneamente.
Foto: Caio Mota / Coletivo Projeta Amazônia
Integração dos povos contra o empreendimento
Se nós puder falar não, a gente vai continuar falando que não vai aceitar essa usina. A afirmação é da liderança indígena Lucinete Rikbatatsa da Terra indígena Japuíra, que alerta para o etnocídio que o empreendimento de Castanheira pode causar. A Bacia do Juruena está localizada em uma área de transição da Amazônia com o Cerrado. Ambos são os biomas mais impactados por ações de desmatamento no Brasil.
Junto aos Rikbaktsa, estiveram presentes nas atividades lideranças indígenas dos povos Munduruku, Kayabi e Apiaká. A nossa luta é isso mesmo, se juntar com não índio pra fortalecer a nossa luta, reforça Kawaip Kayabi sobre a aliança firmada com os atingidos da comunidade de Pedreira Palmital.
Um dos pontos centrais do Encontro dos Atingidos foi o intercâmbio entre as comunidades indígenas e não indígenas. A gente está trocando ideias, né. Se nós aqui da nossa comunidade (Pedreira Palmital) estamos sabendo de algo e os indígenas não tão sabendo, e se os indígenas estão sabendo, eles passam pra nós. Se a gente se unir, a gente vai ficar mais esclarecido, afirmou Fátima Aparecida moradora da comunidade de Pedreira Palmital, que sediou o primeiro dia do encontro.
Com potência de 140 MW, a UHE Castanheira está planejada para ser construída no rio Arinos pertencente a Bacia do Juruena. Seu reservatório ocupará uma área de 9.470 hectares e se estenderá por 67 km. A maior parte de sua construção será no município de Juara e a outra parcela em Novo horizonte do norte que fica a 32 km de Juara.
Impactos
O rio Arinos, onde a hidrelétrica de Castanheira pode ser construída, já sofre impactos relacionados às monoculturas de soja e cana-de-açúcar, como aponta o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) produzido pela governo. A região já perdeu uma parte considerável de florestas como resultado da expansão da fronteira agrícola e da extração de madeira e minérios. Mesmo com tantos impactos, o Arinos continua a ser um dos rios com maior diversidade de espécies de peixes catalogadas na região da bacia do Juruena, segundo as informações do EIA.
A ameaça da construção de projetos de infraestrutura na região e o avanço das áreas de desmatamento ampliam o aquecimento global, colocam em risco a biodiversidade, favorecem o etnocídio das populações indígenas e agravam os conflitos sociais nas cidades da região.
O Encontro dos Atingidos reafirmou que a luta contra barragens é uma luta de todos, e que a união é o caminho para fortalecer as alianças entre as comunidades atingidas. Além de ser um instrumento fundamental na continuidade da resistência contra o empreendimento que, por sua vez, só visa o lucro.