Conselho Nacional de Direitos Humanos publica relatório sobre Brumadinho
Comitiva visitou, em missão emergencial, a região atingida pelo crime da Vale, decorrente da ruptura da barragem de rejeitos no Córrego de Feijão, em Brumadinho (MG). A comitiva conversando […]
Publicado 11/02/2019
Comitiva visitou, em missão emergencial, a região atingida pelo crime da Vale, decorrente da ruptura da barragem de rejeitos no Córrego de Feijão, em Brumadinho (MG).
A comitiva conversando com a população atingida em Brumadinho. Foto: Filippe Chaves
Em uma das primeiras atuações da nova formação do Conselho Nacional de Direitos Humanos, que assumiu em dezembro de 2018, a delegação esteve em Brumadinho, Minas Gerais, para apurar as violações dos Direitos Humanos geradas pelo crime da mineradora Vale.
A missão ocorreu entre os dias 29 e 31 de janeiro nas cidades de Belo Horizonte e Brumadinho, após aprovação em caráter de urgência pela mesa diretora, com o objetivo de promover uma escuta qualificada das pessoas atingidas e propor medidas emergenciais. Integraram os trabalhos o conselheiro Leandro Scalabrin (Anab) e os suplentes Eduardo Queiroz (DPU) e Camila Asano (Conectas). Durante a missão, a delegação realizou reuniões com a Força Tarefa conjunta dos Ministérios Públicos e Defensorias Públicas; visitou a comunidade de Parque das Cachoeiras e Córrego do Feijão, ouviu autoridades públicas, e se reuniu diversas vezes com os atingidos e atingidas.
Segundo o relatório, aprovado pelo Pleno do CNDH, fica evidente a falha sistêmica das políticas e dos processos operacionais da Vale na prevenção, mitigação e remediação de violações de direitos humanos e danos socioambientais.
É crime
Para o CNDH a especificidade do que aconteceu em Brumadinho decorre da magnitude de vítimas e dos impactos sociais ambientais, gravíssimos e que materializam a reincidência da empresa Vale neste tipo de violações, repetindo o ocorrido na Bacia do Rio Doce em 5 de novembro de 2015. O acontecido naquele momento, afirma o documento, não se trata de mero evento como consta no TAC firmado entre empresas e Estado senão de desastre tecnológico e criminoso. O mesmo acontece no caso de Brumadinho.
As recomendações feitas pelo CNDH em maio de 2017, no seu Relatório sobre o Rompimento da Barragem de Rejeitos da Mineradora Samarco e seus Efeitos sobre a Bacia do Rio Doce, pensadas e formuladas como medidas de prevenção e não repetição de novas violações de direitos humanos, não foram seguidas pelas empresas e pelo Estado Brasileiro. Ao contrário: no intervalo de tempo entre o rompimento das duas barragens – a de Fundão e a do Córrego de Feijão -, o Estado brasileiro dedicou menos recursos à inspeção das barragens e enfraqueceu o quadro legislativo do licenciamento ambiental, afirma o relatório. No caso específico de Minas Gerais, cita o Projeto de Lei 2.946/2015, que afrouxou ainda mais os requerimentos para a concessão de licenças ambientais e afastou do controle público a avaliação dos potenciais impactos ambientais de empreendimentos privados.
Segundo informações do Valor, a ultima vez que a barragem rompida em Brumadinho foi visitada pelos técnicos do governo foi em 2016, o que mostra que, durante dois anos e até estourar, a própria Vale elaborava e enviava à Agência Nacional de Mineração (ANM) as declarações de segurança.
A comitiva visitando os locais atingidos pela lama tóxica da Vale. Foto: Filippe Chaves.
E depois
O Conselho realiza no documento uma série de recomendações, tanto ao Governo Federal, ao Governo do Estado de Minas Gerais e aos órgãos do sistema de justiça, quanto à própria empresa Vale. A ideia é garantir a representação das pessoas atingidas nos espaços de decisão, e que seja assegurado o direito à participação informada com o envolvimento e a consulta deliberativa aos atingidos em todos os espaços decisórios sobre medidas de interrupção, mitigação, recuperação e reparação emergencial e de longo prazo.
Essas recomendações buscam também garantir – entre outras coisas – que sejam produzidas avaliações e estudos independentes, e que exista garantia ao acesso à saúde, renda digna e proteção previdenciária para os atingidos e atingidas que tiveram comprometida sua capacidade de contribuição à seguridade social por conta do crime.
O relatório completo e a totalidade das recomendações podem ser lidas no documento anexo.
Leandro Scalabrim, representante dos Movimentos da Vía Campesina no Conselho, destaca a importância da missão: foi importantíssima porque foi uma resposta ágil e à altura da gravidade das violações de direitos humanos ocorridas no caso. Na primeira reunião anual aprovamos o relatório da missão e enviamos para as autoridades responsáveis, das que exigimos as respostas necessárias.
O advogado completa: Em momentos em que estão sendo atacados, há quem tente confundir as pessoas sobre a importância e alcance dos direitos humanos. E é por meio deles que os atingidos podem se organizar para exigir e reivindicar seus direitos, informação, participação e reparação. Principalmente neste duro tempo em que vivemos, em que todo dia acontecem ataques aos direitos humanos e a vida das pessoas, esse é o papel do CNDH.