Nota de pesar pelo falecimento da Vó Gabriela de Pimental
Uma parte da história do Tapajós se despede de amigos, familiares, companheiras e companheiros de luta. Maria Bibiana da Silva, mais conhecida como Vó Gabriela, faleceu ontem às 9h, aos […]
Publicado 20/11/2018
Uma parte da história do Tapajós se despede de amigos, familiares, companheiras e companheiros de luta. Maria Bibiana da Silva, mais conhecida como Vó Gabriela, faleceu ontem às 9h, aos 110 anos de idade.
A moradora mais antiga da comunidade de Pimental (Trairão-PA) nasceu em 2 de dezembro de 1907 na cidade de Mercejana, no Ceará e veio para o Pará em 1917. Neste mesmo ano, ainda criança, chegou em Pimental, às margens do Rio Tapajós, e enfrentou as maiores adversidades para criar raízes em meio à floresta amazônica.
Vó Gabriela simboliza a resistência e a luta do povo da Amazônia. Foi parteira e cuidava das mulheres com muito carinho no trabalho de parto, sabia fazer remédios caseiros, era pescadora, se dedicava ao roçado, caçava junto com seu pai e dedicou um bom tempo de sua vida trabalhando nos seringais.
Vó Gabriela é a prova de que para viver não precisa da construção de grandes hidrelétricas no Rio Tapajós e nem na Amazônia como um todo. Ela sempre nos perguntava: se sair essa barragem aí de São Luiz do Tapajós, onde vão colocar toda essa gente da comunidade? A vida sossegada aqui não tem preço, não precisamos de barragem.
Quando se falava da organização da comunidade para permanecer no seu território, Gabriela dizia: Uma andorinha só não faz verão, meus pais me ensinaram isso e isso vale para toda a vida, pode ser morando no mato ou na cidade, a união é o mais importante e a comunidade precisa estar unida. E foi com muita união, organização e luta que os ribeirinhos, indígenas e as populações do Tapajós conseguiram o cancelamento do projeto de São Luís do Tapajós.
Vó Gabriela cumpriu sua missão. Ela é a energia que se renova dentro de cada um de nós que dia a dia lutamos por nossos direitos e por uma sociedade justa e igual para todo mundo. Que sua história seja exemplo de vida e ferramenta de luta para resistir àqueles que querem nos alagar.
Nós do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) desejamos força e coragem para toda a família e amigos da dona Maria Bibiana. A vida segue e nós que nessa terra ficamos temos uma grande tarefar de manter a memória e o legado dessa grande mulher sempre vivos.
Vó Gabriela vive!
Sempre! Sempre! Sempre!