Após uma semana outro militante do Movimento Rios Vivos é assassinado na Colômbia

Luis Alberto Torres (35) foi assassinado na região de Puerto Valdivia, em Antioquia, enquanto trabalhava. Pertencia à Asociación de Pequeños Mineros y Pesqueros de Puerto Valdivia (AMPA), articulada ao Movimento […]

Luis Alberto Torres (35) foi assassinado na região de Puerto Valdivia, em Antioquia, enquanto trabalhava. Pertencia à Asociación de Pequeños Mineros y Pesqueros de Puerto Valdivia (AMPA), articulada ao Movimento Rios Vivos e lutava contra o projeto hidroelétrico Hidroituango.


Foto: Alianza de medios alternativos.

Muitas coisas ainda não mudaram com o acordo de paz assinado entre o Estado Colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias de Colômbia (FARC). Uma delas é o sistemático assassinato de lideranças sociais. Desde que se oficializou, em setembro de 2016, mais de 200 defensores de direitos humanos foram assassinados no país. Segundo dados do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz (Indepaz), só em 2017 foram 170 as mortes. 

Na região de Puerto Valdivia, em Antioquia, dois militantes do Movimento Rios Vivos foram assassinados na última semana. Ali está se instalando a Hidroelétrica Hidroituango, o maior projeto hidroelétrico da história da Colômbia, cujo processo de construção está marcado desde  de seu inicio  por violações de Direitos Humanos, violência e ameaça contra os atingidos que moram próximo da extensão do rio Cauca, que está secando devido à obra. A água do rio reduziu drasticamente abaixo do muro da barragem e a construção da barragem causou  desabamentos que impedem a passagem da água. 

 

Violência

A região a onde Hidroituango está se instalando tem um histórico de violência. Os camponeses da região vivenciaram o conflito armado em carne e  estima-se que 600 corpos de desaparecidos possam ainda estar enterrados na beira do Rio Cauca. Hidroituango irá alagar as regiões onde se encontram os corpos impedindo de exumá-los, mas também fez com que se perderam as referências onde estes corpos estão enterrados, devido ao desmatamento da obra. Mas também a barragem continua matando atualmente, e nesta semana foram dois os assassinados. 

 

 

“São as sequelas da paz”, disse Juan Pablo Soler, da coordenação nacional de Rios Vivos. E explica: “Há um conflito nos territórios, associado a fortes interesses econômicos de megaprojetos de barragens e mineração nestas regiões. Não há condições nem garantias de protestar nem se organizar, ao mesmo tempo em que se aprofunda a estratégia de agudizar o medo na população”. Permanentemente ocorrem assassinatos e o Movimento cobra uma atuação decidida do Estado para deter este processo: “Sistematicamente as instancias de diálogo tem sido adiadas e isso põe em evidencia que em Rios Vivos não só nos preocupamos em exercer nosso legítimo direito ao protesto, mas também buscamos caminhos jurídicos na procura de um diálogo e um tratamento pacífico dos conflitos. Porém, a resposta que obtivemos até agora é a negação da própria existência do conflito e a rejeição de um caminho participativo com as comunidades atingidas. Por tanto, é um acúmulo de atuações do Estado que nos mantêm nesta situação caótica”.

Soler disse que os fatos recentes “não podem debilitar o movimento, mas encorajar ainda mais” para continuar na luta pela defesa dos direitos das populações atingidas pela barragem. Do Governo de Antioquia, que a través de Empresas Públicas de Medellín (EPM) é a principal acionista da usina, o Movimento exige que se promova e respeite os espaços de diálogo, tanto com a EPM quanto com as autoridades ambientais. Para isso, disse Soler, “são precisas atuações efetivas que façam com que as entidades competentes trabalhem com responsabilidade e a empresa finalmente reconheça que errou. Que o seu trabalho foi insuficiente e não levou em conta a diversidade cultural, ambiental e social da região, e por tanto terá que contemplar os novos atingidos e iniciar processos de reparação justa, de acordo com as exigências das comunidades atingidas e não de acordo com os seus próprios interesses”. 

A urgência de proteção

Os assassinatos se deram num contexto complexo na região. Hidroituango está com vários problemas estruturais que não permitem o avanço das obras e a posta em funcionamento da usina. Por conta do desmatamento, que segundo Rios Vivos não foi feito seguindo as ordenanças ambientais, vários desabamentos de água, galhos e pedras bloquearam os túneis de passagem da água pela barragem. Isto faz com que o nível de água baixe extremamente no rio abaixo e se alague  na região acima da barragem. A preocupação é grande nas comunidades da região baixa , pelo risco de uma avalanche. Neste contexto, os moradores estavam preparando uma mobilização, no dia que foi assassinado Hugo Albeiro, de 47 anos, integrante da Associação de Vítimas e Atingidos por Megaprojetos (ASVAM), articulado em Rios Vivos. 

Foto: Rios Vivos. 

Essa mobilização não aconteceu, por conta da promessa da empresa de iniciar um diálogo. Só que tampouco houve  diálogo . A empresa não reconheceu os atingidos e afirmou que não existe nenhum tipo de risco. E que se fosse o caso, existe um plano de contingencia.  

Logo oito dias depois, no dia 8 de maio, foi assassinado Luis Alberto Torres (35), na mesma região, militante e atingido. Ele era pescador e garimpeiro artesanal, integrante da Associação de Pequenos Garimpeiros e Pescadores de Puerto Valdivia. “A comunidade estava se organizando e com esse novo assassinato se dificulta a possibilidade de fazer alguma ação pela defesa de nossos direitos vulnerados. Esse é um dos efeitos diretos que este tipo de assassinatos produz” disse Soler. Este assasinato se suma a outros que já tinham acontecido recentemente na região.

Rios Vivos Antioquia, que integra Rios Vivos Colômbia, movimento de atuação nacional, conta com um Plano de Prevenção e Proteção Coletiva, elaborado conjuntamente com o Ministério do Interior, no qual esta instituição se comprometeu a adotar as medidas necessárias para garantir a segurança das comunidades de Antioquia. Porém, até agora o plano não foi implementado, mesmo com uma situação gravíssima que expõe sua urgência. 

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| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

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