Feira Agroecológica do FAMA reúne produtos do campo e da cidade

Feira reúne desde alimentos até medicamentos fitoterápicos no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, em Brasília (DF) Por Elvis Marques, CPT Fotos: Joka Madruga/Terra Sem Males/FAMA) Tambores, berimbau, colares, […]

Feira reúne desde alimentos até medicamentos fitoterápicos no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, em Brasília (DF)


Por Elvis Marques, CPT

Fotos: Joka Madruga/Terra Sem Males/FAMA)

Tambores, berimbau, colares, anéis, livros, revistas, roupas, calçados, medicamentos fitoterapêuticos, doces, mudas de plantas medicinais, tapetes, pequi e também um cafezinho. Toda essa diversidade de produtos e alimentos são encontrados na Feira Agroecológica do Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA), que é realizado no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, em Brasília (DF). São mais de 90 banquinhas neste espaço que poderia, facilmente, ser chamado de Feira dos Povos.

Atrás de uma mesa repleta de pequi, doce de leite, urucum e conservas de legumes, lá está dona Maria Vilma, 53 anos, e seu sorrisão. Ela é quilombola da Comunidade Pega, situada no município mineiro de Virgem da Lapa, no Vale do Jequitinhonha. Com 65 famílias, a comunidade está presente nesse território há diversas gerações. Maria, por exemplo, nasceu nesse local, e antes dela mãe, avôs, bisavôs… já residiam ali.

Nesse pedaço de chão, Maria e as demais famílias cultivam oito hortas, e também banana, mandioca, laranja, mamão e pimenta. “Mas esse ano plantamos milho e quando começou a embonecar, faltou água e perdemos tudo”, relata ela, que também é militante do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB). Para o FAMA, ela não podia deixar de fora o fruto da estação – o pequi –, e as conservas de legumes ela faz questão de dizer que foram feitas pela comadre Vanderlania. “Trouxe para ajudar ela”. Lá em Virgem da Lapa, os produtos são comercializados em feiras e para as escolas públicas da região.

Entretanto, um elemento fundamental para toda essa produção anda cada vez mais escasso. “Nós temos água quando Deus manda. Se não for isso, temos que pagar”, afirma a quilombola. Mas nem sempre foi preciso consumir e desembolsar dinheiro pela água da empresa Copasa. Tempos atrás, antes de uma hidrelétrica chegar ao Rio Jequitinhonha, os/as quilombolas tinham água em abundância próxima de casa. Hoje, conforme Maria, a água já não pode mais ser consumida e os peixes que eram nativos estão cada vez mais raros. Mas o impacto poderia ser pior se não fosse a mobilização da comunidade e do MAB para barrar a construção de outra hidrelétrica, dessa vez no Rio Araçuaí. “Não nos consultaram, e quando vimos já estavam marcando os locais para construção, aí não deixamos”, revela. 

Artesanato – Há cerca de 30 anos em Brasília, Terezinha Togojebado é da etnia indígena Bororo, do município de Barra do Garças, no Mato Grosso. “Nosso povo é nômade”, justifica ela, enquanto faz uma bolsa de cabaça. Rodeada por artesanatos indígenas, como colares, brincos e pulseiras, ela veio para o Fórum com suas três filhas e cinco netos pequenos, que adoram brincar com chocalhos enquanto a avó trabalha. “São mais de mil pessoas na aldeia [no MT], mas é difícil dizer o número correto, pois nosso povo anda muito”, conta.

E foi em uma dessas andanças que Terezinha encontrou seu companheiro – também indígena – em Brasília, onde esteve pela primeira vez para buscar informações junto à Fundação Nacional do Índio (Funai). E lá se vão três décadas que ela, o companheiro, as filhas e netos passaram a viver em uma pequena terra de quatro hectares na região noroeste da Capital Federal. Aqui, ela continua a trabalhar com artesanatos. Produz e vende em sua lojinha na região central da cidade. Também, para onde vai, como no FAMA, leva os objetos dos “parentes indígenas do Xingu, Guajajara, Karajá, e outros”, destaca ela, que reitera: “A gente tenta se ajudar”.

Para além de comercializar seus produtos, Terezinha não hesita ao falar da importância de participar de um evento como este. “Água para nós vale mais do que ouro. Eu fico indignada hoje porque no começo do mundo nada disso era comprado. Ninguém era dono da terra e nem tinha posse de nada. Agora todo mundo quer se apossar das árvores e de areia. E da água, uma coisa que faz parte das nossas vidas, pois o corpo da gente é 70% de água. E Deus deu ela de graça, correndo encima e embaixo da terra. Agora todo mundo quer ser dono e quer vender. Eu fico imaginando como será para os meus netos e bisnetos. Serão que eles vão conseguir tomar água?”, questiona-se.

Plantas – Antenor Pereira é membro do Acampamento 8 de Março do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), situado em Planaltina, no Distrito Federal. Mas até saber dessas informações demorou um pouco. O trabalhador, que é membro do Setor de Saúde do movimento, corria de um lado para o outro para atender as pessoas interessadas em adquirir mudas de plantas medicinais, mel, rapadura de gengibre, melado de assa-peixe, sabonetes, e por aí vai.

São 88 famílias acampadas há aproximadamente seis anos. Nessa terra, não distante de Brasília, há uma horta dedicada aos produtos medicinais. Para o FAMA, Pereira trouxe uma infinidade: mil folhas, amoxicilina, caninha de macaco, alecrim, moringa, babosa, manjericão, carqueja, hortelã, poejo e outras. “Com essas plantas, nós comercializamos quando somos convidados para eventos, e também fazemos nossos produtos. Tudo é sem agrotóxico”, explica ele.

A Feira Agroecológica, que integra o Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA), será realizada até quinta-feira, 22.  

Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro