Atingidos baianos exigem diálogo com o governo sobre os conflitos pela água

Até o momento, o governador não recebeu os trabalhadores para dialogar sobre os conflitos pela água na região de Correntina, no Oeste baiano. Na última sexta-feira (02), sobre gritos e […]

Até o momento, o governador não recebeu os trabalhadores para dialogar sobre os conflitos pela água na região de Correntina, no Oeste baiano.


Na última sexta-feira (02), sobre gritos e protestos, o governador da Bahia, Rui Costa, esteve no município de São Félix do Coribe para assinar a ordem de serviço de recuperação da BA 172. Atingidos e ribeirinhos da região estavam presentes para cobrar soluções sobre o conflito pela água que vem assolando a região, desencadeando as recentes mobilizações em Correntina. Até o momento, o governo estadual não recebeu os trabalhadores ribeirinhos sobre os conflitos pela água na região, como aponta Andréia Neiva, da coordenação do MAB.

“Ainda não tivemos nenhum retorno, foram várias as solicitações de diversas organizações locais e nacionais, mas até agora, Rui Costa não manifestou positivamente a solicitação dos trabalhadores”, aponta.

Segundo ela, a passagem do governador pela região oeste e o fato de não ter ido a Correntina foi um desrespeito com o povo.

“É um desrespeito, um verdadeiro descaso com os trabalhadores. Ele (Rui) esteve no Oeste, em municípios vizinhos a Correntina por dois dias e não veio até a região de conflito, não atendeu à solicitação dos camponeses para discutir o tema da água. Essa atitude confirma o descaso com o qual tratou os trabalhadores daqui, os chamando de “bando”. É uma postura arrogante e intransigente, desrespeitosa para com os trabalhadores”, afirma Andréia.

Quem esteve presente nos atos relatam que em momento algum os representantes do governo tocaram no assunto da problemática d água no Oeste, o tema foi foi totalmente ignorado.

Histórico

No dia 2 de novembro do ano passado, milhares de trabalhadores se manifestaram em defesa das águas do rio Arrojado, afluente do Rio Corrente, ocupando as fazendas Rio Claro e Curitiba, de propriedade da empresa de agronegócio Igarashi, no município de Correntina, na região Oeste da Bahia. Os camponeses denunciaram a destruição do Cerrado para o plantio de monoculturas e o consumo desproporcional de água das duas fazendas, que consomem aproximadamente 100 vezes mais água do que a população da sede do município.  Após o ato, os trabalhadores foram tratados como terroristas pelas autoridades e meios de comunicação a nível local e nacional, sofrendo uma forte repressão do estado e da polícia, por meio de ameaças e intimidações.

A resposta veio no dia 11 de novembro, quando mais de 12 mil pessoas saíram às ruas contra a criminalização da luta na região e em defesa das águas. Diversas faixas e cartazes com dizeres contra a violência, em defesa do cerrado, da água e da vida eram facilmente vistos na manifestação.

Após o ocorrido, a situação de crise hídrica na região foi objeto de uma reunião realizada no dia 22 de novembro, entre o governador do Estado, Rui Costa, a procuradora-geral de Justiça Ediene Lousado, as promotoras de Justiça Cristina Graça e Luciana Khoury, movimentos sociais e secretários estaduais. Nela, foi discutida a gestão das águas da bacia e apresentada uma proposta de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que prevê, entre outras medidas, a regularidade das outorgas concedidas pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) para grandes empreendimentos na região. Na ocasião, o Governo do Estado solicitou prazo de 90 dias para verificação em campo da situação de captação das águas, de modo a diagnosticar melhor o problema, e criou um grupo de trabalho, no entanto, os trabalhos pouco avançaram nesse sentido.

Como decorrência da reunião, uma audiência pública organizada pelo o Ministério Público Estadual da Bahia em parceira com organizações e movimentos sociais foi realizada em Correntina. A ideia era debater com a população e o governo estadual sobre a redução da vazão dos rios, a gestão do uso das águas e os direitos humanos violados na região. Na ocasião, mais de cinco mil trabalhadores marcharam pelas ruas do município baiano e participaram ativamente da audiência, no entanto, mais uma vez o governo da Bahia não compareceu.

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