Em Correntina (BA), atingidos contrapõe agronegócio predatório
Através de projetos de agroecologia, atingidos mostram outra faceta de produção na região que sofre com conflitos pela água
Publicado 23/11/2017 - Atualizado 21/08/2024
Em meio a “Guerra pela Água”, travada no último período na região de Correntina, oeste da Bahia, projetos de agroecologia tem se destacado como alternativa sustentável de produção.
O projeto PAIS (Produção Agroecológica Integrada e Sustentável), implementado pelo MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), é um bom exemplo da forma consciente na qual os pequenos produtores vêm trabalhando na região.
Segundo Danilo Moreira e Silva, técnico do PAIS e militante do MAB, o projeto, que teve início no início de 2016 envolve de forma bastante positiva as famílias da região.
“Atualmente, temos mais de 50 famílias cadastradas, atuando nas cidades de Cocos, Correntina e Santa Maria, envolvendo indiretamente centenas de outras famílias que passam a consumir produtos agroecológicos, livre de agrotóxicos. Nossa ideia agora é expandir mais”, afirma Danilo.
Para ele, a agroecologia, é mais do que uma técnica. “Pra nós do MAB, a agroecologia também é uma ferramenta política essencial, que envolve e conscientiza as comunidades”, afirma.
Os alimentos produzidos vão desde hortaliças como alface, couve, coentro, salsa, cebolinha, até legumes, como berinjela, batata, jiló, mandioca, tomate, beterraba, entre muitas outras, cultivadas sempre sem o uso de veneno.
Para Rosa Maria Gonçalves Pereira, da comunidade de Aldeia, o projeto veio em boa hora.
“Pra gente foi muito importante, tem nos ajudado muito na parte econômica e principalmente na saúde, paramos de plantar e consumir com veneno. Aprendemos muito com o projeto, nos trouxe novas técnicas de plantio que não conhecíamos”, afirma Rosa Maria.
Pra ela, o processo como foi implantado, através de “multirões”, envolvendo toda a comunidade foi um diferencial. “Foi bom demais ver a comunidade se envolvendo e ajudando uns aos outros nas construções do PAIS. Até hoje compartilhamos os alimentos e trocamos com nossos vizinhos”, completa.
Além da produção própria, inúmeras famílias tem gerado renda com a comercialização dos produtos vindos da produção agroecológica, nos centros urbanos da região. Em Correntina, as famílias têm distribuído em grande escala na Feira da Agricultura Familiar, que ocorre semanalmente no centro da cidade.
Agronegócio
Na contramão deste processo, as grandes empresas do agronegócio da região, centrais na disputa pela água, tem um perfil de produção totalmente distinto. Marcados pela monocultura e o grande consumo de água e uso intensivo de agrotóxicos.
É o caso da empresa (Lavoura e Pecuária IGARASHI), proprietária das terras que foram ocupadas recentemente por moradores da região, em protesto contra o uso predatório da água. Em seu slogan, “Alimentando a família brasileira”, a multinacional, de origem japonesa prega a alimentação saudável. Em nota divulgada recentemente, o grupo afirma que sua produção tem um caráter diversificado.
“Atuando na produção de alimentos consumidos diretamente pela população do Estado da Bahia e região nordeste, com papel fundamental para a mesa da Família brasileira – produzindo e fornecendo batata, cenoura, feijão, tomate, alho, cebola e outros, tudo para consumo interno”.
Mas segundo moradores da região, os alimentos produzidos seguem a linha da monocultura e utilizam uma grande quantidade de agrotóxicos.
“Nunca vimos estes alimentos que a Igarashi diz produzir, ela produz mais grãos mesmo. O que sabemos é que ela puxa água pelas bombas e joga pros sistemas de pivôs pra produzir grãos e usam bastante água e muito veneno”, afirma um dos moradores que não quis se identificar.
Em janeiro de 2015, o Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado da Bahia INEMA concedeu à Fazenda Igarashi, por meio da Portaria nº9.159, o direito de retirar do rio Arrojado uma vazão de 182.203 m³/dia, durante 14 horas/dia, para a irrigação de 2.539,21 ha.
Este volume de água retirada equivale a mais de 106 milhões de litros diários, suficientes para abastecer por dia mais de 6,6 mil cisternas domésticas de 16.000 litros na região do Semiárido.