Arpilleras: filme, linhas e panos a serviço da resistência
A cantora latino americana Violeta Parra dizia que a técnica de arpilleras é uma canção bordada. O trabalho, tecido em conjunto entre as mulheres que participaram de documentário, produzido pelo […]
Publicado 06/10/2017
A cantora latino americana Violeta Parra dizia que a técnica de arpilleras é uma canção bordada. O trabalho, tecido em conjunto entre as mulheres que participaram de documentário, produzido pelo Movimento de Atingidos por barragens (MAB), está exposto no 8º Encontro Nacional, que aconteceu de 1 a 5 de outubro, no Terreirão do Samba, Rio de Janeiro (RJ), além de outros, feitos por militantes, em cursos de formação.
O filme “Arpilleras: atingidas por barragens, bordando resistência” denuncia como as barragens têm violado a vida de pessoas de norte à sul do Brasil, principalmente das mulheres que assumem hoje o protagonismo de suas lutas, diante da vulnerabilidade e violação de seus direitos. O filme, produzido pelo MAB, visa dar visibilidade sobre os efeitos perversos destas construções. Por meio da linha de coser, elas constróem de retalhos uma unidade, como a vida, que vira filme.
A narrativa do filme é construída a partir de uma arpillera, confeccionada por diferentes mulheres que vão tecendo suas histórias. Muitas delas vieram a se conhecer no Encontro. Claides Helga Kohwald, 76 anos, de Marmeleiro (PR), atingida pela hidrelétrica de Itá, é militante do MAB desde a sua constituição. Ela, na sua região, foi a única mulher, entre 120 homens, que iniciou a resistência também feminina. A equipe de filmagem a acompanhou por 12 dias, resgatando as histórias que a constituem em defesa dos atingidos por barragens minha história, diz orgulhosa. É um sonho que realizei, porque sempre tive vontade de escrever sobre esta trajetória, conta. Agora há algo registrado para conhecimento nacional e internacional.
Maria Alacídia, 52, de Altamira (PA), vítima da hidrelétrica de Belo Monte, é outra protagonista do documentário. A realidade é tudo aquilo que está no filme e muito mais, garante. Quero que, quem assita o filme, tenha força, garra e esperança de lutar. Nele, ela discorre sobre a relação com o Rio Xingu, que considera um acontecimento amoroso, cuja ilha que fazia parte de sua vida atualmente está submersa na água. A dor maior é quando retornamos ao local – o que existia não existe mais, dói muito, lamenta.
Simone Maria da Silva, 40 anos, de Barra Longa (MG), começou a militar no MAB há dois anos, depois da tragédia de Samarco. Foi no curso para aprender a técnica têxtil chilena que conheceu Marta, outra protagonista do filme Arpilleras, a qual tomou como exemplo de resistência, utilizando as linhas para mostrar um pouco das injustiças que as mulheres sofrem. Quando estávamos gravando, um homem começou a nos xingar: vai arrumar uma louça para lavar, fazer uma comida, conta. Muitos não aceitam o empoderamento das mulheres ainda, infelizmente.
Marta Caetana, do assentamento Guaiara, município de Diogo Vasconcelos (ES), foi atingida pela pequena central hidrelétrica de Fumaça, hoje da Cemig, em 2001. Inicialmente, ela lembra que a empresa tinha feito estudo, afirmando que impactaria sobre um pequeno número de pessoas. Ofereceu dinheiro – seis mil reais como indenização aos moradores, mas ela queria reassentamento. A luta e resistência foram grandes e disso veio, inclusive, ameaças à integridade física e de morte. Duas mulheres, sendo Marta uma delas, militantes do MAB, bateram pé e mobilizaram 329 famílias em resistência. E foi, neste momento, que conheceu também a repressão policial. Atualmente, Marta, através do MAB, orienta os atingidos de Mariana. A luta é nossa, temos que acreditar em nós mesmos coletivamente, quando acontecer, as coisas vão mudar e teremos uma vida melhor, acredita. Minha realidade é esta.