Escolas de samba levam tema das barragens para a Marquês de Sapucaí
No carnaval do Rio de Janeiro deste ano duas escolas de samba do grupo especial retrataram temas polêmicos relacionados às barragens, a Imperatriz Leopoldinense e a Portela, chamando a atenção […]
Publicado 28/02/2017
No carnaval do Rio de Janeiro deste ano duas escolas de samba do grupo especial retrataram temas polêmicos relacionados às barragens, a Imperatriz Leopoldinense e a Portela, chamando a atenção da população em geral e da imprensa nacional e internacional.
A Imperatriz Leopoldinense apresentou como tema do samba enredo Xingu – o clamor que vem da Floresta para falar da contribuição dos povos indígenas do Xingu à cultura brasileira e construir uma mensagem de preservação e respeito à natureza e à biodiversidade. Em resposta às críticas de setores do agronegócio, a escola divulgou uma nota de esclarecimento afirmando que em função de certa confusão registrada em algumas dessas falas, ressaltamos e esclarecemos que no trecho de nosso samba o Belo Monstro rouba a terra de seus filhos, destrói a mata e seca os rios estamos nos juntando às populações ribeirinhas, às etnias indígenas ameaçadas, aos ambientalistas e importantes setores da sociedade que se posicionaram contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte.
Em consonância com a Imperatriz e o tema escolhido para enredo do samba deste ano, militantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) prestaram homenagens e se solidarizaram à escola fazendo uma visita à quadra no último dia 16. Na oportunidade, convidaram os carnavalescos para uma apresentação durante o Encontro Nacional do MAB, que ocorre em outubro deste ano, no Rio de Janeiro.
Mar de lama na avenida
Com o enredo Quem Nunca Sentiu o Corpo Arrepiar ao Ver Esse Rio Passar… na última noite de apresentação das escolas do grupo especial, a Portela fez menção aos rios brasileiros e no quarto carro alegórico trocou o colorido típico do carnaval pelo marrom para recordar a tragédia ocorrida no Rio Doce, consequência do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais, ocorrido em 2015.
Foto/FolhaPress
Neste quesito, segundo a justificativa do enredo, as águas do rio da Portela mudam de cor, repentinamente: sangram, trazendo o lamento de quem perdeu a vida que pulsava em suas margens. Os danos causados pelos rejeitos da barragem de mineração que arrastou casas, vidas e sonhos, provocando o maior desastre ambiental do Brasil, são irreversíveis. O rio morreu e o pescador deixa escorrer, entre os dedos, o que dele restou, em um lamento de quem perdeu o rio e o rumo, explicam os compositores e sambistas da agremiação.
Para as lideranças do MAB, o carnaval de 2017 no Rio de Janeiro foi muito significativo e trouxe à tona temas que dizem respeito ao Movimento. Parabenizamos as duas escolas pelas escolhas. O que elas mostraram na Sapucaí fortalece as denuncias que sistematicamente fazemos de violação dos direitos humanos e de destruição ambiental causado por empresas irresponsáveis, que só almejam o lucro onde constroem essas obras. Foi um desfile belíssimo e de forte cunho social e ambiental, estamos na torcida para que uma delas seja consagrada campeã!, afirma uma das lideranças do Movimento.