Enredo sobre a luta dos índios do Xingu causa revolta do agronegócio

Setores do agronegócio brasileiro estão revoltados com a escola Imperatriz Leopoldinense. Neste Carnaval, a escola de samba carioca apresenta como tema “Xingu, o clamor que vem da Floresta”. A agremiação […]

Setores do agronegócio brasileiro estão revoltados com a escola Imperatriz Leopoldinense. Neste Carnaval, a escola de samba carioca apresenta como tema “Xingu, o clamor que vem da Floresta”. A agremiação homenageia os indígenas do Parque Indígena do Xingu (Mato Grosso) e faz referência à luta desses povos contra as ameaças à sua sobrevivência e à natureza.

Trecho do samba-enredo diz “O belo monstro rouba as terras dos seus filhos / Devora as matas e seca os rios / Tanta riqueza que a cobiça destruiu”. Além disso, a escola apresentará alas com os temas: “Olhos da cobiça”, “Chegada dos invasores” e “Fazendeiros e seus agrotóxicos”.

A Associação Brasileira dos Criadores de Zebu afirmou em nota assinada pelo presidente da entidade, Arnaldo Manuel Machado Borges que “antes de mais nada, é preciso esclarecer e reforçar que o país do samba é sustentado pela pecuária e pela agricultura”. Para a entidade, “a escola mostra total despreparo e ignorância quanto à história brasileira e à realidade econômica e social do país”. Já Gustavo Junqueira, da Sociedade Rural Brasileira afirmou que agremiação “ofende um setor muito forte da economia”.

O carnavalesco da escola, Cahê Rodrigues, defendeu a agremiação em nota publicada em sua página no Facebook. “Nunca foi nossa intenção agredir o agronegócio (…) Combatemos sim, em nosso enredo, o uso indevido do agrotóxico, que polui os rios, mata os peixes e coloca em risco a vida de seres humanos, sejam eles índios ou não, além de trazer danos em alguns casos irreversíveis para nossa fauna e flora.” Ele lembra que no ano passado a escola mostrou “a lida do homem do campo e da importância da agropecuária do Centro-Oeste brasileiro no abastecimento de alimentos para a nossa população”.

FOTO: Cahê Rodrigues/Facebook

“Mas também chamamos a atenção para o medo e a preocupação permanentes dos xinguanos, que a cada noite temem uma nova invasão de suas terras. Ou imaginam a catástrofe que a usina de Belo Monte desencadeará no ecossistema de toda aquela região, inundando aldeias, igarapés e levando na força de suas águas as chances de sobrevivência de sua gente”, concluiu.

A Imperatriz será a terceira escola a desfilar no domingo de carnaval.

 

Confira a letra do samba-enredo:

 

Xingu, o clamor que vem da floresta

(Moisés Santiago, Adriano Ganso, Jorge do Finge e Aldir Senna)

 

Brilhou… a coroa na luz do luar!

Nos troncos a eternidade… a reza e a magia do pajé!

Na aldeia com flautas e maracás

Kuarup é festa, louvor em rituais

Na floresta… harmonia, a vida a brotar

Sinfonia de cores e cantos no ar

O paraíso fez aqui o seu lugar

Jardim sagrado o caraíba descobriu

Sangra o coração do meu Brasil

O belo monstro rouba as terras dos seus filhos

Devora as matas e seca os rios             

Tanta riqueza que a cobiça destruiu

Sou o filho esquecido do mundo

Minha cor é vermelha de dor

O meu canto é bravo e forte

Mas é hino de paz e amor

 

Sou guerreiro imortal derradeiro

Deste chão o senhor verdadeiro

Semente eu sou a primeira

Da pura alma brasileira

 

Jamais se curvar, lutar e aprender

Escuta menino, Raoni ensinou

Liberdade é o nosso destino

Memória sagrada, razão de viver

Andar onde ninguém andou

Chegar aonde ninguém chegou

 

Lembrar a coragem e o amor dos irmãos

E outros heróis guardiões

Aventuras de fé e paixão

O sonho de integrar uma nação

Kararaô… kararaô… o índio luta pela sua terra

Da imperatriz vem o seu grito de guerra!

 

Salve o verde do Xingu… a esperança

A semente do amanhã… herança

O clamor da natureza

A nossa voz vai ecoar… preservar!

 

*Com informações dos jornais Folha de S. Paulo e Extra.

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| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

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