Enredo sobre a luta dos índios do Xingu causa revolta do agronegócio
Setores do agronegócio brasileiro estão revoltados com a escola Imperatriz Leopoldinense. Neste Carnaval, a escola de samba carioca apresenta como tema Xingu, o clamor que vem da Floresta. A agremiação […]
Publicado 09/01/2017
Setores do agronegócio brasileiro estão revoltados com a escola Imperatriz Leopoldinense. Neste Carnaval, a escola de samba carioca apresenta como tema Xingu, o clamor que vem da Floresta. A agremiação homenageia os indígenas do Parque Indígena do Xingu (Mato Grosso) e faz referência à luta desses povos contra as ameaças à sua sobrevivência e à natureza.
Trecho do samba-enredo diz O belo monstro rouba as terras dos seus filhos / Devora as matas e seca os rios / Tanta riqueza que a cobiça destruiu. Além disso, a escola apresentará alas com os temas: “Olhos da cobiça”, “Chegada dos invasores” e “Fazendeiros e seus agrotóxicos”.
A Associação Brasileira dos Criadores de Zebu afirmou em nota assinada pelo presidente da entidade, Arnaldo Manuel Machado Borges que antes de mais nada, é preciso esclarecer e reforçar que o país do samba é sustentado pela pecuária e pela agricultura. Para a entidade, a escola mostra total despreparo e ignorância quanto à história brasileira e à realidade econômica e social do país. Já Gustavo Junqueira, da Sociedade Rural Brasileira afirmou que agremiação “ofende um setor muito forte da economia”.
O carnavalesco da escola, Cahê Rodrigues, defendeu a agremiação em nota publicada em sua página no Facebook. Nunca foi nossa intenção agredir o agronegócio (…) Combatemos sim, em nosso enredo, o uso indevido do agrotóxico, que polui os rios, mata os peixes e coloca em risco a vida de seres humanos, sejam eles índios ou não, além de trazer danos em alguns casos irreversíveis para nossa fauna e flora.” Ele lembra que no ano passado a escola mostrou “a lida do homem do campo e da importância da agropecuária do Centro-Oeste brasileiro no abastecimento de alimentos para a nossa população”.
FOTO: Cahê Rodrigues/Facebook
“Mas também chamamos a atenção para o medo e a preocupação permanentes dos xinguanos, que a cada noite temem uma nova invasão de suas terras. Ou imaginam a catástrofe que a usina de Belo Monte desencadeará no ecossistema de toda aquela região, inundando aldeias, igarapés e levando na força de suas águas as chances de sobrevivência de sua gente, concluiu.
A Imperatriz será a terceira escola a desfilar no domingo de carnaval.
Confira a letra do samba-enredo:
Xingu, o clamor que vem da floresta
(Moisés Santiago, Adriano Ganso, Jorge do Finge e Aldir Senna)
Brilhou a coroa na luz do luar!
Nos troncos a eternidade a reza e a magia do pajé!
Na aldeia com flautas e maracás
Kuarup é festa, louvor em rituais
Na floresta harmonia, a vida a brotar
Sinfonia de cores e cantos no ar
O paraíso fez aqui o seu lugar
Jardim sagrado o caraíba descobriu
Sangra o coração do meu Brasil
O belo monstro rouba as terras dos seus filhos
Devora as matas e seca os rios
Tanta riqueza que a cobiça destruiu
Sou o filho esquecido do mundo
Minha cor é vermelha de dor
O meu canto é bravo e forte
Mas é hino de paz e amor
Sou guerreiro imortal derradeiro
Deste chão o senhor verdadeiro
Semente eu sou a primeira
Da pura alma brasileira
Jamais se curvar, lutar e aprender
Escuta menino, Raoni ensinou
Liberdade é o nosso destino
Memória sagrada, razão de viver
Andar onde ninguém andou
Chegar aonde ninguém chegou
Lembrar a coragem e o amor dos irmãos
E outros heróis guardiões
Aventuras de fé e paixão
O sonho de integrar uma nação
Kararaô kararaô o índio luta pela sua terra
Da imperatriz vem o seu grito de guerra!
Salve o verde do Xingu a esperança
A semente do amanhã herança
O clamor da natureza
A nossa voz vai ecoar preservar!
*Com informações dos jornais Folha de S. Paulo e Extra.