1º de abril: a história do golpe não pode se repetir

– Presidente, o senhor é capaz de comprometer-se de que vai se desligar dos comunistas e decretar medidas concretas a esse respeito? – General, sou um homem político. Tenho compromissos […]

– Presidente, o senhor é capaz de comprometer-se de que vai se desligar dos comunistas e decretar medidas concretas a esse respeito?

– General, sou um homem político. Tenho compromissos com os partidos e não posso abandoná-los ante a pressão dos militares.

– Então, presidente, nada podemos fazer. E isto é a opinião dos generais aqui presentes.

Esse é um pequeno trecho de uma das últimas conversas entre o então presidente João Goulart e Amaury Kruel, comandante do II Exército, na noite do dia 31 de março de 1964, que antecedeu o golpe militar, que assolaria o Brasil por mais de duas décadas, deixando como legado, centenas de pessoas desaparecidas, torturadas e assassinadas. Entidades e organizações populares foram tachadas como criminosas e perseguidas, e o povo brasileiro, massacrado com a retirada de direitos e o avanço dos setores mais conservadores.

O site Acervo da Luta Contra a Ditadura revela que existem mais de 200 mortes oficiais no período da ditadura, contudo esse número deve ser bem maior, tendo em vista que muitos mortos foram simplesmente “desovados”, para utilizar um termo que os próprios opressores usavam.

Outro número oficial, que, na realidade, também deve ser bem maior, é o de desaparecidos. O site Desaparecidos Políticos lista 379 nomes de pessoas que sumiram desde que foram presas durante o regime militar. Esse número é baixo se levarmos em conta que muitas famílias não relataram o desaparecimento dos seus entes por medo de sofrerem represálias por parte dos militares. 

“Vladimir Herzog, jornalista, morto pela ditadura”


Repressão e Tortura: depoimentos

“Me amarraram na cadeira do dragão, nua, e me deram choque no ânus, na vagina, no umbigo, no seio, na boca, no ouvido”. (Maria Amélia Teles, ex-militante do Partido Comunista do Brasil) – Cadeira do dragão era uma espécie de cadeira elétrica revestida de zinco e ligada a terminais elétricos, onde os presos sentavam pelados. Quando ligado, o aparelho transmitia choques em todo o corpo do torturado.

“Fui para o pau de arara várias vezes. De tanta porrada, uma vez meu corpo ficou todo tremendo, eu estrebuchava no chão”. (Maria do Socorro Diógenes, ex-militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) – O pau-de-arara era uma das formas mais antigas de tortura, utilizada no Brasil desde a época da escravidão.

“Eles usavam e abusavam. Só nos interrogavam totalmente nuas, juntando a dor da tortura física à humilhação da tortura sexual”. (Gilse Cosenza, ex-militante da Ação Popular, AP).

“Com certeza a pior tortura foi ver meus filhos entrando na sala quando eu estava na cadeira do dragão. Eu estava nua, toda urinada por conta dos choques. Quando me viu, a Janaína perguntou: ‘Mãe, por que você está azul e o pai verde?’. O Edson disse: ‘Ah, mãe, aqui a gente fica azul, né?’. Eles também me diziam que iam matar as crianças. Chegaram a falar que a Janaína já estava morta dentro de um caixão” (Maria do Carmo Serra Azul, conhecida como Cacau).

52 anos depois, a realidade é um pouco diferente, porém o clima “golpista” ainda ronda os ares brasileiros, ainda encabeçado por remanescentes dos velhos tempos de regime militar. 

Mídia golpista

Compare a capa do jornal “O Globo”, um dia depois do Golpe e lembre-se da matéria que veio ao ar, há poucos dias no Jornal Nacional, no qual “pseudo-especialistas”, apontavam que o processo e impeachment (que não apresenta nenhum crime de responsabilidade contra Dilma) não pode ser considerado um golpe.

Como dizem, “os golpistas nunca chamam o golpe de “golpe”.


O papel da FIESP no golpe

Sabe-se, por exemplo, que a FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que hoje apoia de forma fervorosa o processo de impeachment, sobretudo por meio de Paulo Skaf, foi a maior financiadora da Operação Bandeirante, que bancou a introdução de novas técnicas de tortura trazidas dos Estados Unidos. 

A Federação teria pago ainda uma boa quantia, em dólares,  para o então general Amaury Kruel (que aparece no diálogo acima), para que este cedesse ao golpe.

Recentemente, a FIESP tem feito anúncios milionários em jornais de grande circulação no país, muitos, que indiretamente apoiam o golpe, é o caso da Folha de São Paulo, Estadão, além da já desmascarada Globo. Os anúncios de “Impeachment Já”, “Renuncia jᔠtem circulado massivamente em meios impressos e virtuais.    

O que poucos sabem, é que em 1964, a Federação já atuava nos veículos de comunicação de forma muito parecida. No dia 31 de março, a Folha de S. Paulo publicou um caderno especial de nome “O Brasil continua”, como se tivesse tido a premonição de que o golpe seria deflagrado naquela noite. O caderno estava recheado de anúncios das grandes empresas ligadas à Fiesp.

Imperialismo

Pra finalizar, especialistas apontam um fator comum que une alguns elementos desses novos “velhos” setores golpistas: o imperialismo.

No dia 12 de maio de 1972, já com a ditadura instaurada, duramente comandada por Médici, com o objetivo de intensificar a repressão aos movimentos sociais, realizou-se uma reunião emblemática na sede da FIESP, unindo alguns setores do capital financeiro nacional e internacional.  Estavam presentes os representantes da Ultrafértil, Shell, Petrobras, do Grupo Ermírio de Moraes e da Porcelana Real.

Porta-aviões da marinha dos EUA atracado em Santos-SP, em 31 de março de 1964, no dia que antecedeu o golpe

O destaque maior vai para a presença de companhias petroleiras internacionais que, ainda hoje, vem atuando no plano de fundo do golpe, financiando e estimulando campanhas como a “lava-jato”, na tentativa de tomar algumas das riquezas nacionais que ainda restam em nossas mãos.

*com informações de Luiz Carlos Azenha, do Viomundo e Esquerda.net

*fotos: arquivo

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