Decisão
Por Antônio Claret Fernandes* Foto: Ísis Medeiros A mineradora vem querendo saber de tudo, um que outro fica mudo: assunta daqui e de acolá, acha aquilo esquisito sem saber no […]
Publicado 17/11/2015
Por Antônio Claret Fernandes*
Foto: Ísis Medeiros
A mineradora vem querendo saber de tudo, um que outro fica mudo: assunta daqui e de acolá, acha aquilo esquisito sem saber no que vai dar a promessa de progresso que está para chegar, esmola quando é demais até santo desconfia, e mineirice é assim: já nasce desconfiada, mas a empresa é ardilosa, vai e vem mais sorridente, abusa da inocência do povo trabalhador, usa a licença prévia pra invadir outras terras, e quando ganha na mansa a licença de instalação, as máquinas fuçam o chão na fome do capital, procurando a tão sonhada licença de operação, mais valiosa que o ouro, filha da promiscuidade entre o público e o privado no Estado liberal, aí o pau cai a folha, a cantiga muda de vez, o que era sorriso agora é prepotência, um camponês vira empregado e o outro é sitiado por não entregar sua casa, existe até quem chore tanto leite derramado, e o povo destinado a ser livre na vida, fica quase sem saída, escuta a banda passar, sente a montanha baixar-se, nota os vales se encherem, vê o minério ir embora no trilho do trem da Vale, fica uma esmola de nada com força de anestesia, e o povo segue esbarrado, de um lado lê a placa proibido entrada, de outro é cerca e muro e o portão de ferro fechado, e se a dor aumenta tanto com a anestesia atrasada, o operário faz greve e procura encontrar aquele que é o dono de tudo, mas sempre encontra somente quem não é dono de nada, a sociedade é anônima, Samarco é só apelido, então o que lhe resta é mesmo pedir licença, é um favor pra aqui, é o doutor dali, os tecnocratas confirmam que a vocação de Minas é mesmo a mineração, a sentença está data, ser um povo explorado nesse mercado global, mas pra tudo se dá jeito quando o jeito é lutar, pois gente tem sangue na veia e sentimento no peito, e com a barragem de rejeito que se rompe no dia cinco de novembro e vai destroçando tudo, irrompe a rebeldia, a dor que matava lenta mata de uma só vez, as famílias choram muito a perda de seus parentes, o Rio que era Doce amarga contaminação, está posta a contradição, não há mais anestesia capaz de conter a dor, nem pedido de licença a burguês e a doutor, o luto agora é a luta, arreda capitalista, tira a pata do minério, tira a pata da mineira, tira a pata do Brasil.
*Militante do MAB e padre