“Mariana corre risco de se tornar uma cidade com solo infértil”, diz pesquisador

Após a tragédia, caso a lama permaneça “onde está, naquela região por muito tempo não vai nascer nada, não vai se plantar nada. O rejeito anda pode assorear a calha […]

Após a tragédia, caso a lama permaneça “onde está, naquela região por muito tempo não vai nascer nada, não vai se plantar nada. O rejeito anda pode assorear a calha dos rios”, conclui professor da UFRJ.


Por Nadine Nascimento, do Brasil de Fato

Foto: Ísis Medeiros

Em nota em sua página na internet, a Samarco, mineradora responsável pela barragem de Fundão que rompeu na tarde da última quinta (5), em Mariana (MG), afirma que o rejeito que atingiu as casas da região “não apresenta nenhum elemento químico que seja danoso à saúde”, já que este seria composto apenas por “sílica (areia) proveniente do beneficiamento do minério de ferro”.

Ainda que não tenha riscos tóxicos, a permanência do material na região pode deixar o solo infértil, segundo o especialista em geotecnia e professor de engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mauricio Ehrlich.

Ele alerta dos riscos ao meio ambiente caso o material não seja retirado da área atingida, já que a lama, infértil, pode deixar a região improdutiva para a agricultura. “O dano existe porque foi depositado um monte de lama em cima de um terreno, acabando com a vegetação em todo o trecho. O rejeito deve ser retirado, pois se deixar a área se recuperar naturalmente levará muito tempo. Se permanecer onde está, naquela região por muito tempo não vai nascer nada, não vai se plantar nada. O rejeito anda pode assorear a calha dos rios. É um impacto importante, não dá para ser minimizado”, conclui o professor.

Para Márcio Zonta, militante do Movimento Nacional pela Soberania Popular Frente a Mineração (MAM), a Samarco, com sua nota, não mostra a real gravidade do acidente. Para ele, os moradores da cidade e o meio ambiente da região podem sofrer um risco ao entrar em contato com a lama. “É impossível ser só areia, a mineração é um processo químico e os rejeitos são tóxicos. Não tem como dizer que é só areia”, afirma.

O militante ainda aponta que demandaria muito tempo para reverter os danos. “Se fosse só areia não morreriam matas ao redor da barreira. Isso vira um colapso não só para as vítimas, mas também ambiental, contamina o solo, contamina as águas e rios, e é uma situação que não se resolve fácil. Pode-se levar muito tempo para haver uma estabilização ambiental, social e cultural. Mariana é uma cidade pequena e o impacto é ainda maior”, analisa.

Os impactos na saúde da população ainda não são claros. O “rio de lama” que iniciou em Mariana, seguirá por outras regiões mineiras e também chegará a cidades do Espírito Santo. No leste de Minas, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto do município de Governador Valadares emitiu comunicado em que afirma: “Os moradores devem economizar água ao máximo e tentar garantir o abastecimento com as próprias reservas de água (caixas). A Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros alertam ainda para que ninguém entre em contato com a água do Rio Doce. Por causa da lama densa e contaminada que vem pelo rio, da barragem rompida em Mariana, foi preciso interromper a captação e o tratamento de água, por causa do alto nível de turbidez da água.”

Já o professor Mauricio Ehrlich aponta que dos três tipos de rejeito classificados, o da barragem Fundão é tipo 2 e não causa danos toxicológicos. “O rejeito da barragem de Fundão é formado basicamente por partículas de quartzo e ferro com granulometria arenosa, não é um material muito fino, e esses materiais são geralmente inertes, então não se tem um material que interage com o meio ambiente. Certamente ninguém vai ficar doente pelo contato com esse material”, diz.

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