Os atingidos não vão pagar a conta do atraso de Belo Monte!
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) negou ontem o pedido da Norte Energia, dona de Belo Monte, para alterar o cronograma da obra. A obra está atrasada em mais […]
Publicado 29/04/2015
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) negou ontem o pedido da Norte Energia, dona de Belo Monte, para alterar o cronograma da obra. A obra está atrasada em mais de um ano. Com essa decisão, a Norte Energia vai ter de comprar energia no mercado de curto prazo para entregar às distribuidoras.
A Norte Energia ganhou o leilão de Belo Monte se comprometendo a vender energia a R$ 78 por MWh. O mercado de curto prazo é um antro da especulação sobre o preço da energia, no qual no ano passado essa mercadoria chegou a custar até R$ 822 por MWh. Fica fácil entender o chororô da empresa.
Para se justificar, a Norte Energia colocou a culpa nos atingidos e nos trabalhadores. Ela disse que o atraso foi por atos fora de sua responsabilidade, como protestos no canteiro de obras e greves. Até o judiciário e o órgão licenciador foram apontados como culpados. Engraçado que a empresa demorou a perceber esse problema, já que na época desses acontecimentos, ela sempre se posicionou publicamente dizendo que a obra estava parada apenas pontualmente e sem interferência no cronograma!
Diante desse fato, nós, atingidos pela obra, viemos dar um recado: NÃO VAMOS PAGAR A CONTA DESSE ATRASO!
Pelo histórico da construção de barragens no Brasil e pela própria postura que a Norte Energia já vem tendo no trato conosco, sabemos que a tendência da empresa é buscar reduzir nossos direitos para fechar essa conta.
No modelo energético, a energia é uma mercadoria muito valiosa e cobiçada. Construir barragens é um negócio bilionário, pois gerar eletricidade através da água custa muito barato e permite lucros extraordinários comparados com qualquer outra fonte de geração.
Quem sustenta esse modelo é a classe trabalhadora: é o povo pagando uma das tarifas de luz mais cara do mundo, são os trabalhadores superexplorados do setor, são os atingidos pagando com a violação de seus direitos. Tudo isso para sustentar um grupinho de especuladores a nível internacional que lucram bilhões com a venda da energia.
Belo Monte é um negócio que vai render mais de R$ 100 bilhões à Norte Energia nos 35 anos de concessão. Na ânsia do lucro, a empresa vem sistematicamente passando por cima dos direitos dos atingidos: o direito a uma nova casa não é garantido nem para a metade das famílias atingidas, a qualidade do reassentamento é péssima (falta até água!), muitas categorias impactadas, como carroceiros, pescadores e oleiros, não são reconhecidas, os índices de violência vitimam nossa juventude, as compensações para os indígenas só causam miséria nas aldeias e destroem seu modo de vida tradicional.
As tão propagandeadas condicionantes da obra são migalhas que não tem servido para desenvolver de fato a região. Além de atrasadas, são obrazinhas (reforminha de escola, postinho de saúde, quadrazinha, sistema de esgoto que não tem conexão com as casas). Elas até ficam bem bonitinhas nas fotos, mas são de péssima qualidade e nem de longe compensam o transtorno causado por Belo Monte na região de Altamira.
Nesse momento em que a classe trabalhadora sofre uma série de ataques a direitos historicamente conquistados, nós, atingidos por Belo Monte organizados no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), reafirmamos que não vamos abrir mão de NENHUM DIREITO. Nos somamos a nossos irmãos trabalhadores de todo o país que estão vendo que a saída para a crise é ocupar as ruas e lutar pela democracia, por direitos e contra a ofensiva do capital.
A CRISE É DOS RICOS E OS TRABALHADORES NÃO VÃO PAGAR A CONTA! O ATRASO É DA NORTE ENERGIA E OS ATINGIDOS NÃO VÃO PAGAR!
Água e Energia não são mercadorias!
Atingidos por Belo Monte da cidade de Altamira lutam para ser reconhecidos e garantirem direitos. Foto: Rogério Soares