Atingidos de Belo Monte sofrem extorsão em Vitória do Xingu-PA

Famílias atingidas pela especulação imobiliária causada pela Usina Hidrelétrica de Belo Monte são obrigadas a pagar aluguel em ocupação no Pará. por Joka Madruga, do Projeto Águas Para Vida Edevaldo […]

Famílias atingidas pela especulação imobiliária causada pela Usina Hidrelétrica de Belo Monte são obrigadas a pagar aluguel em ocupação no Pará.


por Joka Madruga, do Projeto Águas Para Vida

Edevaldo Costa, 56 anos, natural de Porto de Moz-PA, é um senhor franzino que no momento da conversa estava tremendo e suando por causa da dengue. Doente há três semanas e sem dinheiro para comprar remédios e alimentos, conta com a solidariedade dos vizinhos. Assim como outros moradores, sofre pressão de uma senhora que se apresenta como Nazaré e se diz ex-mulher do suposto dono da propriedade, o tal Paulista. Com as mãos trêmulas, mostra um “recibo” do pagamento de aluguel no valor de R$150,00.

O curioso neste caso é que o local foi ocupado pelas famílias justamente por não conseguirem pagar aluguel, devido ao inchaço populacional provocado pela Usina Hidrelétrica de Belo Monte na região. E o suposto proprietário, até o momento desta reportagem, não apresentou nenhum documento que comprove a propriedade da área. Os “aluguéis” na ocupação variam de R$100,00 a R$400,00 segundo uma pessoa que não quis se identificar, com medo de represália. Se as cobranças e as pressões forem feitas sem que o cobrador seja proprietário da área, o ato se constitui em verdadeira extorsão e aproveitamento das pessoas simples de Vitória do Xingu-PA.

Segundo os moradores, todo dia 15 de cada mês a Nazaré aparece para cobrar o aluguel. Se alguém nega o pagamento, ela faz ameaças de agressões físicas e de que irá chamar a polícia para tirar os residentes. Ela obriga os moradores a colocarem em suas portas um cartaz com o valor do aluguel pago no mês. Tal prática é ilegal, ainda que seja proprietária. A ação é vexatória e deve ser impedida pelo poder público, que também deve investigar o ato criminalmente. “Eu não tenho onde morar. Senão pagar ela ameaça chamar a polícia para nos tirar”, lamenta Edevaldo.

Atingidos

Para o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), é atingido toda pessoa que tem sua vida alterada com a construção de uma usina hidrelétrica. O alto preço dos alugueis na região de Altamira-PA, se deve pela crescimento da população que foi para lá trabalhar na obra. E muitas famílias, sem terem condições de pagar mensalmente por um teto, acabam ocupando áreas inabitadas. Por isso não são apenas os realocados pela inundação do lago que são afetados, mas toda a comunidade local.

Desvios de recursos

Circulou na imprensa de Altamira e região, nos últimos dias, a denúncia do deputado Zé Geraldo (PT-PA) contra o prefeito de Vitória do Xingu-PA, Erivando Amaral (PSB-PA). O deputado acusa o prefeito de desviar R$ 200 milhões de reais dos cofres públicos. Dinheiro oriundo de Belo Monte, já que a usina é construída no município de Vitória do Xingu, que recebe a maior parte dos royalties. O parlamentar paraense argumenta que 90% das obras realizadas naquele município, desde 2010, são condicionantes de Belo Monte executadas pela Norte Energia, empresa responsável pela construção da barragem. O município tem cerca de 15 mil habitantes.

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