Os Atingidos de Belo Monte
Fotorreportagem de Joka Madruga* Em Altamira, aproximadamente 10 mil famílias serão atingidas diretamente pelo lago de Belo Monte, segundo o Movimento dos Atingidos por Barragens. A empresa Norte Energia quer […]
Publicado 13/03/2015
Fotorreportagem de Joka Madruga*
Em Altamira, aproximadamente 10 mil famílias serão atingidas diretamente pelo lago de Belo Monte, segundo o Movimento dos Atingidos por Barragens. A empresa Norte Energia quer a usina em funcionamento até setembro e só construiu até o momento 4.100 casas para realocar os impactados. Uma conta que não fecha. Este foi apenas um dos motivos de centenas de pessoas terem manifestado contra Belo Monte na última quarta-feira (11). Confira abaixo o relato de homens e mulheres da região de Altamira que estão a sofrer com esta situação.
José Elio da Silva, 82 anos, o senhor Elinho, morador do bairro Novo Horizonte, no município de Brasil Novo-PA. Ele é vítima do aumento populacional na região, por causa da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Por conta disto, o preço dos aluguéis aumentaram de forma absurda impactando, principalmente, as cidades de Brasil Novo e Vitória do Xingu, no oeste do Pará. Não tínhamos onde morar e fomos ocupar lá (área que hoje é o bairro), relata o senhor Elinho.
O vereador João Artur (PMN), de Altamira-PA, fala sobre o reassentamento Jatobá, criado para reassentar os moradores impactados pelo lago da usina, e que está sem infraestrutura necessária para se viver. É com muita tristeza que vemos esta situação. Temos feito relátorios e encaminhados ao ministério Público Federal e notificado a Norte Energia por estas obras mal construídas (casas com rachaduras) e falta de políticas públicas. Não temos escolas, não temos creche, o Posto de Saúde não funciona como deveria e o transporte público não atendem 100%, relata João Artur.
Pedro Soares de Aragão, morador a 22 anos da Ilha da Fazenda, pescador que tem um forte sentimento pelo Rio Xingu e se queixa do descaso com sua comunidade por parte da Norte Energia. O rio Xingu para mim é uma riqueza, é de onde tiro o pão de cada dia. E eles (empresa) não dão assistência para nós do lado de baixo (sua comunidade fica abaixo da barragem), eles só ficam para o lado de cima, lamenta o senhor Pedro.
Luzia Silva da Costa, 58 anos, moradora da Ilha da Fazenda está angustiada com o futuro de sua comunidade. A situação está difícil para nós. Lá o rio vai secar (o rio deverá ser desviado do seu curso normal) e não teremos condições de ficar lá. Nós vivemos do rio, ele é nossa vida. Pois não podemos viver sem a água. Por isto estamos atrás de nossos direitos, reclama dona Luzia.
O casal Raimunda Fonseca Teixeira e Raimundo Santos da Costa são casados e vivem da pesca e agricultura em Vitória do Xingu-PA. Não serão atingidos pelo lago, mas vivem o problema da moradia que encareceu com a construção de Belo Monte. Antes o aluguel era de 50 a 100 reais, hoje varia de 400, 700 a 1000 reais. Belo Monte só tem trazido dificuldade para nós. Não poderemos mais pescar lá. O rio Xingu é nossa riqueza. Nascemos e nos criamos na beira do Xinguzão, desabafa o casal.
Uma categoria que não é atingida diretamente, mas já sofre as consequências de Belo Monte, são os carroceiros. Em Altamira há aproximadamente 130 deles, que transportam várias coisas como areia, tijolos, peixes, madeira, mercadorias que os ribeirinhos compram e precisam levar até os barcos, etc. O transporte com tração animal é dos mais baratos na cidade. E a forma que são impactados é por perderem os pontos de carroças e o aumento do tráfego no trânsito, colocando suas vidas em risco. Após o alagamento não deverão ter novos pontos e mesmo se tiver, eles alegam que irão perder muita freguesia, que foi realocada para lugares distantes. Belo Monte não nos reconhece como atingidos, lamenta o carroceiro Gilson de Jesus
Elisvaldo Crispim Gomes, o Val, morador da comunidade Asurini, em Altamira-PA, se sente acuado e com seus direitos violados por parte do Consórcio de Belo Monte. É do rio Xingu que tira seu sustento e lazer. Não sabemos como o Xingu ficará depois do lago. O que sabemos é que vai represar e poluir o rio. As madeiras não foram retiradas ainda. Não sabemos o impacto negativo que pode vir, como pragas, mosquitos, insetos peçonhentos. Outro problema é com a água potável para consumo humano, pois o lago irá afetar os mananciais que usamos, explica Val.
*O repórter fotográfico Joka Madruga está em Altamira (PA) pelo projeto Águas para a Vida. As informações estão sendo publicadas em seus perfis nas redes sociais e no portal terrasemmales.com.br. Para contribuir, acesse jokamadruga.com/aguas. (Edição de Paula Padilha, Terra Sem Males.)