Costurar para Falar: Direitos Humanos
Entre os dias 12 e 14 de Setembro, as mulheres do MAB levaram seus testemunhos de violação de direitos humanos à Conferência Internacional Costurar para falar: Têxtis que falam de […]
Publicado 21/09/2014
Entre os dias 12 e 14 de Setembro, as mulheres do MAB levaram seus testemunhos de violação de direitos humanos à Conferência Internacional Costurar para falar: Têxtis que falam de direitos humanos e de Experiências Terapêuticas, na Universidade de Webster, em Genebra.
Em parceria com a União Europeia, H3000, DKA e Sei so Frei, o MAB vem implementando um projeto de documentação e denuncia das violações dos direitos humanos em 11 casos de barragens.
Como parte do projeto, as mulheres atingidas estão recolhendo os seus testemunhos de violação de direitos com agulha e linha, criando peças têxtis (arpilleras) que representam a toda cor das perdas materiais e imateriais que sofrem por serem vítimas do modelo vigente de implantação de barragens em todo o Brasil.
Uma das peças elaboradas neste processo viajou até Genebra, levando a voz das atingidas por barragens do Brasil. Na arpillera Onde estão os nossos direitos?, as mulheres atingidas denunciam as principais violações que as mulheres sofrem vítimas deste modelo: a perda dos meios de vida e o vínculo com a terra e produção; a privatização do rio, dos modos de vida tradicionais e seus ecossistemas; aumento de violência contra as mulheres, tráfico de pessoas e prostituição; violação do direito à participação, livre informação e tratamento discriminatório por parte das construtoras; e perda dos laços comunitários e de apoio caudado pelas remoções compulsórias.
O testemunho têxtil das atingidas do Brasil fez parte da Exposição Costurar para Falar Direitos Humanos junto com os trabalhos têxtis elaborados por outras artistas e grupos de mulheres da Palestina, Equador, Chile, Zimbábue, África do Sul, Quênia, Espanha, Irlanda, Reina Unido, Canada, Estados Unidos e Suíça, que na Universidade Webster, presidiu a conferência durante os três dias.
Três dias de conhecimento e troca de experiências vinculadas à luta por direitos humanos e a intervenções terapêuticas que utilizam a arte têxtil como meio para narrar o inarrável: abusos, vulneração de direitos humanos, lutos migratórios, traumas extremos, conflitos, exílio, tortura, morte tomaram forma através de retalhos, agulhas e linhas, para promover processos que permitam a cura, a conscientização, o empoderamento, a mobilização, a resposta e a luta.
Também houve tempo para costurar na oficina de arpilleras facilitada pela artista têxtil Deborah Stockdale. A peça We Exist (existimos) simboliza o processo de afirmação dos povos durante a semana de mobilização global que aconteceu também em Genebra no mês de junho, que pretendia denunciar a arquitetura da impunidade que no nível social e global protege às operações das empresas transnacionais em detrimento da garantia dos direitos humanos e ambientais. Na arpillera, o capital é representado por um homem de gravata com um maço de notas que se apropria do território, do rio e dos recursos naturais. O povo, representado como formiguinhas têm que deixar suas casas alagadas atrais e ir embora.