Atingidos pelo complexo portuário do Tapajós reivindicam direitos

Famílias atingidas pelo recém-construído Porto de Miritituba, na localidade de Nova Miritituba, no Pará, estão indignadas com a Bungue, dona do Porto. Sentem-se enganadas e lutam por conquistas de direitos.  […]

Famílias atingidas pelo recém-construído Porto de Miritituba, na localidade de Nova Miritituba, no Pará, estão indignadas com a Bungue, dona do Porto. Sentem-se enganadas e lutam por conquistas de direitos. 

No início de abril, elas fecharam a estrada que dá acesso ao Porto e, quando receberam reintegração de posse, foram para a Transamazônica, impedindo a passagem de todos os caminhões, que ficaram parados no estacionamento. Com essa paralização, que durou mais de uma semana, conquistaram um poço para captação de água e um transformador. Houve promessa de piçarramento das ruas. E existem promessas mais antigas, como construção de creche (iniciada, mas parada) e posto de saúde.

Fernando, um dos moradores, contou que Nova Miritituba se iniciou a partir de 2011 com 93 famílias que moravam numa área de risco, atingidas por um desmoronamento de terra, às margens do Tapajós, chamada Buritizal. Com os andamentos para a construção do Porto da Bungue, elas foram retiradas com o compromisso para cada família ter um lote, uma casa de alvenaria e 8 mil reais. Até hoje, o compromisso não foi cumprido pela Bungue. As famílias receberam apenas o lote e quem tinha condições financeiras foram construindo suas casas. “Existe barraco até hoje”, afirma.

Hoje Nova Miritituba cresce, e tem em torno de 600 famílias. Ele afirmou que “todos estão animados nessa batalha pelos direitos, ainda mais agora que a força é maior” ressaltou.             

Fernando conta ainda que ouviu dizer, que a Prefeitura de Itaituba recebeu uma quantia para resolver os problemas das famílias, mas nada foi feito até o momento. E afirmou: “a gente não fica tranquilo e não vai parar enquanto não tiver todos os direitos garantidos, inclusive o título definitivo do terreno”. 

Além das promessas não cumpridas por parte das empresas do Agronegócio, as famílias sofrem com a insegurança e a poeira da estrada, principalmente por causa dos caminhões das empresas, que passam de 5 em 5 minutos.     

As famílias denunciam também que a poeira da soja envenenada que vem do Porto (a 6 km, mas muito próximo em linha reta) está provocando febre e problemas respiratórios, sobretudo nas crianças e idosos. E desabafam: “a Bungue é uma das maiores empresas do Agronegócio e o que estamos reivindicando é uma migalha, a gente tem que ser atendido”. 

Fred, militante do MAB na região do Tapajós, afirmou que “vocês são lutadores; viemos hoje aqui para ajudar a juntar a força de vocês com as ocupações urbanas, com os ameaçados pelas barragens do complexo Tapajós, assim a força do povo organizado vai aumentar”. E ficou encaminhado um próximo encontro para os próximos dias. 

O complexo portuário do Tapajós é o conjunto de 23 terminais que concluídos terão a capacidade de escoar até 20 milhões de toneladas de grãos de Mato Grosso pelos portos da Bacia Amazônica (Santarém (PA), Vila Rica (PA) e Santana (AP)).  Estima-se que investimentos na construção de estações de transbordo, armazéns, terminais portuários, empurradores e embarcações deve custar mais de R$ 3 bilhões. O porto faz parte de um conjunto de obras de infraestrutura para o Capital no Pará que contempla portos, hidrovias ferrovias, rodovias, mineração e etc. que vai consumir 150 bilhões de reais entre 2012 e 2016.

Pelo menos oito empresas já adquiriram terrenos em Miritituba para a construção de estações de transbordo à margem do Tapajós, destas, ao menos quatro – as tradings americanas Bunge e Cargill e as operadoras logísticas Hidrovias do Brasil e Cianport – possuem projetos em estágio final de licenciamento ambiental. Ambas estão organizadas na Associação dos Terminais Privados do Rio Tapajós (ATAP).

A construção do porto abre uma nova rota de exportação do agronegócio no país que encurta em 320 km o caminho dos sojicultores do Mato Grosso até o porto da Cargil em Santarém e torna mais atraente a expansão da soja para a Transamazônica, rumo ao Médio Xingu, onde está sendo construída a Barragem de Belo Monte.

Hoje, mais de 70% da safra mato-grossense é escoada pelos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR), a mais de 2 mil quilômetros da origem. Alguns caminhões vão ainda mais longe, até São Francisco do Sul (SC) e Rio Grande (RS). 

As hidrelétricas planejadas para o rio Tapajós tem sido o carro chefe das discussões e implantação dos megas empreendimentos na região, porém os impactos sociais e ambientais já afloram na região e a população mais uma vez sofre com as violações dos direitos humanos. O MAB tem buscado trabalhar na região em busca de direitos dos atingidos e na garantia de um desenvolvimento popular para o Tapajós.  

Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro