Rio Madeira vai continuar subindo, diz defesa civil

  por Elaíze Farias, da Amazônia Real O volume de chuvas na região de Porto Velho (RO) permanecerá elevado e o nível do rio Madeira vai continuar subindo, segundo informações […]

 

por Elaíze Farias, da Amazônia Real

O volume de chuvas na região de Porto Velho (RO) permanecerá elevado e o nível do rio Madeira vai continuar subindo, segundo informações do coordenador da defesa civil da capital de Rondônia, Coronel José Pimentel.  A cheia deste ano do rio Madeira, em Rondônia, é a maior já registrada desde que o nível passou a ser medido. 

O número de famílias desalojadas e desabrigadas, a maioria residentes em vilas, assentamentos e distritos de Porto Velho, também cresceu.  A Defesa Civil de Porto contabilizou neste domingo (23) exatas 1.632 famílias diretamente atingidas.

A quantidade deve aumentar tendo em vista que muitas famílias permanecem em suas casas, mesmo que muitas delas já estejam inundadas. As áreas mais afetadas são o baixo e o médio rio Madeira.

Neste domingo, o nível do rio Madeira teve uma oscilação. Subiu para 18,33metros, depois desceu para 18,30metros, mas subiu novamente alcançando a marca de 18,32 metros à tarde, segundo Pimentel.

“Vai continuar subindo, pois acabamos de receber um boletim do Sipam (Sistema de Proteção da Amazônia) afirmando que continuará chovendo muito pelo menos nos próximos três dias”, disse o coordenador ao Amazônia Real. O Sipam é um órgão de monitoramento do governo federal que possui em suas estruturas um departamento de meteorologia.

Das mais de 1.600 famílias desalojadas e desabrigadas, a maioria está recolhida em casas de parentes. Aproximadamente 350 estão em escolas. Água potável e cestas básicas estão sendo distribuídas.

Porto Velho tem 12 distritos, além de aproximadamente 30 vilas e projetos de assentamentos. Um sobrevoo da Defesa Civil feito na tarde deste domingo identificou que o distrito Nazaré está praticamente submerso. Suas cerca de 500 famílias estão abrigadas na parte alta do local.

No distrito de Calama, na divisa com o Amazonas, 1.100 famílias estão afetadas, mas também permanecem na área. A vila de São Carlos é a mais “complicada”, conforme Pimentel. “Noventa por cento de São Carlos estão submersas”, disse.

As plantações dos pequenos agricultores foram destruídas pela elevação do rio Madeira, mas o governo de Rondônia iniciou ações para tentar salvar pequenos rebanhos de gado.

“O volume de chuvas está fora do padrão. O nível aumentou de forma considerável”, disse Pimentel.

Indagado sobre a influência das barragens das usinas hidrelétricas Jirau e Santo Antônio na magnitude da cheia e nos impactos nas vilas e distritos afetados, o coordenador da defesa civil disse que não podia fazer tal afirmação, mas adiantou que o assunto “será discutido quando o momento atual passar”.

“Agora queremos salvar vidas. Mas as usinas serão discutidas depois da reconstrução do cenário atual. Vamos ter que colocar as questões referentes ao processo erosivo acentuado, que antes não havia em outras enchentes”, disse o coordenador.

Distrito do Abunã

Mesmo localizada em uma área alta de Rondônia, o Distrito do Abunã, que faz parte da jurisdição de Porto Velho, está seriamente afetado e isolado. Seus moradores estão sem condições de sair da área pois a BR-364, que dá acesso a Rio Branco, capital do Acre, foi interditada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) devido à subida do rio Madeira. Os moradores só podem se deslocar em pequenas embarcações.

Amazônia Real conseguiu falar por telefone com uma moradora de Abunã, a aposentada Maria de Lourdes Magalhães, de 81 anos, e sua filha, Damiana Magalhães Soares, 53.

“Estamos ilhadas. A água está chegando ao meu banheiro. Não sabemos como sair daqui. Ainda temos comida porque minha filha tem um pequeno comércio. Outras famílias estão se alimentando das cestas básicas que distribuíram”, disse Maria de Lourdes, que mora em Abunã há mais de 40 anos (é natural do Acre) e disse nunca ter testemunhado numa cheia desta magnitude.

Damiana Soares disse que muitas pessoas do Distrito de Abunã estão se preparando para sair de suas casas por conta própria. “O pessoal que fica mais próximo do rio está praticamente debaixo d´água. Algumas pessoas que haviam se mudado e voltaram estão novamente saindo de suas casas. Meu gado está ilhando, só num pedacinho de terra. Está morrendo muito animal silvestre”, disse.

Moradora da região desde a adolescência, Damiana Soares afirma que nunca tinha visto uma cheia tão elevada. Para ela, contudo, a enchente na região de Abunã está acentuada devido à influência dos efeitos das barragens construídas pelas usinas. “Aqui perto tinha uma cachoeira imensa que sumiu. Desviaram o canal do rio. Não ficou nada para bloquear (o rio). A água das barragens inundou a estrada”, contou.

O coronel José Pimentel disse que uma equipe da Defesa Civil está em Abunã para atender os moradores. “Lá está isolado, mas não tem o mesmo problema que outras localidades. Há outros lugares onde a água já passou da janela”, afirmou.

Usinas

O Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) não tem dúvidas da força do impacto das duas usinas hidrelétricas construídas no Madeira (Jirau e Santo Antônio) agravou a cheia em Rondônia.

João Dutra, militante do MAB, diz que “não há como não ter influência”, tanto é que, destacou ele, a Usina de Santo Antônio desligou turbinas para reduzir o impacto da enchente. “Santo Antônio diz que a (a cheia) foi uma surpresa. Mas uma das condicionantes dela era manter um programa de monitoramento climático justamente para que a usina operasse de acordo com esse tipo de circunstância”, disse Dutra.

João Dutra conta que na semana passada o MAB se reuniu com o governo de Rondônia, Prefeitura de Porto Velho, Ministério Pública e usinas para dar encaminhamento às agendas de debate sobre as compensações que deveriam ter sido executadas pelas usinas e que não foram implementadas.

“No dia 17 a gente bloqueou a BR-364 para protestar contra as usinas e para obrigar o Ibama participar das reuniões e conversar. Já tínhamos tido outras reuniões, mas não deram encaminhamentos à pauta que o movimento apresentou”, disse Dutra, lembrando que muitos projetos apresentados como condicionantes não foram executados pelas hidrelétricas.

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