Protestos contra leilão de Libra são duramente reprimidos

  Gilka Resende, do Brasil de Fato Foto: Pablo Vergara   Em pleno feriado do Dia do Comércio, a maior reserva de petróleo e gás do pré-sal já encontrada no […]

 

Gilka Resende, do Brasil de Fato

Foto: Pablo Vergara

 

Em pleno feriado do Dia do Comércio, a maior reserva de petróleo e gás do pré-sal já encontrada no país foi mesa de negócios na tarde dessa quinta-feira (21) no Hotel Windsor, na orla da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. Contrários à privatização do Campo de Libra, manifestantes foram duramente reprimidos. Pelo menos seis pessoas ficaram feridas.

O protesto reunia cerca de 500 pessoas, entre integrantes de sindicatos, organizações e movimentos sociais. Às 10h45, oficiais lançaram as primeiras bombas de gás lacrimogênio e atiraram com escopetas de balas de borracha. “Eles já tinham usado spray de pimenta nos manifestantes quando as grades que impediam a passagem caíram. Imediatamente, os oficiais começaram a jogar as bombas e tacar balas de borracha para tudo quanto foi lado. Logo já vi duas pessoas muito machucadas, sangrando na cabeça e no peito”, conta Marcelo Durão, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

A partir daí foram vários momentos tensos durante o protesto. Helicópteros da polícia deram rasantes mais baixos que os prédios de quatro andares. Após cada momento de violência, os manifestantes se afastavam e voltavam a se reagrupar. Parte deles, que ocultava o rosto com máscaras e blusas, utilizaram tapumes de metal que isolavam obras próximas para proteger a manifestação. Revoltados, promoveram quebra-quebra, queimaram lixeiras e fizeram pichações críticas ao leilão de Libra. Também reagiram com cocos e pedras.

Cerca de 1.100 integrantes das Forças Armadas, da Força Nacional de Segurança, do Batalhão de Choque, entre outras instâncias de segurança pública, foram deslocados para o local. Todos com máscaras de gás, capacetes e roupas semelhantes a armaduras.

“Eles tentaram impedir a gente de fazer a manifestação de todo jeito. Já bem cedo, por volta das 7h, não queriam deixar o carro de som encostar. Depois, fecharam as ruas todas e dificultando a chegada dos ônibus com manifestantes”, reclamou Edson Munhoz, do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ).

 

Resistência durou mais de quatro horas

“Eu estava na linha de frente da barreira de escudos. O objetivo era avançar um pouco mais e a gente também quis se proteger. Eu vim de Minas Gerais para o protesto e vejo essa violência aqui no Rio. É nosso dever atuar na luta política contra esse roubo que é o leilão”, disse Glauber Ataíde, do Sindicato do Trabalhadores em Informática e Processamento de Dados (Sindados).

Glauber foi atingido por uma bomba que causou queimaduras no peito e braço, sendo atendido por socorristas que davam apoio ao protesto. O sol forte e a falta de locais para comprar água fez com que muitos passassem mal, principalmente idosos. Um frei franciscano, de mais de 80 anos e com dificuldades de andar, teve que ser resgatado em meio ao gás, que irrita os olhos e provoca falta de ar.

 

Abusos de poder

A manifestação realizada na Barra se encerrou por volta das 15h. A maioria dos manifestantes já tinha partido quando um banheiro público foi incendiado. Bem afastado do fogo, Edson dos Santos, de 61 anos, foi cercado por três soldados da Força Nacional, que o revistaram e o levaram “para trabalho preventivo”.

“ Apertaram meu braço e colocaram para trás. O capitão disse que ele me ouviu dizendo que ia tacar o fogo, mas como? Ele estava tão longe de mim. Eu fui levado pelos soldados à presença dele. Falei que ele estava colocando palavras na minha boca. Eu estava gritando que não ia ter Copa do Mundo, só isso. Acho que foi preconceito, porque os negros não têm oportunidade”, disse Edson, que integra a Frente Insternacionalista dos Sem-Teto ( Fist).

Pouco depois das 16h, mais bombas foram lançadas na praia em meio aos banhistas. “Soltaram três e todo mundo correu. Fiquei com muito medo”, disse Auricélio Ferreira, morador de Rio das Pedras. Ele, que tem dificuldades motoras do lado direito, apenas tinha ido dar uma volta na orla com seu triciclo adaptado.

“Não estava acontecendo nada demais. Só uma pessoa tava gritando contra o leilão. Outras pessoas também falaram, porque não estão contentes com essa entrega do petróleo. Aí eles tacaram bombas e dois deles mandaram mais bala de borracha”, disse o artista plástico João Adné. Adolescentes que jogavam bola na areia também foram atingidos. “A polícia chega de bobeira aqui. Atirou em todo mundo aqui, quase me machucou. Eu fiquei sem conseguir respirar, foi horrível. Ardeu meu nariz. Eles ficam o tempo inteiro no quartel e quando chega aqui quer atirar. Maior vacilo!”, concluiu o morador da Barra Pedro Gonzaga, de 14 anos.

 

Bandeira do Brasil

Por volta das 14h25, o engenheiro Luiz Carlos Ramos Cruz conseguiu furar o bloqueio das Forças Armadas e chegar ao salão onde dentro de meia hora começaria o leilão de Libra. De terno escuro, óculos e bengala, o militante da campanha “O Petróleo Tem que Ser Nosso” e diretor do Sindicato dos Engenheiros gritou em alto e bom som: “O petróleo tem que ser nosso, leiloar Libra é crime”. A cena foi filmada pela TV Globo, mas não foi colocada ao vivo no ar.

Luiz Carlos carregava um vela preta, em sinal de luto, e uma bandeira do Brasil, que estendeu diante dos compradores estrangeiros. Bastante emocionado, ele foi retirado do local do leilão por um delegado da Polícia Federal e escolta. Passou pela entrada do prédio, diante do I Pelotão, em meio a um confronto entre soldados e manifestantes, que se defendiam com pedras.

O engenheiro foi entrevistado por várias emissoras de TV, dentre as quais a Web TV Petroleira que divulgará seu depoimento na íntegra, relatando a experiência e como conseguiu furar todo o aparato militar. (com informações da Agência Petroleira de Notícias).

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| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

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