No Pará, movimentos debatem impactos de grandes projetos na Amazônia
Cerca de 60 pessoas entre quilombolas, extrativistas, indígenas, ribeirinhos e trabalhadores rurais representando mais de 20 organizações participaram do Seminário Regional Desenvolvimento e Direitos Humanos na Amazônia realizado pela organização […]
Publicado 27/03/2013
Cerca de 60 pessoas entre quilombolas, extrativistas, indígenas, ribeirinhos e trabalhadores rurais representando mais de 20 organizações participaram do Seminário Regional Desenvolvimento e Direitos Humanos na Amazônia realizado pela organização de direitos humanos Terra Direitos nos dias 22 e 23 de março, na cidade Itaituba, oeste do Pará.
Durante o Seminário, foi debatido o papel dos movimentos e das comunidades tradicionais no processo de resistência ao projeto de desenvolvimento que está sendo imposto na Amazônia, que inclui a construção de portos, a expansão do agronegócio e da exploração mineral, além do avanço do projeto de construção do Complexo Hidrelétrico Tapajós.
Entre os debatedores estiveram advogados, professores e militantes de movimentos que apresentaram uma análise ampliada sobre os diferentes aspectos da atual conjuntura e os desafios da luta popular. Iury Charles Paulino, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), contribuindo na discussão sobre grandes projetos e violação de direitos, insistiu que a Amazônia é a grande fronteira de acumulação do capital na atualidade, principalmente a bacia do Tapajós, e que é preciso fortalecer a organização do povo buscando torná-lo protagonista e não mero expectador das falsas promessas do governo e das empresas.
Consulta previa e participação popular
Entre os temas debatidos esteve o processo de regulamentação da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que prevê a consulta prévia aos povos tradicionais, indígenas e quilombolas caso estes tenham seus territórios ameaçados por qualquer empreendimento. No Brasil, o governo brasileiro quer iniciar a regulamentação buscando discutir com o povo Munduruku a implantação de barragens no Tapajós. Em recentes manifestações, inclusive em atividades do MAB, eles já afirmaram que são contra as hidrelétricas e farão guerra caso seja necessário defender seu território.
Para Thiago Alves, membro da coordenação estadual do MAB, a consulta pode significar um avanço se for um instrumento de aprofundar a organização popular. É necessário ter claro que esta pode ser uma armadilha. Muitos podem acreditar que pela consulta podem dizer NÃO aos empreendimentos e isto não é verdade. Precisamos ter claro que ela é uma conquista da luta dos povos no mundo inteiro e deve ser um instrumento de trabalho de base, organização e luta dos trabalhadores, declarou.
João Tapajós, indígena Arapiun e presidente do Conselho Indígena Tapajós Arapiuns (CITA) de Santarém, afirmou que é preciso fortalecer a luta do povo para pressionar empresas e governos que querem impor os grandes empreendimentos. Para ele, encontros como o ocorrido em Itaituba contribui para mobilizar, conscientizar e capacitar as lideranças para que elas possam fortalecer internamente as suas lutas, expandir a aliança entre diferentes movimentos de diversos municípios, além de permitir que mais pessoas tenham formação, principalmente a juventude.
Edmilson Ribeiro, morador de Pimental, comunidade ameaçada pela hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, sustenta que o encontro foi mais um passo para crescer a luta contra as barragens. A gente sentiu que ficou mais fortalecido, aprendeu mais como lidar com estes empreendimentos. A experiência vai ajudar a melhorar o grupo da comunidade que permanece em luta.
Para Érina Batista Gomes, assessora jurídica da Terra de Direitos, o Seminário foi um importante espaço para debater as violações de direitos humanos e as principais questões enfrentadas na Amazônia somado ao esforço de contribuir na articulação regional. O evento visava contribuir para esse processo de articulação entre as diversas comunidades da Região Oeste do Pará, trazendo a compreensão de que somente a articulação e a união poderão fazer frente aos desafios enfrentados por cada um desses atores locais, uma vez que o modelo de desenvolvimento, embora de diferentes maneiras, afeta a todos.
Ao final das discussões, foi encaminhado que é preciso construir uma aliança regional em torno da resistência popular e da elaboração de uma proposta alternativa de desenvolvimento para a região amazônica e, para tanto, novos encontros serão marcados para ampliar a discussão e avançar nas ações conjuntas.