Jornada Pedagógica vê caráter colonialista em programas para a Amazônia
A Jornada Pedagógica da III turma de Formação da ENFOC Escola Nacional de Formação da Contag está realizando atividades no Pará entre os dias 15 a 25 de outubro, […]
Publicado 21/10/2012
A Jornada Pedagógica da III turma de Formação da ENFOC Escola Nacional de Formação da Contag está realizando atividades no Pará entre os dias 15 a 25 de outubro, envolvendo formandos de vários municípios, passando por Marabá, Anapu, Altamira, Medicilândia, Placas, Rurópolis e Santarém. O objetivo da Jornada é construir reflexões sobre a conjuntura da realidade agrária no Pará e na Amazônia, os empreendimentos do agronegócio e a luta dos trabalhadores. No dia 17, os debates aconteceram na Casa Familiar Rural, em Altamira, com presença mais de 100 pessoas, na sua grande maioria juventude.
O professor Willian Santos de Assis, do Núcleo de Ciências Agrárias e Desenvolvimento Rural da UFPA, debateu Amazônia em foco: principais temas em debate. Segundo ele, existe a Amazônia Legal, instituída pela Lei 5.173, de 27/10/1966, e a Amazônia real, um mosaico, com abundância de bens naturais terra, água, floresta, minério, biodiversidade, e o seu povo. Ele citou ainda os diversos programas do Governo para a Amazônia a partir da Década de 60: Sudam, PIN (Programa para a Integração da Amazônia), Polamazônia, Programas de Desenvolvimento Rural Integrados, Polonoroeste, Grande Carajás, Programa Piloto Internacional Para a Conservação de Florestas Tropicais, programas Avança Brasil e Brasil em Ação, e o PAC 1 e 2. Segundo Willian, todos esses programas têm em comum o caráter colonialista, com apropriação de bens naturais e acumulação de capital sem pensar no povo.
Belo Monte
A construção de barragens na Amazônia, entre as quais Belo Monte, está inserida nesse contexto de apropriação de bens naturais para acúmulo de capital. Valneide, sindicalista de Cametá, disse que diversas mulheres sofrem na região de Tucuruí com câncer do colo do útero, e que isso é uma das conseqüências da construção da barragem. Após tanto tempo, o povo continua sofrendo, pois a barragem é construída para as empresas. Ela ainda afirmou que o Xingu é o maior laboratório aquático do mundo, que nós somos donos dessas águas, dessas terras, precisamos superar a escravidão, precisamos nos organizar, não podemos mais apenas levantar crachá. O grande capital se veste de verde, mas continua matando o povo.
Padre Alírio, missionário na Prelazia do Xingu e responsável pela Área Pastoral de Assurini, prejudicada com a barragem de Belo Monte, onde moram em torno de 30 mil pessoas, revelou que, entre os mega interesses em Belo Monte, está a exploração de minério. Segundo pesquisas, existem 142 diferentes tipos de minério na região da Volta Grande do Xingu, trecho que ficará com apenas 20% da vazão atual do rio. A empresa canadense Belo Sun pretende tirar 50 toneladas de ouro em apenas 10 anos onde vivem trabalhadores explorando o minério de forma artesanal há mais de 50 anos. Alírio criticou ainda o que chamou de jogo de pára-choque, os mecanismos usados pela empresa para cooptar e dominar as regiões de seu interesse.
Avelino Ganzi, representante do Governo Federal e presente ao evento, defendeu o ex-presidente Lula, que, segundo ele, pensou um processo diferenciado para Belo Monte, com 3 bilhões e meio para fazer da implantação da barragem uma oportunidade de desenvolvimento da região. Admitiu, porém, que agora há uma articulação violenta e forte de setores conservadores. Isso confirma o dizer popular: quem manda e desmanda na região é a Norte Energia.
O MAB considera esse debate mais amplo da invasão da Amazônia fundamental, pois mostra que Belo Monte não é um caso isolado; a barragem faz parte de um desenvolvimento arquitetado internacionalmente, imperialista, que acumula capital com prejuízos irreparáveis para o ambiente e principalmente para o povo.