Terceirização no setor elétrico: alta tensão e baixa segurança

Acidentado esperou dezoito anos para receber pensão regularmente, depois de sofrer amputação. Por Daniele Silveira, da Radioagência NP Os trabalhadores que fazem parte de empresas prestadoras de serviço já correspondem […]

Acidentado esperou dezoito anos para receber pensão regularmente, depois de sofrer amputação.

Por Daniele Silveira, da Radioagência NP

Os trabalhadores que fazem parte de empresas prestadoras de serviço já correspondem a mais da metade da força de trabalho do setor elétrico brasileiro. O estudo mais recente elaborado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos) apontou índice de 58,3% de empregados nessa situação.

Além disso, o número de vítimas de acidentes fatais é cerca de três vezes maior que os ocorridos entre trabalhadores contratados. De cada 100 mil eletricitários terceirizados, 47,5 morreram durante o exercício da função.

Somente na Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), desde 1999 acontece a média de uma morte a cada 45 dias, segundo o sindicato que representa a categoria (Sindieletro/MG).

Milton Marcelino é um sobrevivente do trabalho precarizado. Aos 23 anos, prestava serviços para a Contemporânea Engenharia, empresa contratada pela Cemig. Em 1990, tomou um choque elétrico em uma linha de alta tensão enquanto substituía um poste. Em decorrência do acidente perdeu as duas pernas e o braço esquerdo. Ele relata a falta de treinamento técnico para os empregados terceirizados.

“Eu trabalhei na empresa da empreiteira, então eu nunca ouvi falar que teve preparo pra saber o risco que a parte elétrica pode causar à vida da pessoa.”

Milton ainda conta que a empresa restringia e até mesmo deixava de fornecer os equipamentos de segurança.

“No dia que eu sofri acidente eu pedi para trocar minha botina. A botina que eu estava usando era eu quem tinha comprado. A luva que eu estava usando, eu pedi para trocar. No almoxarifado, eles falaram que dava para usar a luva mais uns 15 dias ainda. E ela estava toda furada.”

A empresa terceirizada para qual Milton trabalhava faliu. A Cemig foi considerada pela justiça “responsável solidária” pelo acidente e foi condenada a pagar uma pensão vitalícia retroativa e indenização. Com os recursos apresentados pela companhia mineira e os atrasos no pagamento, somente depois de dezoito anos, Milton passou a receber regularmente.

Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro