Lutando por um novo projeto energético, MAB completa 20 anos
Fonte: Radioagência NP É uma vitória política da população atingida pelas construções de hidrelétricas do país, manter de pé, contra interesses tão poderosos, um Movimento de defesa que atua em […]
Publicado 15/03/2011
Fonte: Radioagência NP
É uma vitória política da população atingida pelas construções de hidrelétricas do país, manter de pé, contra interesses tão poderosos, um Movimento de defesa que atua em todo Brasil. A afirmação é do integrante da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Dalla Costa, que comemora, neste 14 de março, 20 anos de fundação do Movimento que, entre seus objetivos, luta por um novo modelo energético para o país.
14 de março também é celebrado como o Dia Internacional de Lutas Contra as Barragens, pelos rios, pela água e pela vida. Por isso, populações atingidas por barragens do mundo inteiro denunciam o modelo energético que tem causado graves danos sociais, econômicos e ambientais.
Em especial no Brasil, o MAB realiza diversos atos para denunciar os impactos das hidrelétricas para as populações e para o meio ambiente. Em entrevista à Radioagência NP, Dalla Costa faz um panorama do atual modelo energético do país. Entre os pontos ele destaca que é preciso fazer um grande debate sobre esse modelo e os perigos em torno da construção da hidrelétrica de Belo Monte. Além disso, ele defende que o governo brasileiro tenha o total controle do setor energético do país.
Radioagência NP: Dalla Costa, em qual contexto surgiu o MAB?
Dalla Costa: Sempre se construiu grandes obras. Muitas vezes não respeitavam os direitos das famílias que eram expulsas por causa da construção. Já que dizem que as grandes obras são para beneficiar a população, então nada mais justo beneficiar, primeiramente, os atingidos. Eles têm direitos de opinar se a obra é viável ou não. Outro, as famílias devem reivindicar o que no mínimo é a reparação dos seus direitos, que envolvem indenização, reassentamento, recuperação das comunidades afetadas. O símbolo da luta do MAB é a luta pelos direitos.
RNP: Muitos críticos dizem que a pauta do Movimento é um freio no progresso e desenvolvimento do país, qual sua avaliação sobre isso?
DL: O MAB não é contra o desenvolvimento e nem contra o progresso do país. Queremos o desenvolvimento do país e das pessoas. Porém, o desenvolvimento não pode ser feito a custa da expulsão das famílias de suas terras e da destruição do meio ambiente. Nem sempre grandes obras significam desenvolvimento. Existem obras que são retrocesso e atraso para o país.
RNP: Você pode explicar melhor esta afirmação?
DL: Temos que saber que tipo de progresso as pessoas falam. Construir obras que beneficiam a retirada de minério de ferro do Brasil que é exportado a um preço baixo, que não paga impostos e que destrói a natureza não é progresso. Explorar a população no preço da energia não é progresso. Dar lucro para empresas multinacionais também não é progresso. Queremos que todos os brasileiros tenham energia elétrica com um preço mais acessível.
RNP: Qual a opinião do MAB em relação às polêmicas em torno da construção da Hidrelétrica de Belo Monte ?
DL: Atinge terras indígenas, atinge o rio que o índio usa para pescar, ou seja, altera as condições. Ela está sendo pensada especialmente para atender esse modelo que prevê a exploração dos recursos naturais e da energia do Brasil para exportar o minério de ferro, que é a coisa mais atrasada do mundo. Certamente, se houver pequenas mudanças no sistema de exportação desse minério, não haveria necessidade da construção da usina de Belo Monte. Pior, ela envolve dinheiro público do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] para beneficiar poucas empresas nacionais e multinacionais.
RNP: E qual é o modelo defendido pelo MAB?
DL: É preciso fazer um grande debate sobre o modelo energético do Brasil. Somos contra usar grande quantidade de energia para exportar o mineiro de ferro com baixo custo, sem pagar imposto e apenas para dar lucro para poucas empresas. A Europa está fazendo estoque de minério de ferro à custa da destruição do meio ambiente e da construção de hidrelétricas aqui no Brasil. Se esse modelo fosse revisto, teríamos energia necessária para os próximos 15 anos sem necessidade de construir hidrelétricas. Têm várias medidas que podem ser adotas, mas para isso deve haver um enfrentamento a este atual modelo que consome energia para a exportação.
RNP: Como você explica os altos valores cobrados nas contas de energia da população brasileira?
DL: É cara porque grande parte da energia está na mão das multinacionais. O custo de geração de 1 kilowatt de energia é de R$ 0,6. Mas ele é vendido por R$ 0,50 para a população que precisa da energia, ou seja, quase dez vezes mais do que custou da produção. E esse dinheiro vai para as multinacionais. Além disso, têm os impostos que o governo arrecada e que muitas vezes acabam voltando para beneficiar as empresas geradoras de energia. O custo da geração de energia no Brasil é muito barato, mas por estar na mão das multinacionais se torna muito caro. Se essa energia estivesse na mão do governo, o valor seria pelo menos 50% mais barato.
RNP: Qual a importância do MAB no atual momento do Brasil?
DL: O próprio ex-presidente Lula e os relatores dos direitos humanos reconheceram que o MAB está prestando um grande serviço para a democracia brasileira. O MAB está conquistando politicamente um espaço de defesa dos direitos dos atingidos de questionamento da política energética e pensando um novo projeto, um projeto popular na área de energia para o Brasil. É neste sentido que o MAB é vitorioso nos seus 20 anos.