Começa em México Encontro de Atingidos e Atingidas por Barragens

Rádio Mundo Real Dialogamos com María Alcaraz Martínez, habitante de Temaca, sobre os cinco anos de luta de sua comunidade contra a barragem El Zapotillo e o Encontro Internacional “Rios […]

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Dialogamos com María Alcaraz Martínez, habitante de Temaca, sobre os cinco anos de luta de sua comunidade contra a barragem El Zapotillo e o Encontro Internacional “Rios para a Vida 3”.

“Soubemos que pensava-se construir uma barragem em El Zapotillo e que nosso povo, Temaca, ficaria sob água… o Governo jamais veio nos informar”.

Assim começou, há cinco anos atrás, em Temacapulin, estado mexicano de Jalisco, o longo périplo dos 400 moradores que acabou num encontro internacional que triplicará sua população e colocará literalmente “os olhos do mundo” sobre esta comunidade situada a três horas da metrópole de Guadalajara.

Uma notícia televisiva, um comentário oficial, que equivalia ao desaparecimento deste povoado, a inundação de terras que são habitadas desde o século VI. Saibam e preparem-se para ser desalojados.

É o que conta a um dia de começar o encontro, María Alcaraz Martínez, uma das líderes locais na resistência, ao tempo que mostra orgulhosa seu limoeiro e sua planta de feijão.

A população de Temaca, com o acompanhamento de várias redes de luta contra as mega-barragens, como o Mapder (Movimento de Atingidos por Barragens) não tem desistido de sua demanda contra a barragem de el Zapotillo.

No caminho, uma população reduzida e introvertida aprendeu a se organizar e a se relacionar com outras populações dentro e fora do México, ao reconhecer-se como parte de um problema comum em muitos pontos do planeta.

“Antes éramos como ‘rancheros’”, explica María, referindo-se a que tratava-se de uma comunidade tímida. “Mas hoje nos comunicamos com as pessoas que vem e isso para mim, tem sido um progresso, porque estavamos isolados e hoje já não estamos”, reflete a moradora de Temaca, que tem claro que “onde é feita uma barragem nunca há progresso, pelo contrário”.

Em María e outros habitantes nascidos e criados em Temaca está desta resistência. Mesmo assim, “muitos se deprimiram, sobretudo os mais velhinhos… embora os jovens estão muito decididos nesta luta”, conta María.

Todos os delegados ao 3º Encontro de Atingid@s pelas Barragens e seus Aliad@s serão alojados em casas de famílias que têm oferecido seus quartos disponíveis para as quase mil pessoas que chegarão para as sessões e as visitas pelas zonas rurais que seriam inundadas, caso prospere o projeto Zapotillo.

Da escola à catedral local há cartazes com mensagens de boas-vindas e resistência transmitindo uma férrea vontade de não abandonar seu solo e seu patrimônio em favor de um projeto que não os compromete em absoluto. É que nem a energia elétrica gerada pela barragem nem a disponibilidade de água irão em benefício dos moradores do estado de Jalisco, afirma María.

“Não querem a água para aqui, a água vai ir diretamente a Guanajuato, aos empresários”.

“Não queremos seu novo povo, definitivamente. Se nos vão inundar que nos inundem, mas aqui permaneceremos”, diz María.

 

 

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