Uma janela entreaberta

A crise financeira global escancarou a podridão interna do sistema capitalista, cujo motor é o lucro a qualquer preço, e deixou, à descoberta, a sua fragilidade. Isso é a principal […]

A crise financeira global escancarou a podridão interna do sistema capitalista, cujo motor é o lucro a qualquer preço, e deixou, à descoberta, a sua fragilidade. Isso é a principal novidade dessa crise, que reabre o espaço para o debate sobre um novo modelo de sociedade.

Os capitalistas do mundo inteiro, de fato, não estão tão seguros de si. As principais bolsas do mundo caem e o Estado burguês injeta quantias astronômicas de dinheiro público para salvar bancos, montadoras e etc. Qual a lição disso? O capitalismo é insustentável. Ele só se sustenta na sua aparência porque é mantido e socorrido pelo dinheiro público.

Engana-se, porém, quem imagina que com essa crise os capitalistas buscam, agora, mudanças de rumo. Não! Eles estão se esperneando, mas é com vistas a novas formas de acumulação e de lucro. Estão procurando mudanças, mas todas periféricas. A essência do sistema, o lucro, continuará intacta.

É claro que quando falam de nacionalização de bancos e empresas não estão, nem de longe, pensando num modelo socialista de sociedade, como existe em Cuba e em vias de construção na Venezuela, Bolívia, Equador e, agora, no Paraguai, com a eleição de Fernando Lugo, bispo católico. Os capitalistas, do Brasil e do mundo, nos governos e nas empresas, querem continuar loucamente buscando o lucro. Isso é muito bom para eles!

A tese do mercado regulador caiu por terra. Agora todos defendem um Estado intervencionista – embora alguns já o fizessem na prática sem defender -, vendo nisso uma nova oportunidade de acumulação. A nacionalização para eles significa a oportunidade, no clima da crise, de transferir dinheiro público para os cofres privados.

Apenas uma mudança importante pode-se vislumbrar com essa crise. Após a queda do socialismo no Leste Europeu, melhor expresso com o nome capitalismo estatal, o sistema capitalista arrotou valentia e posou para o mundo como o único modelo de organização de sociedades. Hoje existe uma janela – embora apenas entreaberta, pois os capitalistas teimam em fechá-la – para um debate profícuo sobre um novo Modelo.

A situação caótica do mundo, com a degradação da natureza e das diversas formas de vida, principalmente das pessoas, coloca, como afirma Florestan Fernandes, ‘o socialismo como uma necessidade’. A fresta dessa janela poderá abrir-se de par em par com a organização do povo.

É certo que o capitalismo não é auto-destrutivo nem morrerá de velho. Mas se num momento de crise como esse o povo se organiza ele poderá, sim, sofrer um golpe mortal. E o mundo socialista poderá respirar aliviado, sem nenhuma saudade desse monstro insaciável.

 

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