“Mesmo que eles nos indenizem, não vai ter dinheiro nenhum que pague a história da nossa vida”

Por Neudicléia de Oliveira, de Belo Oriente (MG) Fotos: Leandro Taques Junto com a lama tóxica, esparramada após o rompimento da barragem de rejeitos da Samarco (Vale/BHP Billiton), veio a […]

Por Neudicléia de Oliveira, de Belo Oriente (MG)

Fotos: Leandro Taques

Junto com a lama tóxica, esparramada após o rompimento da barragem de rejeitos da Samarco (Vale/BHP Billiton), veio a tristeza, a incerteza e principalmente um sentimento de impotência das famílias ribeirinhas que vivem às margens do Rio Doce.

Vendedores de leite de cabra, o casal Sebastião Cirilo de Souza e Lúcia Maria de Andrade vivem em uma pequena casa no distrito de Cachoeira Escura, município de Belo Oriente (MG). O distrito dependia diretamente do Rio Doce para captação e distribuição de água para a comunidade.

Morando na beira do Rio Doce há mais de 70 anos, Sebastião diz que o aborrecimento foi momentâneo quando viu a lama tomar conta do rio. “Eu nunca vi coisa igual, esse barro cada dia desce mais rio abaixo. Eu fui atingido e muito, não tem quem não foi atingido aqui”, relatou.

Apesar de todo o prejuízo material e emocional, até o momento a Samarco não fez o levantamento das perdas e nem procurou o casal para informar se receberão algum tipo de reparação ou indenização. “A gente espera que, pelo menos, a Samarco resolve a questão do nosso acesso à água. Eu e minha esposa já não estamos mais em condições de saúde para ficar carregando água para dentro de casa”, afirmou.

Seu Sebastião considera que essa tragédia não foi um acidente. “Isso aí foi o maior crime ambiental que eu já vi na minha vida, mesmo que eles nos indenizem, não vai ter dinheiro nenhum que pague a história da nossa vida e das demais famílias que do Rio Doce se sustentavam. Porque não olharam e arrumaram essas barragens antes para evitar esse transtorno todo?”, questionou.

Dona Lúcia reclama das dificuldades para acessar água. “Na idade que estou minhas pernas não aguentam mais ficar carregando água de lá para cá e quando chego lá na bica tem aquela fila para poder pegar uns litros de água que usamos pelo menos para o café e para a comida”, contou.

De acordo com Camila Britto, militante do Movimento dos Atingidos Por Barragens (MAB) – que está compondo a Frente Lute pelo Rio Doce –, relata a negligência da Samarco em relação ao levantamento das famílias atingidas. “O número total de atingidos é bastante incerto, porque ainda não existe um levantamento completo e preciso e o critério que a Samarco vem utilizando provavelmente vai deixar muitas pessoas sem indenização”, explicou.

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