Militantes denunciam que Samarco, após 21 dias do rompimento, ainda não atende atingidos de forma eficaz
Seria uma bomba em cima da cabeça dos moradores e trabalhadores, alerta atingido sobre possível rompimento da terceira barragem. Por Victor Tineo, do Brasil de Fato Foto: Joka Madruga O […]
Publicado 27/11/2015
Seria uma bomba em cima da cabeça dos moradores e trabalhadores, alerta atingido sobre possível rompimento da terceira barragem.
Por Victor Tineo, do Brasil de Fato
Foto: Joka Madruga
O maior desastre ambiental da história brasileira completa nesta quinta-feria (25) 21 dias. O rompimento de duas barragens da mineradora Samarco no município de Mariana (MG) liberou 62 milhões de metros cúbicos de lama, o que que equivale a 62 bilhões de litros, no distrito de Bento Rodrigues.
Joceli Andreoli, da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), enfatiza que estes vinte e um dias representam uma situação de calamidade. Para ele, além da falta de comunicação dos governos, as ações da empresa não estão atendendo aos atingidos.
As famílias ainda estão nos hotéis, em situação precária. A empresa esta com um método muito lento para transferência das moradias provisórias, comenta. Joceli ainda explica que somente 25, das mais de 300 famílias, foram movidas das casas. Ontem a empresa teve a capacidade de apresentar um cronograma dizendo que as últimas [famílias] serão colocadas somente no final de fevereiro, concluiu.
A lama de rejeitos atingiu o Rio Doce, que corta diversos municípios. Muitos deles ficaram sem abastecimento de água, como em Governador Valadares. No último dia 17, os rejeitos chegaram à foz do Rio Doce e ao mar, no Espirito Santo, na cidade de Linhares.
Pescadores e especialistas temem a morte de peixes e os perigos de contaminação das águas. Os resíduos que atingiram o oceano podem conter minérios que afetam a biodiversidade marítima.
Novo rompimento
Na última terça-feira (24), informa Joceli, notícias sobre uma nova rachadura em paredes da terceira barragem assombram moradores de Mariana. A terceira barragem, segundo ele, tem cerca de 100 milhões de metros cúbicos de rejeitos, quase o dobro do que já foi despejado.
Estamos preocupados com isso. Ela [barragem] acumula muito mais rejeitos. Por mais que a indicativa técnica diga que é um rejeito sólido, mas acumula muito mais do que as outras duas. É mais de 100 milhões de metros cúbicos, segundo eles falam. Então seria uma bomba em cima da cabeça dos moradores e trabalhadores, desabafa Joceli.
Com o risco de rompimento, famílias ribeirinhas estão sendo remanejadas para outros lugares. Muitas se negam a sair e acabam sendo despejados de forma compulsória, o que gera mais conflitos, explica o membro do MAB.
Plano de emergência
No dia 24 o jornal O Estado de Minas publicou uma matéria sobre um plano de emergência contratado pela Samarco em 2009, mas que nunca saiu do papel. Segundo a publicação, se o plano tivesse sido adotado a tragédia não teria ocorrido.
Em seu plano de contingência, apresentado em 2014, a mineradora diz que a responsabilidade por avisar e remover as pessoas em risco iminente é da Defesa Civil. No entanto, a Defesa Civil Estadual afirma ser da competência da empresa avisar à população sobre um rompimento no entorno da barragem, principalmente em regiões onde órgãos do estado não podem chegar com rapidez.
Manifestantes presos
Na tarde desta quarta-feira (25), quatro jovens foram presos após protestarem contra a Vale e o novo código de mineração, no congresso federal. Os manifestantes faziam uma intervenção artística que usava argila e água, para representar a lama das barragens rompidas.
O teatro que os manifestantes realizavam sujou a parede com a lama, segundo nota de movimentos populares, a lama foi limpa pouco tempo depois, e os jovens foram acusados de crime ambiental.
Difamação aos atingidos
Joceli diz que há uma ação organizada e sutil contra os movimentos de atingidos, principalmente o MAB. Ele explica que os interesses financeiros e o fato de Mariana ser dependente economicamente da mineração atuam nesse sentido.
Aqui no município de Mariana, em especial, há uma organização contra os atingidos por barragens, contra o MAB específicamente. Então tem se espalhado muito o boato de que o MAB seria um movimento terrorista, um movimento perigoso, que se os atingidos se organizarem no MAB eles serão judicializados, que não teriam acesso a seus direitos de acordo. Tem muita informação contra à organização dos atingidos, desabafou.
Retrospectiva
Primeira Semana: As barragens Fundão e Santarém rompem na quarta-feira (5) e inundam com lama e rejeitos o distrito de Bento Rodrigues, a apenas 20 minutos do centro de Mariana (MG). Na sexta-feira (07) doações de todo o Brasil chegam a Minas. Até o domingo (9), a lama já havia atingido o Rio Doce e o Estado do Espírito Santo e vários municípios mineiros.
Segunda Semana: Mais de 300 famílias desalojadas em Mariana. Com água do Rio Doce contaminada pela lama, Governador Valadares (MG) fica sem abastecimento de água e Samarco disponibiliza caminhão pipa com querosene para os moradores. Na segunda-feira (10), uma onda de lama atinge a cidade Colatina, no noroeste capixaba e também o Rio do Carmo. Espirito Santo entra com ação contra a Samarco.
Ibama informa que o total de lama despejados chegam a mais de 50 milhões de metros cubicos. Pesquisadores temem que o solo de Mariana se torne infértil. 13 de novembro é marcado pelo atentado de Paris e mudança total do foco de parte da mídia brasileira sobre a tragédia que ocorreu no próprio país, conforme denunciam movimentos.
Terceira Semana: Samarco, que possui lucro anual de R$ 2,8 bilhões, é multada em R$ 250 milhões pelo desastre. O rio de Baixo Gandu é atingido pela lama e pescadores lamentam não ter mais acesso à única fonte de renda. Barra Longa (MG), foi inundada com 5 metros de lama.
Os rejeitos chegam à foz do Rio Doce e atingem o mar, em Espirito Santo.
Quarta semana: Vale, que deve ao estado brasileiro cerca de R$ 42 bilhões, e Samarco fecham acordo pelo rompimento de barragem em Mariana por R$ 1 bilhão.
Governador Valadares começa a ter acesso a água, porém, moradores temem seu consumo. Novo Código de Mineração volta a pauta no Congresso e manifestantes pressionam contra sua aprovação. Com a frase Minas não se cale, a culpa é da Vale, manifestantes de todo o estado reivindicam responsabilidades da mineradora que também possuía rejeitos nas barragens de Mariana.