Avião cai durante ataque a bombas à fazenda ocupada pelo MST

Após uma ação criminosa contra uma ocupação, um dos aviões caiu. Entre as vítimas está o prefeito de Central de Minas. Sem-terras relatam que haviam informado a PM sobre os […]

Após uma ação criminosa contra uma ocupação, um dos aviões caiu. Entre as vítimas está o prefeito de Central de Minas. Sem-terras relatam que haviam informado a PM sobre os ataques


do Brasil de Fato

Uma fazenda ocupada por 200 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Tumiritinga, interior de Minas Gerais, sofreu ataques com bombas vindos de dois aviões, na tarde desta terça-feira (14). Moradores da área haviam entrado em contato com a Polícia Militar (PM) relatando o ocorrido. Ao final da tarde do mesmo dia, houve a queda de um dos monomotores, deixando como vítimas fatais o prefeito da cidade vizinha Central de Minas, Genil Mata da Cruz (PP), e um funcionário da Prefeitura. Os motivos da queda ainda estão sendo investigados pela polícia.

De acordo com reportagem do jornal O Tempo, Unidades do Corpo de Bombeiros de Governador Valadares, cidade localizada a 50 quilômetros do local do acidente, realizam os trabalhos de resgate dos corpos. O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, deputado estadual Cristiano Silveira (PT), acionou o Ministério Público para acompanhar a questão de disputas de terras envolvendo a área, e está no município nesta quarta-feira (15) para acompanhar o caso.

Segundo texto divulgado pelo MST em seu site, além de ser prefeito, Gentil é dono de uma das maiores redes de posto de combustível na região e, em 2013, foi acusado de tráfico de combustível. Ainda de acordo com o movimento, ele também foi suspeito de envolvimento com o tráfico internacional de pessoas. Na época, a Polícia Federal investigou a participação do empresário no financiamento de viagens a brasileiros para entrar ilegalmente nos Estados Unidos.

Violência no campo

Em nota, o MST relata a situação de conflito da área e informa que espera que as autoridades competentes investiguem o caso. O movimento afirma que se coloca à “disposição para o diálogo para fazer avançar a Reforma Agrária, mesmo que esta esteja praticamente paralisada. Essa disposição nunca nos faltará, mesmo com vários tipos de violência que temos sofrido, como o massacre de Felizburgo, Eldorado dos Carajás, entre outros”.

As famílias do MST ocupam a área desde o último dia 5 de julho. Segundo os sem-terra, a fazenda, de 400 mil m², considerada improdutiva, pertencia à empresa Fíbria e, depois, o prefeito de Central de Minas alegou que adquiriu a área, porém não possuía nenhum documento que comprovasse a propriedade da área, o que impedia uma solicitação de reintegração de posse.

Ainda de acordo com o MST (leia nota abaixo), outros ataques haviam sido feitos contra as famílias acampadas. Entre estes, um ocorrido na madrugada da sexta-feira (10), quando cerca de 12 pistoleiros entraram no área e soltaram fogos de artifícios sobre as barracas, ferindo um dos moradores com queimaduras no corpo. Os sem-terra registraram as ameaças em um boletim de ocorrência na delegacia local.

Procurada pela reportagem, a prefeitura de Central de Minas não retornou o pedido de informações.

Abaixo, segue a nota do Movimento Sem Terra sobre o caso:

Nota da direção estadual do MST

Na madrugada do dia 5 de julho de 2015, 300 famílias da região do Vale do Rio Doce ocuparam a fazenda Casa Branca, no município de Tumiritinga – MG, à 50 Km de Gov. Valadares, região leste do estado.

A Fazenda, com aproximadamente 1.500 hectares, pertence à empresa Fíbria Celulose. Após a ocupação compareceu a fazenda o Sr. Genil Mata da Cruz, prefeito de Central de Minas e proprietário da Rede de Posto de Combustíveis Gentil, alegando que está negociando a compra da fazenda junto a Fíbria e reivindicando a posse da área. Na ocasião, a Polícia Militar estava presente e orientou o Sr. Genil a reivindicar seu direito de posse junto à justiça.

No dia 9 de Julho, ao final da tarde, fomos informados de que o então suposto proprietário estava disposto a fazer, ele mesmo, o despejo das famílias, uma vez que ele não poderia recorrer à justiça pelo fato de não possuir nenhum documento da área. Nessa mesma tarde, caminhões foram à fazenda e retiraram duas famílias de funcionários que moravam na área. Na madrugada do dia 10, as famílias foram surpreendidas com cerca de 12 pistoleiros, dois veículos e dois tratores. Os pistoleiros efetuaram vários disparos de balas e foguetes sobre as famílias acampadas. Os tratores foram blindados, preparados para guerra.

As famílias conseguiram pedir socorro policial e os pistoleiros, ao perceberem a aproximação da polícia fugiram. Na fuga um trator caiu em uma vala.

No dia 11 último, representantes do governo do Estado de Minas, através da mesa de conflitos agrários, e o superintendente regional do INCRA-MG, preocupados com a situação de conflitos e tensão, estiveram na região e se reuniram com o suposto proprietário, com a Polícia Militar e com a Coordenação dos Trabalhadores Sem Terra. Foi o início de um importante diálogo, onde poderia culminar em uma negociação. Porém, na segunda-feira (13) recomeçaram os boatos de que o fazendeiro iria realizar o despejo.

Na tarde desta terça-feira (14), por volta das 16h, o fazendeiro começou a cumprir a promessa. Dois aviões começaram sobrevoar o acampamento efetuando disparos sobre as centenas de pessoas acampadas, entre elas mulheres, jovens, crianças e idosos. As famílias viveram momentos de terror. Em meios aos ataques um avião caiu e pegou fogo. A informação é que duas pessoas morreram carbonizadas.

Não sabemos as circunstâncias de tal acidente e nem quem são as vítimas. Isso cabe as autoridades investigar. O que nós do MST temos feito é nos colocar a disposição para o diálogo para fazer avançar a Reforma Agrária, mesmo que esta esteja praticamente paralisada. Essa disposição nunca nos faltará, mesmo com vários tipos de violência que temos sofrido, como o massacre de Felizburgo, Eldorado dos Carajás, entre outros.

14/07/2015
Direção estadual do MST-MG

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