Encontro Mundial de movimentos populares com Papa começa na Bolívia

1500 pessoas de 40 países discutem os eixos de diálogo com o Papa, que participa do evento na quinta (7). Por Joana Tavares, do Brasil de Fato Fotos de Lidyane […]

1500 pessoas de 40 países discutem os eixos de diálogo com o Papa, que participa do evento na quinta (7).

Por Joana Tavares, do Brasil de Fato

Fotos de Lidyane Ponciano

“Quando vejo essas pessoas, as caras das pessoas, dá uma esperança. A gente sente que o povo tem capacidade de transformar, de construir um mundo mais humano, mais fraterno, de igualdade”, diz Marina dos Santos, do MST, uma das 250 brasileiras que participa do Encontro Mundial de Movimentos Populares em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia.

O Encontro começou na manhã de terça (7), com a presença de 1500 pessoas de 40 países do mundo. A programação prevê painéis de discussão sobre os eixos “Terra”, “Trabalho”, “Teto”, além de oficinas para aprofundamento das discussões e trocas.

Esses eixos foram inspirados na exposição do Papa Francisco no primeiro encontro, que destacou que é preciso lutar para que não haja mais “nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem trabalho digno e nenhuma família sem moradia digna”.

Na tarde de hoje, o presidente do Estado Plurinacional da Bolívia, Evo Morales, faz a abertura oficial do encontro. Na quinta (9), às 17h30, o Papa Francisco também se reúne com os participantes.

“A luta pela Mãe Terra”

O primeiro painel “A luta pela Mãe Terra e a contribuição de Laudato Si” contou com a exposição de quatro representantes da resistência camponesa. Atrás de uma mesa ornamentada com alimentos produzidos pelos povos da América, João Pedro Stedile, da coordenação da Via Campesina, lembrou como a organização do agronegócio compromete a soberania alimentar e a saúde de todos. “Nós temos que ter nosso plano, o plano do povo. Já não basta apenas ‘terra para quem nela trabalha’, como clamava Zapata. Mudou o paradigma. É preciso pensar uma mudança no campo que interessa a todos, que garanta a produção de alimentos sadios e sem venenos. Que respeite a biodiversidade, que resgate a agroecologia. Esse plano de agricultura interessa a todo o povo”, destacou.

Silvia Ribeiro, do ETC Group, do México, criticou a concentração das empresas que atuam no campo, em todo o mundo. Ela citou o caso das sementes, no qual apenas dez empresas controlam 80% do mercado. Além disso, as mesmas que produzem os venenos produzem os transgênicos que dependem deles. “Os transgênicos produzem muito menos, não podem ser replantados, usam muito veneno, causam diversos malefícios à saúde, como o aumento dos casos de câncer, além de custar mais caro”, sublinhou.

Rodolgo Machaca, da Confederação Sindical Única de Trabalhadores Campesinos da Bolívia, destacou o método que será usado durante o encontro: denunciar, levantar demandas e assumir compromissos. “Os governos neoliberais têm culpa porque permitiram saquear nossas terras. Por isso a unidade internacional é fundamental, porque precisamos nos unir para expulsar as multinacionais”, exortou.

O bispo da Diocese de Aysén, no Chile, Luis Infanti della Moura, também criticou o imperialismo, lembrando que estamos todos chamados a lutar por um mundo melhor. “O Papa nos chama a tomar consciência para romper e derrubar as estruturas que nos escravizam cada vez mais”.

Solidariedade internacional    

Melike Yarar representa o movimento de mulheres curdas. Ela deu seu depoimento das mulheres que lutam contra o Estado Islâmico que oprime os povos de seu país. “A América Latina para nós é um exemplo. Estamos aqui para compartilhar nossa resistência e para criar comunicação entre nós. Precisamos de um plano de intervenção global. Precisamos unir nossas forças. Viver é resistir, resistir é viver”, disse.

Primeiro encontro

Entre 27 e 29 de outubro de 2014, o Papa recebeu no Vaticano dirigentes sociais dos cinco continentes, que representaram organizações de base principalmente de três setores –  trabalhadores precarizados, camponeses sem terra e pessoas que vivem em moradias precárias – mas também sindicalistas, ativistas de direitos humanos e de pastorais sociais.

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