No Maranhão, MAB alfabetiza atingidos através do método Paulo Freire

Nesta 7ª etapa, são 45 turmas distribuídas nos municípios de Timon, Parnarama, Matões e São Francisco do Maranhão. Essas cidades serão atingidas pela construção de projetos hidrelétricos. Histórico Em 2014, […]

Nesta 7ª etapa, são 45 turmas distribuídas nos municípios de Timon, Parnarama, Matões e São Francisco do Maranhão. Essas cidades serão atingidas pela construção de projetos hidrelétricos.

Histórico

Em 2014, o Maranhão passou a fazer parte das áreas de abrangência do Projeto “Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos” (MOVA-Brasil), desenvolvido pelo Instituto Paulo Freire (IPF) em parceria com a Petrobras, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e com o apoio do Ministério da Educação (MEC).

O Projeto tem como objetivo contribuir para a redução do analfabetismo no Brasil, por meio de uma pedagogia de inclusão e de conscientização, tendo como referência os estudos educacionais do educador Paulo Freire (1921-1997).

No estado do Maranhão, o MOVA-Brasil conta com a articulação e o apoio do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) que, no ano de 2014, articulou e coordenou 30 turmas de alfabetização, nos municípios de Timon e Parnarama, com mais de 600 educandos (as), no total.

O Maranhão é um dos estados que apresenta um dos maiores índices de analfabetismo. Segundo o IBGE (2013), cerca de 20,84% da população maior de 15 anos é analfabeta, é também um dos estados mais desiguais do Brasil.

Nesta 7ª etapa, houve um aumento no número das turmas, são 45 turmas distribuídas nos Municípios de Timon, Parnarama, Matões e São Francisco do Maranhão, que ficam localizados na região do médio Parnaíba e que, portanto, serão atingidos direta ou indiretamente com a construção de projetos hidrelétricos. São Francisco é um destes municípios ameaçados com a construção das Barragens Estreito e Castelhano, que atingirá cerca de 3 mil famílias, entre elas ribeirinhas, meeiras, assentadas, comunidades quilombolas e extrativistas.

Nos municípios citados, o índice de analfabetismo é altíssimo, sendo que, das 4 cidades atendidas, 3 delas, Parnarama, Matões e São Francisco, estão entre as 20 cidades do Maranhão que apresentam maior número de analfabetas (os): São Francisco com 35,77%, Parnarama 34,62%, Matões 35,40% e Timon 16,05%.  

“São regiões conhecidas tanto pela demanda de analfabetas (os), como também pela precariedade nas políticas públicas. Comunidades onde ainda não há energia ou quando há é de péssima qualidade e serve só para o consumo doméstico. São regiões de muito potencial produtivo, porém, não há investimento por parte do poder público”, ressalta Dalila Calisto, assistente pedagógica do Projeto e militante do MAB.

Iniciando o segundo ano de Projeto no estado do Maranhão

Durante os dias 8 a 12 de Junho foi realizada a formação inicial dos educadores e educadoras do Projeto MOVA-Brasil. A formação aconteceu no Hotel Fazenda Portal da Amazônia, km 19, BR 316, que fica localizado no Povoado Batalha, zona rural de Timon, Maranhão.

O encontro foi iniciado no dia 8 de Junho, por volta das 8h, e contou com a participação de mais de 50 pessoas, onde foram discutidas questões, como: o que é o Projeto MOVA-Brasil, os seus objetivos e metas, a sua metodologia, como também, como se deu a articulação política das turmas e a consolidação do MAB na região.

O segundo dia (09/06) foi iniciado com a análise da conjuntura geopolítica, com interface na luta dos atingidos e atingidas por barragens. O momento contou com a participação de José Josivaldo, Militante da Coordenação Nacional do MAB e Articulador social do Projeto que ressaltou a importância política e pedagógica da Educação em Paulo Freire.

“O (a) educador (a) deve ser, sobretudo, um grande lutador contra todas as opressões cometidas. Paulo Freire vai sempre nos dizer isso. Ele (a) tem que saber cativar, convencer a cada dia. O (a) educando (a) têm consciência da vida, mas não têm consciência de classe, e alfabetizar também é fazer a luta política porque além de aprender a ler, o (a) educando (a) aprenderá também a discernir qual a sua tarefa política diante da vida”, disse.

Dando continuidade, foi organizado um círculo de cultura para debater sobre o significado da educação popular, como um instrumento que possibilita mobilizar, organizar e capacitar o povo. Em seguida, foi explicitado o que é leitura de mundo e como se dá esse processo no contexto da alfabetização. Após as explanações, os participantes se reuniram em grupos de 7 pessoas para realizar uma oficina sobre o estudo da realidade local por meio da representação de um mapa e com recorte de imagens. Ao retornar a plenária, cada grupo apresentou-se, destacando a realidade do seu município, no que diz respeito aos aspectos político, social, cultural, socioeconômico e socioambiental. Dentre os principais pontos discutidos nos grupos, com relação a realidade dos municípios de Timon, Parnarama, Matões e São Francisco do Maranhão que, por sua vez, farão parte do Projeto nesta etapa, destaca-se, de modo geral:

 – Dimensão Social: O ensino regular funciona, em sua maioria, com turmas multisseriadas, há o fechamento de muitas escolas e o transporte escolar em muitas, ainda, é no carro pau de arara; alto  número de famílias sem moradia; o serviço de transporte público é precarizado (geralmente, só uma empresa comanda os serviços); em muitas comunidades não há postos de saúde nem agente comunitário de saúde. A maioria das comunidades que possuem energia elétrica é só para o consumo doméstico, não serve para a produção, há outras que ainda não possuem luz elétrica.

– Dimensão Cultural: Forte expressão das diversas manifestações culturais tradicionais: bumba meu boi, festas juninas, reisados, divindades, dança baião, culto ao divino, festa do cuscuz; forte presença de traços de misticismo, como: superstições ou crendices populares; sincretismo religioso: candomblé, umbanda, catolicismo e um aumento significativo de igrejas evangélicas. 

– Dimensão Política: Predomina-se o monopólio político, isto é, apenas duas famílias revezam o poder municipal. O modo de organização das famílias é principalmente via associação e sindicato. Nos últimos anos, o MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) tem iniciado a sua base organizativa na região.

– Dimensão Socioeconômica: extração do coco babaçu e do buriti, agricultura (plantação de mandioca, milho, arroz, feijão, etc), pecuária e expansão do comércio. Todas as regiões possuem um alto potencial produtivo.

Dimensão Socioambiental: Desmatamento (derrubada ilegal da madeira); instalação de projetos do capital, como a empresa Suzano Celulose; falta saneamento básico (sem esgoto e em muitas comunidades não há tratamento adequado da água). Todas as cidades mencionadas fazem parte da bacia do Rio Parnaíba.

Para finalizar o estudo sobre a leitura do mundo, foi realizada uma outra oficina, que trata do 2º passo da leitura do mundo, que é a saída a campo. A atividade foi realizada nos arredores do Hotel Fazenda, no Povoado Batalha.

Nos dias posteriores da formação foi dado continuidade aos demais pontos da pauta, dentre eles:

– Realização de oficinas pedagógicas sobre oralidade, leitura, escrita e etnomatemática com base nos estudos de Maria Aparecida Damasceno Netto de Matos, Sírio Possenti, Emília Ferreiro, Magda Soares e Ubiratan D’ Ambrósio;

– Realização da oficina sobre a concepção de Avaliação do Projeto, com fundamento nos estudos de Cipriano Luckesi;

– Estudo sobre o fluxo e o acompanhamento do processo pedagógico;

– Oficina formativa I em diálogo com os temas transversais do Projeto: Equidade de gênero e questões étnico-raciais;

Oficina formativa II sobre a problemática da Água e energia;

Construção do planejamento semanal;

Para encerrar a formação, foi realizada uma mística final, que chamou todos (as) a refletir sobre o que fazer individual e coletivo, isto é, o desafio que todos e todas terão adiante e o quanto isto nos torna além de educadores, seres militantes de uma causa, que é a educação popular. A mística iniciou com a leitura do poema “Resolução” de Bertold Brecht e encerrou com a apreciação da música “Coração Civil” de Milton Nascimento.

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