Atingidos protestam na Norte Energia e prefeitura de Altamira

Cerca de 150 moradores dos bairros Independente II e Jatobá se manifestaram em frente ao escritório da Norte Energia e também na prefeitura de Altamira nessa quarta-feira (22) em mais […]

Cerca de 150 moradores dos bairros Independente II e Jatobá se manifestaram em frente ao escritório da Norte Energia e também na prefeitura de Altamira nessa quarta-feira (22) em mais um episódio da jornada de lutas por direitos dos atingidos por Belo Monte.

O bairro Independente II possui seis ruas com cerca de 300 famílias abaixo da cota 100 m (ou seja, sujeitas a alagamento permanente com a construção da barragem), mas só recentemente, depois de várias mobilizações, a empresa passou a considerar as famílias como atingidas por Belo Monte e se comprometeu a apresentar um projeto de drenagem para não ter de remover os atingidos. A construção de Belo Monte segue de vento em popa, com previsão de encher o lago dentro de seis meses, mas até agora a empresa não apresentou o projeto, o que preocupa as famílias. A empresa alega que a aprovação do projeto depende de parceria com a prefeitura.

Os moradores do Jatobá, por outro lado, já foram removidos e realocados nesse loteamento construído Norte Energia. Nesse local controlado pela empresa, os moradores registram já dois meses com fornecimento de água irregular, com algumas famílias relatando até dois dias consecutivos sem água. Há, no momento, 970 famílias morando no Jatobá.

Os moradores foram com batuques, café e pão e só saíram até obter respostas da empresa. “Desde o início de março, a Norte Energia se comprometeu em elaborar esse projeto de drenagem e até agora não mostrou para nós”, relata Elaine, do Independente II. A moradora Francinete complementou dizendo que “nós, moradores, queremos ver o projeto para saber se ele é bom para nós ou não”.

Segundo a gerente da questão fundiária da Norte Energia, Flávia, a empresa já havia mandado o projeto no dia 5 de março para a prefeitura avaliar e responder oficialmente, no entanto, até agora a prefeitura não havia se manifestado. Por esse motivo, as famílias decidiram fazer uma “visita” à prefeitura.

Sobre a falta de água no Jatobá, a empresa alega que a população está desperdiçando e que tem mais famílias morando do que eles haviam estimado. “O que ocorre é que a empresa subdimensionou o número de famílias para serem realocadas e só restou às famílias excluídas dividir a casa ou construir puxadinhos nos quintais”, afirma Edizângela, moradora do bairro e militante do MAB.

Luciana Soares, responsável pelos projetos socioambientais da empresa alega “está sendo pensado inclusive a possibilidade de racionamento de água, ou seja, colocar alguns horários onde as famílias não terão abastecimento de água”, uma flagrante ofensa às famílias e desrespeito ao seu modo de vida ribeirinho.

“Ficou encaminhado uma reunião para essa quinta feira (23) à noite para que a empresa e o MAB construam alternativas em conjunto para tentarem solucionar esse problema, mas sabendo que a possibilidade de um racionamento é grande. Isso mostra o descaso da empresa em planejar o básico para a população, que é o abastecimento de água”, afirma Edizângela.

Foto: Rogério Soares

“Visita” à prefeitura

As famílias do bairro Independente II foram à prefeitura com o intuito de falar com Domingos Juvenil, mas como ele estava viajando, foram recebidas pelo secretário de Administração, Fabiano Bernardo. Segundo ele, foi feita uma reunião em março em Brasília entre Norte Energia e Prefeitura e os dois órgãos já haviam se comprometido a executar o projeto de drenagem. “A Norte Energia gosta de jogar a responsabilidades para os outros”, queixou-se. Ficou encaminhado que a prefeitura irá oficializar a resposta sobre o projeto de drenagem à NESA e entregar no dia seguinte a cópia desse documento para o MAB.

“A partir daí vamos dar o próximo passo que é a pressionar para que esse projeto seja apresentado e avaliado pela comunidade do bairro. Mas fica bem claro que esse desentendimento entre Nesa e prefeitura acaba prejudicando somente a população, que tem que ficar se deslocando e perdendo dia de serviço para procurar informações”, afirma Jackson, militante do MAB.

A moradora Francinete deixou o recado bem claro para a Norte Energia e prefeitura: “Agora que começamos a lutar, não vamos parar, não daremos sossego até vocês resolverem os nossos problemas!”

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