Atingidos trancam rodovia de acesso a Belo Monte
Atingidos por Belo Monte ocupam Transamazônica para exigir soluções imediatas do consórcio Norte Energia e cobrar do governo federal a aprovação da Política de Direitos. Atualizada às 17h47 Na madrugada […]
Publicado 13/03/2014
Atingidos por Belo Monte ocupam Transamazônica para exigir soluções imediatas do consórcio Norte Energia e cobrar do governo federal a aprovação da Política de Direitos.
Atualizada às 17h47
Na madrugada desta quinta-feira (13), cerca de mil pessoas trancam a Transamazônia, rodovia que dá acesso ao canteiro de obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no município de Altamira, no Pará, para cobrar direitos das populações atingidas.
Os manifestantes, organizados no MAB, mantiveram o bloqueio para paralisar as obras da usina até que a Norte Energia, consórcio responsável por Belo Monte, aceitasse reunir-se a uma comissão para discutir as reivindicações dos atingidos, que cobram medidas relacionadas à questão dos reassentamentos, habitação, água, trabalho, infraestrutura, alimentos, energia, educação e plano de desenvolvimento para a região.
Os trabalhadores da barragem, impedidos de ir ao canteiro pelo bloqueio, apoiaram a ação e aproveitaram para denunciar as condições de trabalho nos canteiros de obras, que incluem os cortes de benefícios, cargas horárias excessivas e desrespeito à saúde do trabalhador.
Em meio a uma das piores enchentes ocorridas no Pará, os atingidos exigem providências imediatas para os problemas ocasionados pela construção da barragem no rio Xingu. Mais de 500 famílias na cidade de Altamira estão desalojadas, vivendo em alojamentos improvisados no parque de exposição e em escolas, onde enfrentam situações precárias. As aulas estão suspensas. A atingida dona Luiza, por exemplo, está abrigada em um barraco que é apenas uma cobertura de lona no parque de exposição e toda vez que chove a lama corre por dentro de sua “casa” improvisada sujando todos os móveis e colocando em risco a saúde das crianças.
A atingida Raimunda Souza, moradora do bairro Peixaria, teme que a situação de Altamira possa se igualar com a catástrofe sucedida em Rondônia, influênciada pelas hidrelétricas do rio Madeira. Nós estamos sendo tratados como animais, estamos perdendo tudo, a Norte Energia já deveria ter transferido a gente. A barragem não podia ter acontecido sem a gente ter sido reassentado, vamos ficar igual ao povo de Rondônia, afirma.
Por conta desses problemas, os atingidos já ocuparam o reassentamento da Norte Energia na manhã de carnaval e nessa data exigiram que a empresa se comprometesse a reassentar as famílias já cadastradas e resolver a questão dos cadastros daquelas que tem direito mas estão de fora em um prazo de 15 dias. Com a mobilização desta quinta-feira, foi reafirmado o prazo.
Os atingidos desbloquearam a rodovia após 12 horas, mas isso não siginifica que a luta acabou: no dia 19 vence o prazo da Norte Energia para responder à pauta dos reassentamentos e as famílias vão cobrar seus diretos. Além disso, há outras demandas que ainda precisam avançar e vão exigir um processo mais longo de organização e lutas.
Uma das pautas específica dos atingidos é a regularização das terra dos acampamentos formados por atingidos em Brasil Novo e Vitória do Xingu, que juntos somam mais de 600 famílias.
Para o coordenador do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no estado, Iury Paulino, não existe mais negociação na pauta dos atingidos. Não iremos recuar mais nenhum centímetro na nossa pauta. Queremos respostas concretas da Norte Energia e do governo Federal sobre os pontos de pauta dos atingidos. É inadimissivel a situação que os atingidos por Belo Monte se encontram, a cada dia percebemos o avanço da violação dos seus direitos, aponta.
Além das pautas específicas da região, a mobilização também cobra do governo federal a imediata aprovação da Política Nacional de Direitos das Populações Atingidas por Barragens (PNAB) e o pagamento da dívida com a população atingida, que não foram indenizadas.
A atividade faz parte da Jornada de Lutas do 14 de março, Dia Internacional de Luta Contra as Barragens, pelos Rios, pela Água e pela Vida.