Obras sem planejamento levam caos a município-sede de Belo Monte
Por Claret Fernandes, militante do MAB e missionário na Prelazia do Xingu Vitória do Xingu, município onde está sendo construída a barragem de Belo Monte, é um canteiro de obras. […]
Publicado 25/09/2013
Por Claret Fernandes, militante do MAB e missionário na Prelazia do Xingu
Vitória do Xingu, município onde está sendo construída a barragem de Belo Monte, é um canteiro de obras. As ruas da cidade estão, todas, reviradas. A poeira toma conta nesse verão. Mesmo que se jogue água, tudo seca rapidamente com o calor intenso, trazendo complicações respiratórias, em especial para idosos e crianças. E não é fácil encontrar uma ficha para consulta médica.
As obras, sem planejamento, são feitas e refeitas diversas vezes. Faz-se uma área de lazer numa rua e logo perto fazem outra. Isso não faz nenhum sentido, dizem as pessoas. O povo não entende, também, porque a empresa SA Paulista, contratada pelaNorte Energia (dona de Belo Monte), iniciou obras na cidade toda ao mesmo tempo. Não seria melhor fazer um bairro, terminar, depois passar para outro. Hoje está tudo mexido e não tem nada pronto.
A parte central da cidade tem verdadeiras crateras. Estão furando tudo, e colocando manilhas enormes para rede pluvial. A rede de abastecimento de água, também em construção, foi testada, os canos não suportaram a pressão e se romperam, e os serviços agora estão parados. Os canos de rede de esgoto são finos, e há dúvida se suportarão. Não se sabe, também, se o esgoto será tratado, conforme promessa, ou apenas lançado in natura no rio.
Nas ruas vicinais, todas mexidas e remexidas, o compactador, um grande rolo que passa algumas dezenas de vezes no mesmo local, vem causando rachaduras nas casas. Marinalva conta que, em sua morada, se pode enfiar o dedo nos buracos da parede. Funcionários da empresa fotografaram tudo antes do início das intervenções supostamente para comprobação de possíveis danos, e reparos ou indenização. Mas agora, quando alguém reclama, eles apenas dizem que foi a outra empresa. Algumas famílias, já impacientes, estão consertando por conta própria.
Belo Monte gera impostos, mas não melhora a vida do povo
Vitória do Xingu, com aproximadamente 15 mil habitantes, dos quais 53% no meio rural, é uma cidade pequena que abriga em seu município praticamente todos os canteiros de obra de Belo Monte.
Do ponto de vista financeiro, é como se a cidade tivesse ganho na loteria, recebendo 92% dos impostos Sobre Serviços (ISS), que chegam a 10 milhões/mês. Esse é praticamente o valor que o Município recebia de Fundo de Participação dos Municípios FPM pelo período de um ano. Do ponto de vista social, o povo sofre abandonado.
As populações ribeirinhas de Vitória do Xingu começam a se mexer por causa de projeto de construção de Cais nos igarapés Gelo e Facão, na área onde moram. De acordo com esse projeto, as mais de 200 famílias serão realocadas, mas estão indignadas principalmente com a falta de informação, e numa insegurança muito grande em relação ao seu futuro. A empresa (terceirizada da Norte Energia, dona de Belo Monte) veio aqui, tirou foto, cadastrou todo mundo, mediu tudo, mas não ouviu ninguém nem fez reunião. Falam que a gente vai ter que sair para construção de cais, mas não temos uma informação certa, disse Maria das Graças, ribeirinha no igarapé Facão.
Graça denunciou ainda o transtorno social e o crime ambiental provocado pelas obras sem planejamento. A gente não entende. Eles mexem na cidade toda a mais de um ano, e não tem uma rua concluída. É poeira ou barro. A chuva trouxe muita terra das ruas escavadas e o nosso igarapé está cheio de areia. A água diminuiu, e a gente não consegue mais entrar com os barcos.