Famílias de Altamira sofrem abusos nos serviços da Celpa

As milhares de famílias dos bairros pobres de Altamira, os chamados “Baixões”, vivem abandonadas pelas autoridades. Além da ameaça de perderem suas casas para dar lugar ao lago da barragem […]

As milhares de famílias dos bairros pobres de Altamira, os chamados “Baixões”, vivem abandonadas pelas autoridades. Além da ameaça de perderem suas casas para dar lugar ao lago da barragem de Belo Monte, são atingidas pela perversidade do sistema elétrico de outra forma: através da conta de luz.

Genilson Gardelha da Costa, três filhos, morador do bairro Boa Esperança, desembolsou R$ 410 para pagar a sua na última semana. Mesmo tendo morado por dois anos em uma colônia  – período em que teve a luz cortada – continuou recebendo uma fatura mensal de R$ 11. Sua sogra procurou explicações junto à Celpa (Centrais Elétricas do Pará S.A.), a distribuidora do estado. A empresa lhe disse que precisava dar baixa. “É uma injustiça pagar pelo que a pessoa não gastou”, disse.

A sogra, Maria de Lourdes Silva, contou ainda que a conta de luz da casa dela é jogada na varanda, que é aberta, e corre o risco de sumir ou molhar com a chuva. “O funcionário da empresa deveria jogar ao menos debaixo da porta, pois se some a gente tem que pagar multa por atraso”, disse.

Eliane Moreira Santos, moradora também no bairro Boa Esperança, reclama do aumento exorbitante da conta de luz, apesar dela continuar com o mesmo consumo. “De outubro até hoje, a conta saltou de 72 para 130 reais. É um absurdo! Acontece do leiturista nem olhar o relógio”.

Faz quase um ano que a empresa dona da Celpa, o Grupo Rede, faliu. A empresa Equatorial, maranhense, comprou 65% de suas ações e assumiu um passivo de 3,5 bilhões. A negociação recebeu aval da Justiça no final do ano. A Equatorial possui ligações com o grupo político de José Sarney, que possui grande influência do governo brasileiro, estando inclusive à frente do cobiçado Ministério de Minas e Energia. A Equatorial já atendia 200 municípios, e agora abocanhou mais 1,2 milhão de unidades consumidoras da Celpa.

Desde então o preço das contas vem subindo e os serviços continuam precários, com constantes quedas de energia e descaso com as famílias. Ao menos uma vez por semana, falta energia na capital da Transamazônica.

Para piorar o cenário, Altamira viu sua população quase dobrar nos últimos cinco anos devido à construção da barragem de Belo Monte, no rio Xingu. A rede de energia não acompanhou esse crescimento. Além disso, os moradores suspeitam que o fornecimento da eletricidade para a construção da obra foi priorizado em detrimento da distribuição na rede doméstica. A Norte Energia, dona da barragem, nega oficialmente.

Para discutir esses problemas, o Ministério Público Federal no Pará chegou a convocar uma audiência pública com a Celpa no dia 4 de dezembro de 2012. Representantes da empresa e dos movimentos sociais atuantes na cidade compareceram. A Norte Energia e a prefeitura do município tiveram suas ausências bastante sentidas.

Na ocasião, a Celpa pediu 120 dias apenas para apresentar um cronograma onde constariam obras reconhecidas como necessárias, como a instalação de novos alimentadores. O sistema estaria, como admitiu o engenheiro da empresa Reinaldo Pereira Serrão, “operando no limite”. Também prometeu dar início às obras de cinco subestações e cinco linhas de transmissão, mas sem apresentar prazos.

Foto: João Zinclar

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| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

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