MAB denuncia situação dos atingidos em agendas de articulação e incidência na Áustria

Companheiros do Movimento dos Atingidos por Barragens participaram de diversas atividades em Viena, Innsbruck e Salzburgo, debatendo e denunciando a situação brasileira e buscando parcerias

Conversa com alunos na Universidade BOKU (Áustria) sobre mudanças climáticas, gêneros, sistemas alimentares e recursos naturais. Foto: Universidade BOKU
Conversa com alunos na Universidade BOKU (Áustria) sobre mudanças climáticas, gêneros, sistemas alimentares e recursos naturais. Foto: Universidade BOKU

A realidade da população atingida no Brasil, por barragens e pela crise climática, foi pauta da visita do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) com entidades parceiras nesta primeira quinzena de dezembro, na Áustria. Durante 17 dias, três militantes do Brasil realizaram visitas a escolas, universidades, ministérios e outras instituições para fortalecer parcerias no enfrentamento às violações enfrentadas constantemente pelos atingidos em todo território brasileiro.

Entre as entidades visitadas estão a Horizonte 3000, a DKA e a Sei So Frei, que já possuem uma relação histórica de cooperação com os atingidos do Brasil, apoiando ações de fortalecimento da organização, formação e capacitação de lideranças, tanto no desenvolvimento de temas socioambientais e na luta para garantia dos direitos humanos, quanto na ajuda imediata em casos de eventos climáticos extremos, como nas enchentes no Rio Grande do Sul e na Bahia.

Em cada região que passou, o grupo se reuniu com diversos públicos, apresentando a luta histórica do MAB, o contexto atual das lutas na Amazônia, a realidade sobre os crimes dos rompimentos das barragens de Mariana e Brumadinho, os eventos extremos que aconteceram no Sul do país e a conjuntura brasileira frente aos ataques da extrema direita fascista no Brasil.

Cleidiane Vieira, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens, conta que entre os temas debatidos pelos militantes, houve um interesse maior sobre a realidade atual da Usina Belo Monte. Segundo ela, isso acontece porque, tanto nos anos que antecederam quanto durante a construção, houve um apoio dos austríacos às populações atingidas pela barragem, já que as turbinas da usina foram fornecidas pela Andrix, empresa austríaca. Ela lembra que naquele tempo, “organizações austríacas fizeram a denúncia das violações que a construção da barragem causava na vida das populações na região, cobrando uma maior responsabilidade do governo e da Andrix diante do que estava acontecendo em Altamira, no Pará. Neste mesmo contexto de Belo Monte, outra grande referência do povo austríaco no Brasil é a contribuição de Dom Erwin Kräutler, bispo emérito da então Prelazia do Xingu”, relata Cleidiane.

Reunião com o Ministério da Agricultura, Florestas, Regiões e Gestão da Água. Foto: Ministério do Clima / Áustria

Outra ação importante nestes dias foram as rodas de conversas em escolas, com estudantes universitários e grupos de estudos de programas de pós-graduação e também com Organizações da Sociedade Civil que trabalham com direitos humanos. Foram ocasiões importantes para apresentar o trabalho do MAB na organização das pessoas atingidas para a conquista e garantia de direitos, sobre a pauta de defesa da Amazônia e a participação dos atingidos na construção da Cúpula dos Povos e da COP30, em Belém, além dos desafios em pautar a transição energética justa e com soberania popular. Cleidiane conta que justamente a COP30 estava entre os temas de maior interesse, desde as crianças nas escolas, os idosos nas rodas de debates ou dos alunos nas universidades. “Eles tinham curiosidade sobre o que aconteceu em Belém, que avanços a COP no Brasil obteve e também sobre a mobilização da Cúpula dos Povos, que viram na TV durante aqueles dias”, explica ela.

Os últimos dias de visita foram também de diálogo com o Ministério para Assuntos Climáticos e Energia – já parceiro do MAB na Amazônia – e com o Ministério da Economia, Energia e Turismo, responsável por coordenar os Pontos de Contato Nacional Austríaco, órgão encarregado de promover a conduta empresarial responsável. Sua principal função é disseminar e garantir a aplicação das diretrizes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico para empresas multinacionais.

A realidade das atingidas contada pelas Arpilleras

Segunda oficina de Arpilleras com mulheres de Salzburgo. Foto: SSF / AAI Salzburg
Segunda oficina de Arpilleras com mulheres de Salzburgo. Foto: SSF / AAI Salzburg

Desde outubro, 15 arpilleras brasileiras integram uma exposição itinerante que passará por Viena, Innsbruck e Salzburgo, denunciando a situação das mulheres atingidas em seus territórios. A iniciativa, que vai até abril de 2026, também integrou – durante estes dias – oficinas de produção de arpilleras com a população austríaca, reforçando a solidariedade internacional e o compromisso com os direitos das atingidas. Estudantes da Universidade Boku, em Viena, e os visitantes da exposição em Salzburgo construíram novas peças a partir da sua realidade. Além de confeccionarem uma arpillera especial, que reforça a importância da continuidade da parceria entre Áustria e Brasil.

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