Encontro dos 10 anos do MAB reúne centenas de atingidos e reafirma luta por direitos no Espírito Santo

Realizado na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), entre os dias 27 e 29 de novembro, o evento marcou uma década de organização no Espírito Santo, apresentou reivindicações ao Governo Federal e encerrou com ato contra o fascismo e em memória de Flávia Amboss

O Encontro dos 10 anos do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Espírito Santo reuniu, entre os dias 27 e 29 de novembro, cerca de 800 atingidos e atingidas de diversas regiões do estado, além de delegações do Sul da Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Realizado no campus de Goiabeiras da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), o evento marcou uma década de luta organizada por direitos, reparação e soberania popular, integrando a Jornada Nacional de Lutas, iniciada no último dia 5 de novembro.

Durante toda a programação, a diversidade do povo atingido estava presente: pescadores e pescadoras, quilombolas, agricultores familiares, indígenas de diversas etnias, ribeirinhos e ribeirinhas, trabalhadores urbanos, juventudes periféricas, mulheres em luta e militantes que constroem o MAB. Expressões culturais e artísticas vindas das diferentes regiões dominaram a programação.

“O encontro foi um momento muito importante nessa década de história do MAB do Espírito Santo, ele juntou e unificou muitas lideranças e lutadores que já estão há uma década nessa luta. Também vem aglutinando muitas lideranças jovens, novas comunidades e áreas que estão chegando na luta agora e fortalecendo a luta por reparação integral”, relata Heider Boza, da coordenação nacional do MAB no estado.

A presença da ciranda, com dezenas de crianças, deu um tom especial à programação. A ciranda, patrimônio simbólico do movimento, é espaço de cuidado e também de continuidade, garantindo que a energia da luta se renove a cada geração e que as crianças cresçam reconhecendo-se como parte da caminhada coletiva.

Debates, propostas e entrega de pautas ao Governo Federal

A plenária de abertura apresentou o conjunto de reivindicações que o MAB leva ao Governo Federal, ao mesmo tempo em que discutiu caminhos concretos para sua implementação. Divididos por territórios, os participantes analisaram demandas, sugeriram ajustes, construíram consensos e formularam propostas que resultaram na Carta-Compromisso dos Atingidos, entregue aos representantes do governo presentes no evento.

Parlamentares, instituições públicas, movimentos aliados e representantes da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (SEAG), Defensoria Pública e órgãos federais participaram das mesas de debate. No encontro, foram anunciadas novidades importantes, como o início do processo de reconhecimento dos atingidos e atingidas do Sul da Bahia e da Grande Vitória, além do curso de agroecologia voltado para a crise climática, fruto direto das reivindicações dos movimentos sociais do campo. Além disso, também terá o Fundo Social de Apoio à Agricultura Familiar (Funsaf) voltado à pesca.

MAB toma as ruas contra o fascismo e por memória de Flávia Amboss

O terceiro dia do encontro foi marcado por um grande ato público, que tomou as ruas da grande Vitória em memória da militante, pesquisadora e professora Flávia Amboss Leonardo, assassinada em 2022 durante o ataque nazista à Escola Primo Bitti, em Aracruz. Três anos após o crime, o MAB segue exigindo justiça, responsabilização e políticas de proteção à vida diante do avanço da violência fascista no país. 

A deputada estadual Camila Valadão (PSOL), autora do projeto de lei que renomeou a Escola Fernando Duarte Rabello para Escola Flávia Amboss, participou do ato e explicou de forma sucinta como se deu o processo. “Como parte da nossa luta por memória, reparação e defesa da democracia, apresentamos o projeto em diálogo com o MAB e com a família de Flávia. Nada mais justo do que este espaço carregar o nome de Flávia: professora, mestre, doutora e ativista incansável em defesa dos atingidos e atingidas do Espírito Santo.”

A marcha reuniu atingidos e atingidas, estudantes, movimentos aliados e parlamentares. A caminhada saiu da Praça do Papa até a Escola Flávia Amboss, onde houve um ato simbólico de homenagem e denúncia. A manifestação seguiu até a Assembleia Legislativa do Espírito Santo, onde a Carta ao Povo Capixaba foi lida em jogral, reforçando que a defesa da memória e o enfrentamento ao fascismo são pilares fundamentais da luta do MAB.

Uma década que aponta para o futuro

“A luta do movimento é seguir fazendo trabalho de base, expandindo sua atuação e debatendo, nesse novo contexto da repactuação, projetos de educação popular, alfabetização, agricultura, pesca e mulheres. Tudo isso enquanto enfrentamos a realidade que os atingidos e atingidas no Espírito Santo e no Brasil já vivem com a crise climática, uma crise que tende a intensificar violações e gerar novos desastres. Ser movimento, hoje, é fortalecer a formação política, manter a organização nos territórios e seguir conquistando direitos”, finalizou Heider Boza, coordenação nacional do MAB. 

Uma das frases presentes nos materiais, rimas e canções – “do rio ao mar, é tempo de avançar” – simbolizou o compromisso do Movimento reafirmado no encontro, de manter a luta das populações atingidas em todo o estado.

Conteúdo relacionado
| Publicado 21/06/2023

Espírito Santo terá Subsecretaria de Agricultura Familiar comandada por nome ligado aos movimentos sociais do estado

MAB espera que órgão comandado pelo advogado Rogério Favoretti possa apoiar a reparação dos atingidos por barragens no Rio Doce

| Publicado 13/04/2023 por Coletivo de Comunicação MAB ES

Governador Renato Casagrande recebe atingidos e atingidas do ES para debater repactuação justa e democrática para o Rio Doce

Na ocasião, foram entregues documentos com denúncias sobre o processo atual e propostas para um novo modelo de política para reparação no Rio Doce e litoral capixaba

| Publicado 16/03/2022 por Coletivo de Comunicação MAB ES

Representantes do MAB participam de reunião no CNJ para tratar de repactuação do Rio Doce

Encontro integra a programação da Jornada de Lutas do 14 de março e tratou do acordo de repactuação em relação à reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, que tem sido discutido sem a participação dos atingidos