Via Campesina realiza seminário estadual para debater os desafios da articulação frente às crises ambiental e climática

Nos dias 1 e 2 de outubro, em Porto Velho (RO), a atividade reuniu militantes de Rondônia para debater as lutas diante das crises ambiental e climática na Amazônia

Militantes reunidos no final do seminário. Foto: Klézi Martins / MAB

Mais de 40 militantes dos municípios de Seringueiras, Jaru, Ariquemes, Ji-Paraná, Alto Alegre dos Parecis, Nova União, Ouro Preto do Oeste, Alto Paraíso e Porto Velho se reuniram em um encontro que promoveu debate entre os movimentos sociais que se articulam enquanto Via Campesina, em Rondônia, sobre os desafios, organização e planos de luta no estado e na Cúpula dos Povos, que acontece em novembro em Belém (PA).

Iniciando com Afonso Chagas, da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), foi apresentada uma análise de conjuntura urgente sobre o desenvolvimento predatório na Amazônia, detalhando os projetos futuros e em curso que priorizam a exploração da natureza – desde o desmatamento e a grilagem de terras para monoculturas até o uso estratégico de rodovias e hidrovias como ferramentas-chave para o escoamento da produção, reafirmando que a Zona de “Desenvolvimento Sustentável” dos Estados do Amazonas, Acre e Rondônia (AMACRO) não é mais um projeto, mas sim “uma realidade em execução”.

Em seguida, Thaynah Gutierrez, do Observatório do Clima, conectou a expansão econômica desenfreada à crise climática global. Gutierrez apresentou dados que demonstram como a crise atinge de forma desproporcional as pessoas em situação de vulnerabilidade social, funcionando como um agravante da desigualdade. Trouxe como exemplo as enchentes no Rio Grande do Sul, em 2024, onde o atendimento público a bairros elitizados foi priorizado em detrimento da periferia, caracterizando racismo ambiental.

Caê Moura durante análise de conjuntura climática no seminário estadual. Foto: Klézi Martins / MAB
Caê Moura durante análise de conjuntura climática no seminário estadual. Foto: Klézi Martins / MAB

Concluindo as análises de conjuntura, Caê Moura, gerente regional do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM), reforçou que as crises ambiental e climática são inegavelmente causadas pela ação humana. Moura detalhou como as atividades antrópicas estão causando o aquecimento global, evidenciado por eventos climáticos extremos, perda de biodiversidade e o aumento do nível do mar. Ele destacou como agravantes recentes a seca histórica de 2024 e os recordes de queimadas e poluição do ar, pontuando que o negacionismo climático permite que o lucro se mantenha como único alvo, em detrimento de medidas efetivas de mitigação.

Após as análises de conjuntura, foi o momento dos movimentos que compõem a Via Campesina em Rondônia – Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) e Comissão Pastoral da Terra (CPT), representados respectivamente por Camilo Santana, Leila Denise, Laércio Cavalcante, Miriane Alves e Luciomar Monteiro – socializarem brevemente sobre a atuação de cada movimento frente às crises ambiental e climática, no intuito de trazerem uma análise da luta e atuação de cada movimento. E, a partir dessa análise, identificar suas intersecções e atravessamentos, tornando possível definir quais serão os pontos focais da Via Campesina em Rondônia.

Após a socialização das atuações dos movimentos, houve o momento de discussão em grupo, para debater os próximos passos da Via Campesina no estado e a elaboração coletiva de uma síntese.

Roda de conversa com representantes do MAB, MPA, MST, CPT e MMC durante o seminário. Foto: Klézi Martins / MAB
Roda de conversa com representantes do MAB, MPA, MST, CPT e MMC durante o seminário. Foto: Klézi Martins / MAB

Durante a noite do primeiro dia de seminário (01/09), foi realizado o Lançamento do minidocumentário da 8ª Festa Camponesa da Via Campesina em Rondônia, que aconteceu nos dias 27, 28 e 29 de junho de 2025 em Jaru (RO) e foi produzido colaborativamente pelo Coletivo de Comunicação da Via Campesina em Rondônia e o Grupo de Rádio Educação e Cidadania (REC) da Universidade Federal de Rondônia (UNIR). O lançamento aconteceu na Sede do Movimento Indígena de Rondônia e contou com a participação dos militantes do interior do estado, comunidade acadêmica e público geral de Porto Velho.

Público na atividade de lançamento do minidocumentário da 8ª Festa Camponesa. Foto: Evelyn Morales / UNIR
Público na atividade de lançamento do minidocumentário da 8ª Festa Camponesa. Foto: Evelyn Morales / UNIR

No dia seguinte, foi dada a continuidade nas discussões em grupo para elaboração e apresentação da síntese geral, que foi sistematizada pela coordenação a partir das trocas nos grupos, e feito o debate coletivo em plenária para a sistematização final.

Após os encaminhamentos do seminário, o encontro finalizou com uma visita à comunidade de Betel, base do MAB onde está sendo implementado o projeto Sanear Amazônia. A visita teve como objetivo apresentar o processo de implementação do projeto, que é piloto em Rondônia. 

Militantes da Via Campesina em Rondônia com equipe do projeto Sanear Amazônia e atingidos da comunidade de Betel.  Foto: Klézi Martins / MAB
Militantes da Via Campesina em Rondônia com equipe do projeto Sanear Amazônia e atingidos da comunidade de Betel.  Foto: Klézi Martins / MAB

Neste momento histórico de articulação e planejamento entre movimentos do campo, das águas e das florestas, a Via Campesina em Rondônia segue ainda mais unida na mitigação e no enfrentamento às diversas crises criadas e agravadas pelo capitalismo, firmes nos gritos que ecoaremos em novembro na Cúpula dos Povos.

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