Transição energética: o problema não está na tecnologia de produção, mas no modelo capitalista
Seminário debateu formas de construir um modelo de transição energética que atenda as necessidades e os direitos das populações, levando em conta o forte apelo da burguesia em cima do tema
Publicado 19/09/2025 - Actualizado 23/09/2025

No seminário nacional “Realidades e Perspectivas da Transição Energética na Ótica dos Trabalhadores”, realizado na última quarta-feira (17), pela Plataforma Operária e Camponesa da Água e Energia (POCAE), que reuniu movimentos populares, institutos de pesquisa, sindicatos, organizações da sociedade civil e partidos políticos, debateu a transição energética como produto de soberania popular, ferramenta para as lutas da classe trabalhadora e as perspectivas para os movimentos populares, a partir de uma análise histórica e geopolítica.
Dorival Gonçalves Júnior, professor de engenharia elétrica da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), , explicou que na década de 1960, o surgimento de um movimento ambientalista representou uma reação ao modelo capitalista que trata a natureza como um mero recurso. Esse movimento, enraizado na classe trabalhadora e em discussões sobre desigualdade, questionou a sustentabilidade do crescimento econômico ilimitado. A resposta do setor dominante foi, por sua vez, a realização da Conferência de Estocolmo, que focou em soluções baseadas em ciência e tecnologia para manter a estrutura econômica da época.
De acordo com o professor, a transição energética não pode ser vista apenas como uma mudança técnica, mas como uma reestruturação da própria sociedade para garantir que essa transição atenda aos interesses da maioria, e não apenas à maximização do lucro. É fundamental que a classe trabalhadora se aprofunde no debate e construa uma representação política que defenda seus próprios direitos.

“A transição energética é uma criação capitalista, construída em cima da ciência natural; uma forma de compreender relações causais, que tira toda intencionalidade do processo. Precisamos construir intencionalidade social, capacidade de crítica para qualificar esse debate”, afirma Dorival Júnior.
Como exemplo dessa estrutura de transição energética fundada no capitalismo, o professor citou o custo de produção da energia no Brasil, que é muito baixo em comparação a outros países com economia semelhante. Isso porque nossas matrizes energéticas são, em maioria, de fontes naturais, como as hidrelétricas e eólicas. Mesmo assim, temos tarifas extremamente altas em razão de um preço fixado pelo câmbio internacional de energia. Uma política da década de 1990 que nunca foi revisitada pelo Estado.
Conhecimento como campo de luta

Na última etapa do seminário, o grupo apresentou um texto que servirá de base para o documento sobre a transição energética justa e popular da POCAE. Os responsáveis por esse ciclo foram Bárbara Bezerra, da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Fabíola Antezana, do Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE), Gilberto Cervinski e Luiz Dalla Costa, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). No conteúdo ficou expresso que a transição energética também está em discussão para a burguesia, que pretende capitanear o discurso na sociedade, e que a raiz do problema, ao contrário do que se prega nos grupos hegemônicos, não está na tecnologia de produção de energia, mas no modelo capitalista que subjugam às populações e territórios.
“É preciso uma visão de sociedade centrada em propostas e projetos concretos, uma visão material das necessidades do povo, de onde poderemos partir para construir o mundo que desejamos”, concluiu Dorival.
O documento formulado a partir da Plataforma, discutido coletivamente com todas as entidades presentes no seminário, será apresentado tanto na Cúpula dos Povos quanto na Conferência do Clima – COP30 -, em Belém, no Pará, em novembro deste ano, quanto os temas centrais envolvendo a emergência climática e o meio ambiente terão palco e protagonismo para todo o mundo.
Participaram do seminário:
Central Única dos Trabalhadores (CUT)
Centro Martin Luther King
Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT)
Conselho dos Povos Maia
Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ)
Federação Única dos Petroleiros (FUP)
Federação Nacional dos Urbanitários (FNU)
Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep)
Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc)
Justiça Ambiental do Moçambique
Marcha Mundial das Mulheres (MMM)
Movimento Camponês Popular (MCP)
Movimentos dos Atingidos por Barragens (MAB)
Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)
Movimento pela Defesa do Acesso à Água
Rede de Vigilância Popular em Saúde e Saneamento, Sindicato dos Trabalhadores na Empresas de Energia (Sintergia)
Partido Comunista do Brasil (PCdoB)
Terra e Proteção Ambiental (Modatima)
Rondas Campesinas
Sindicato dos Petroleiros (Sindipetro)
Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Energia Elétrica (Sinergia)
Sindicato dos Urbanitários de Rondônia (Sindur)
